Na guerra pela sucessão estadual, cada dia é uma nova batalha. E cada batalha parece o auge da disputa. Parece. O ápice do confronto entre os grupos que pleiteiam o comando do Palácio das Esmeraldas ainda está por vir. A campanha oficial só começa em julho e os candidatos nem estão postos. Mas os ânimos estão acirrados. Tucanos e pepistas se atacam mutuamente, enquanto peemedebistas assistem a ruína da base no camarote. As trocas de farpas entre eles há muito deixaram de ser novidade. No entanto, elas evidenciam o discurso e a estratégia de cada grupo e reafirmam o que todos já sabem: a disputa de 2010 será briga de cachorro grande.

As apostas nas candidaturas do senador Marconi Perillo (PSDB) e do prefeito Iris Rezende (PMDB) são altas. Na Nova Frente, dois nomes da confiança do governador Alcides Rodrigues (PP) se destacam: os secretários da Fazenda, Jorcelino Braga (PP), e de Segurança Pública, Ernesto Roller (PP). Além dos auxiliares pepistas, o governador mantém diálogo com os deputados Sandro Mabel (PR) e Ronaldo Caiado (DEM). Com tantas possibilidades, fica uma pergunta: quem vai encarar o teste das urnas?
Na Nova Frente, sobretudo nos últimos dias, o nome do titular da Sefaz ganhou destaque. A questão é saber se Braga, sendo candidato, vai manter a postura atual, combativa, e até quando seu alvo preferencial, Marconi, vai continuar na defensiva, delegando a ofensiva aos aliados.

Por ora, a rotina é uma só: sempre que um tucano levanta a voz contra o governo, Braga reage; e a cada hora em que ele se pronuncia e alfineta Marconi, ou critica suas gestões, tucanos de toda ordem partem em sua defesa e tentam desqualificá-lo, dizendo que ele não fala em nome do governo. E, toda vez que os tucanos tentam menosprezar Braga, o governador aparece e dá respaldo ao auxiliar, mostrando que ele fala, sim, pela gestão estadual.

Enquanto o pepista e os tucanos digladiam, Marconi se mantém alheio ao debate ou, em algumas ocasiões, rebate os adversários pelo twitter, sem citar nomes. A ferramenta da internet também é usada pelo senador para agradecer o apoio de aliados, que sempre respondem prontamente as críticas endereçadas a ele.

O fato é que o tucano tem evitado o confronto direto com Braga. Afinal, o pepista ainda não se apresenta como candidato. Se na defensiva a imagem de Marconi sai arranhada, partindo para o embate o desgaste, certamente, será maior ainda. Assim, ele não responde às críticas do secretário e as trata com ironia, para tentar minimizar seus efeitos.

Discursos
No meio do fogo cruzado entre pepistas e tucanos, fica evidente a estratégia e o discurso de cada grupo: as reações de Braga, neste momento, servem para o governo avaliar as vantagens e desvantagens de uma candidatura mais agressiva, a receptividade por parte da população e o grau do estrago que a comparação entre os governos Alcides e Marconi pode fazer na candidatura marconista. Afinal, o governador está muito confiante de que pode provar, com números, que o atual governo é melhor que o anterior.
Por outro lado, a estratégia dos tucanos também é visível: diante das acusações do pepista, Marconi está posando de vítima. O tucano sempre faz questão de ressaltar que quer a paz entre o PP e o PSDB e que defende a união da base, apesar dos pesares. Com essa postura aparentemente parcimoniosa, sustentando o discurso da paz, os tucanos pretendem difundir a ideia de que tentaram superar as diferenças, mas foram traídos por Alcides. As estratégias dos dois grupos está muito clara. Resta saber qual dos dois vai conseguir sustentar o discurso e ser mais convincente aos olhos do eleitor.

Alternativas no jogo
À parte Braga ter partido para o confronto direto com os tucanos, os demais possíveis candidatos da Nova Frente também demonstram disposição para enfrentar os titãs do PSDB e do PMDB. Todos, inclusive, afirmaram publicamente que não vão fugir do debate. Mas a avaliação de aliados do Palácio é de que Roller e Braga são as melhores opções para o pleito estadual. Ambos são da inteira confiança do governador e podem dar trabalho aos adversários.

Os perfis são bem diferentes: Braga não é homem de meias palavras e sua candidatura, no mínimo, vai esquentar ainda mais o debate. Roller, por outro lado, é mais comedido e evita o confronto direto, sempre que pode.

Se a estratégia do governo é realmente comparar as gestões de Alcides e Marconi, evidenciar os números e partir para o embate com o PSDB, então a Nova Frente deve lançar Jorcelino Braga. O secretário já mostrou que não tem medo de ir para o combate e não poupa munição aos tucanos.

