A Universidade Federal de Goiás (UFG) se prepara para escolher os nomes que vão liderar a instituição entre 2026 e 2029. A eleição será nos dias 24 e 25 de junho, e o processo de sucessão já movimenta bastidores dentro da universidade. A atual reitora, Angelita Pereira de Lima, deixa o cargo no fim deste ano. O edital da consulta pública foi publicado na última semana e abre espaço para novas candidaturas em um contexto de grave crise orçamentária e instabilidade na gestão das universidades federais.

Dois nomes com histórico recente de protagonismo institucional aparecem como possíveis candidatas: as professoras Sandra Mara Chaves e Maria Clorinda Soares Fioravanti. Em 2021, Sandra Mara venceu a consulta à comunidade acadêmica com 3.309 votos, mas não foi nomeada reitora — a escolha recaiu sobre Angelita, a terceira colocada da lista tríplice, por decisão do então presidente Jair Bolsonaro. Agora, com o compromisso do governo Lula de respeitar os resultados das universidades, cresce a expectativa de que o nome mais votado seja efetivamente nomeado.

Cenário de crise marca início do processo

A nova eleição na UFG ocorre em meio a um cenário de forte instabilidade orçamentária. A universidade vem enfrentando sucessivos cortes em seu orçamento desde 2016, com agravamento nos últimos anos. Relatórios internos indicam dificuldades para manter serviços básicos, como segurança, limpeza, energia elétrica e o funcionamento de laboratórios. Além disso, bolsas e programas de permanência estudantil estão ameaçados por falta de recursos.

O edital da consulta foi publicado na última semana, e as datas já estão definidas: as chapas devem se inscrever entre os dias 20 e 21 de maio; a votação será realizada nos dias 24 e 25 de junho. Participam docentes, técnicos administrativos e estudantes da graduação e pós-graduação. A eleição será feita pelo sistema SIGEleição, com possibilidade de votação presencial para aposentados sem acesso ao sistema eletrônico.

Quais possíveis nomes na disputa?

Dois nomes já aparecem como potenciais candidatas e articuladoras de chapas: Sandra Mara Matias Chaves e Maria Clorinda Soares Fioravanti.

Sandra Mara é professora atuou como pró-reitora de Graduação entre 2006 e 2013, período no qual coordenou a Comissão de Reestruturação e Expansão das Universidades Brasileiras (REUNI), que dobrou o número de vagas da UFG e permitiu a criação de novos cursos.. Em 2021, ela encabeçou a chapa que venceu a consulta à comunidade acadêmica com 3.309 votos, liderando a lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação. Apesar disso, não foi nomeada pelo então presidente Jair Bolsonaro.

Maria Clorinda já foi diretora da Escola de Veterinária e Zootecnia. Já disputou eleições anteriores e é apontada por setores da comunidade acadêmica como nome capaz de articular uma gestão voltada à democratização interna e à valorização das políticas de inclusão.

Como funciona a eleição na UFG?

A consulta da UFG é realizada por meio de votação direta, secreta e paritária entre os três segmentos: docentes, técnicos administrativos e estudantes. Cada grupo representa um terço do peso total da apuração.

Após a consulta, os três nomes mais votados compõem a lista tríplice. O Conselho Universitário (Consuni) é o responsável por homologar essa lista e enviá-la ao Ministério da Educação e à Presidência da República. O presidente da República tem liberdade para nomear qualquer um dos três nomes, mas a expectativa é que o primeiro colocado seja respeitado — o que não ocorreu na eleição anterior.

A lista tríplice e o episódio de 2021

Em 2021, a chapa de Sandra Mara Chaves venceu a consulta com 3.309 votos. A lista tríplice foi composta por três chapas, como de praxe, e enviada ao Ministério da Educação. No entanto, o então presidente Jair Bolsonaro optou por nomear Angelita Pereira de Lima, terceira colocada, contrariando o desejo da maioria da comunidade acadêmica.

A decisão causou forte reação dentro da universidade, com manifestações de sindicatos e estudantes. Desde então, cresceu a cobrança por respeito à autonomia universitária nas nomeações.

O atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou que pretende respeitar o resultado das universidades. Até agora, nas nomeações realizadas em seu terceiro mandato, tem escolhido os nomes mais votados nas consultas internas.

O que está em jogo na sucessão

A gestão que assume em 2026 terá um cenário desafiador. A universidade precisa garantir sua sustentabilidade financeira, ampliar as políticas de permanência estudantil, fortalecer a pós-graduação, defender sua autonomia e manter sua relevância científica em meio a crescentes pressões externas.

A escolha do novo(a) reitor(a) definirá não apenas o perfil administrativo da universidade, mas também sua inserção política no cenário nacional, sua capacidade de articulação por recursos e sua posição diante de temas como diversidade, democracia interna e papel social da universidade pública.

Linha do tempo – Eleições na UFG

  • 2017 – A professora Sandra Mara Chaves é eleita vice-reitora na chapa de Edward Madureira.
  • 2018 – Assume como reitora após Edward se afastar para assumir cargo no MEC.
  • 2021 – Lidera chapa vencedora da consulta pública, com 3.309 votos.
  • 2021 (dezembro) – Jair Bolsonaro nomeia Angelita Pereira de Lima, terceira colocada, como reitora.
  • 2022 – Angelita assume a reitoria, iniciando mandato até o fim de 2025.
  • 2025 – UFG organiza nova consulta; candidaturas devem ser registradas até 21 de maio; votação em 24 e 25 de junho.

Participação será decisiva

A Comissão Organizadora da Consulta reforça a importância da mobilização da comunidade acadêmica. A lista de eleitores será publicada até 13 de junho, e a campanha se inicia após a homologação das chapas. O processo eleitoral segue regras rigorosas, com proibição de propaganda em veículos comerciais, uso de brindes ou recursos institucionais da universidade.

O resultado da consulta será encaminhado ao Conselho Universitário e, posteriormente, ao Ministério da Educação. Com a sinalização do governo federal de que respeitará os resultados das universidades, o voto da comunidade da UFG tem potencial de ser decisivo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de Qualidade.