Na última semana, durante entrevista para apresentação das contas do Estado em 2009, Braga, ao ser questionado por um repórter sobre o fato de Marconi ter dito que o governo mente ao falar em deficit de R$ 100 milhões mensais herdado de sua gestão e que isso será desmentido na campanha, chegou a chamar o senador de “mentiroso de mão cheia”, e reafirmou os números. A disposição do pepista em encarar a briga é visível e, por mais que o senador se esquive, sua imagem sai arranhada. O desgaste é inevitável.

Por outro lado, se a tática do Palácio é evitar o confronto direto com o PSDB, o PP pode adotar um discurso mais comedido, focar nas obras e na melhoria da popularidade do governo e trabalhar para levar vantagem na briga direta entre PSDB e PMDB. Afinal, com certeza não faltará munição entre tucanos e peemedebistas. Nunca falta.

Um candidato discreto, aos moldes de Alcides, pode correr por fora e conseguir se beneficiar desse confronto histórico. Porém, mesmo na defensiva, é difícil fugir do embate. Desde que o nome de Roller foi cogitado para a disputa, casos de violência no Estado passaram a estampar as capas de jornais e foram destaque nos telejornais. Coincidência?

A segurança pública sempre foi uma das principais demandas da sociedade. O comando de uma pasta como essa tem todas as chances de trazer mais ônus que bônus. Mas traz também visibilidade. O desafio de Ernesto Roller não é fácil, mas se ele conseguir manter a situação sob controle, tem grandes chances de encabeçar a chapa governista no pleito estadual.

O governador, inclusive, tem feito a parte dele: comprou novas viaturas, que estão sendo distribuídas em todo o Estado, e aprovou um pacote de benefícios para a Segurança Pública. É um investimento em segurança, porém não deixa de ser igualmente um investimento político-eleitoral.

PR e DEM
Nos bastidores, a crença é de que Mabel e Caiado devem tentar a reeleição à Câmara dos Deputados. Embora ambos tenham demonstrado interesse pela disputa, há quem duvide dessa intenção. Há quem duvide até da intenção do DEM e do PR de caminharem com a Nova Frente. Embora Caiado tenha dificuldades em apoiar Marconi e negue interferência do partido para a repetição da aliança nacional no Estado, alguns democratas não escondem o desejo de apoiar a candidatura do senador tucano.
Com o PR, a situação é mais complicada: há rumores de que Mabel tenha o interesse de compor chapa com o prefeito Iris Rezende (o senão é se o candidato do PMDB for Henrique Meirelles). No Paço, a expectativa geral é de que o partido pode aderir à candidatura irista.

No entanto, há republicanos que também não descartam apoio ao PSDB. O próprio vice-governador, Ademir Menezes, sempre foi aliado do tucano, o que dificulta, inclusive, a saída de Alcides do governo antes do fim do mandato, para pleitear uma vaga ao Senado ou apenas para fortalecer o PR. Afinal, não se pode descartar a hipótese de Ademir assumir o governo e apoiar Marconi.

Isso não significa que PR e DEM não sejam fortes aliados do governo. Pelo contrário: tanto Mabel quanto Caiado sustentam o discurso de união da Nova Frente para a disputa estadual e defendem o governo dos ataques tucanos. Daí seus nomes não estarem descartados.

Breve histórico do conflito

28/12

* O senador Marconi Perillo (PSDB) se disse estarrecido com as obras não concluídas no Estado, a exemplo do Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia. O tucano afirmou que pouco pode fazer, a não ser “entregar nas mãos de Deus”. Nem mesmo participar das inaugurações de obras do atual governo o senador diz ser possível porque, segundo ele, sua presença é proibida pelo cerimonial do Palácio das Esmeraldas.

29/12

* O secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, respondeu às críticas do tucano: “estarrecedor é deixar contas para outros pagarem, como o senador fez e não diz. Estarrecedora foi a situação no Estado herdada pelo governo Alcides”.

30/12

* O deputado Carlos Lereia (PSDB) respondeu, em nota, às críticas de Braga ao senador: “O secretário da Fazenda às vezes confunde administrar a Fazenda pública estadual com as fazendas que ele muito bem conhece”. No final da nota, o próprio Marconi cita Ulysses Guimarães, a respeito de traição na política: “O dia do benefício é a véspera da ingratidão.”

02/01

* O senador Marconi Perillo postou em seu twitter: “Reflexão para o início do ano: o esporte predileto do traidor é buscar desesperadamente desculpas que justifiquem sua atitude de covardia”.

04/01

* O presidente do PP goiano, secretário Sérgio Caiado afirmou que a frente alcidista deve definir candidato em abril ou maio, e aproveitou para alfinetar os adversários: “A população goiana já conhece bem os políticos que mentem, enganam”.

07/01

* Jorcelino Braga admitiu que pode ser candidato ao governo: “Se o governador pedir e os partidos entenderem que posso aglutinar todos, não recusarei uma candidatura.” E completou: “A eleição em Goiás, a exemplo da presidencial, será focada no modelo de gestão que o eleitor quer para o poder público. Vamos comparar gestões”. Enquanto isso, deputados do PSDB deflagraram a campanha “Volta” no Twitter, numa referência à candidatura marconista ao governo.

12/01

* Deputado Daniel Goulart, vice-presidente do PSDB: “Jorcelino Braga (PP) acha que o governo Alcides só começou depois de sua posse na Sefaz.”

13/01

* Braga critica Marconi: “O PSDB fala de mitomoania, mas a mentira acabou em Goiás em 31/3/2006 (data em que Alcides assume o governo). Só a papelada de autorizações não cumpridas pelo então governador Marconi daria para encher o Centro Administrativo de Goiânia”.

14/01

* O deputado Carlos Lereia (PSDB) respondeu Jorcelino Braga (Sefaz-PP), que havia defendido Maguito, sobre a venda de Cachoeira Dourada: “Ele virou o novo porta-voz de Maguito. Como diz Chico Buarque, é o malandro profissional.”

15/01

* Braga rebateu as críticas de Leréia: “A hora em que a população de Goiás tomar conhecimento do conteúdo que está em apuração pela Justiça, será facilmente identificado quem é e o que fez o malandro profissional de Goiás e todos seus cúmplices.”

16/01

* O governador afirmou que o próximo governo vai receber as contas do Estado sem um centavo de restos a pagar. “Será histórico em Goiás”, cutucou.

17/01

* O deputado estadual Daniel Goulart criticou Braga e disse que “governo Alcides é em boa parte responsável pela crise da Celg ao priorizar, segundo o relatório da Fipe, o pagamento de fornecedores e não o setor elétrico”. De acordo com ele, “os governos do PSDB investiram na Celg e foram responsáveis pelo pagamento do setor elétrico”. “Agora só querem pagar os contratos dos amigos”, disparou.

19/01

* Do prefeito de Luziânia, Célio Silveira (PSDB): “Tentam dividir a base, mas não terão tempo de avançar nisto nem de desconstruir a imagem dos governos Marconi”

20/01

* Braga disse que “Marconi é um mentiroso de mão cheia”. Mais: “Ele (Marconi) é um ator nato, que vive representando papel de vítima. Em eleição é comum essa enganação, manipulação. Um fórum seria bom para definir pessoas, como o Conselho de Economia, Polícia Federal…porque como é que um governo apresenta restos a pagar de quase R$ 1 bilhão e não tem deficit? Só para ameba, para quem não tem pensamento”.

Os tucanos rebateram o secretário:

* Raquel Teixeira: “São muito estranhos os cálculos que ele faz. Cálculos que crescem a cada dia, dívida que vai de R$ 50 a R$ 100 milhões de um dia para o outro. Não acredito nesses números. Não acredito nele”. “Ele (Braga) tem tentado desqualificar pessoas em vez de discutir fatos. Ele precisa é ler o relatório, averiguar os números. Precisa comprovar os números, já que cabe ao acusador o ônus de sua acusação.”

* Nota do diretório do PSDB: “Mais uma vez, o secretário de Estado da Fazenda de Goiás, sem provar nem mesmo os números que apresenta, busca, em vão, desconstruir (não conseguiu e não conseguirá) a imagem do senador Marconi Perillo, mostrando a toda a sociedade o seu próprio e irresponsável perfil, que todos comentam”.

* Resposta de Leréia: “Braga é um homem público que nunca obteve nenhum voto sequer e nem possuiu prestígio algum com o povo goiano. Ele apenas entrou no governo para enriquecer à custa do cofre público.” “O governador Alcides colocou a raposa para tomar conta do galinheiro”

21/01

* Governador Alcides respalda o que diz secretário da Fazenda: “O secretário Braga não mente. É um homem sério e não mente. Ele tem dados que corroboram com o que disse. É sério, zeloso pela coisa pública e não mente”. Quem também respaldou Braga foi o deputado Ronaldo Caiado (DEM): “Apenas respondeu provocações. A iniciativa dos ataques não partiu do secretário.”

Anapaula Hoekveld, do Tribuna do Planalto)