Arena Repense discute inteligência financeira entre jovens: “Poupar é a nossa renda menos o nosso ego”

Em um mundo onde o imediatismo dita o ritmo das decisões, principalmente entre os jovens, a educação financeira surge como um antídoto poderoso. Foi esse o tema central da edição mais recente da Arena Repense, programa transmitido diretamente do auditório da Renapsi, com transmissão simultânea pela Sagres TV.

O evento propôs um diálogo sobre as decisões cotidianas que impactam diretamente o bolso – desde o pix por impulso até a fatura do cartão estourada. A abertura ficou por conta da jovem Thaynara Gomes, aprendiz da Renapsi e estudante de Administração, que trouxe uma fala com experiências pessoais e dicas práticas.

“Não existe esforço mínimo para quem quer o máximo”, destacou, logo no início da sua fala, explicando como os cursos de Finanças Pessoais e sobre superendividamento a ajudaram a transformar sua relação com o dinheiro. Ela apontou o comportamento de consumo como reflexo direto de uma cultura imediatista, na qual o desejo por status pode ser um fator determinante para o endividamento precoce.

“A gente quer a admiração e o respeito das pessoas. E isso faz com que, às vezes, a gente queira comprar um celular bom, uma roupa cara. Mas o nosso paladar não retrocede. Quando experimenta o ótimo, o bom não serve mais”, afirmou. Durante sua fala, a jovem compartilhou o impacto do seu primeiro salário, uma experiência comum entre muitos jovens: o impulso de gastar tudo com lazer e desejos imediatos, e a frustração de, em pouco tempo, perceber que não havia mais recursos para necessidades básicas.

“Eu falava: nossa, eu não tenho mais dinheiro! Ia tomar um açaí, sair com os amigos e depois não tinha nem para comprar um sapato decente. Isso é muito ruim”, contou. Como forma de organizar suas finanças, Thaynara adotou uma planilha simples, dividida entre gastos fixos, variáveis e lista de desejos.

Ela explicou que essa organização tem sido essencial para diferenciar o que é essencial do que é supérfluo — e também para evitar compras impulsivas. “Tem coisas que você anota na lista de desejos e, uma semana depois, nem quer mais. Você olha e pensa: ‘isso não combina mais comigo’”, explicou.

Ela também alertou sobre as chamadas “armadilhas digitais”, como aplicativos de comida ou lojas online. Sua solução? Simples, mas eficaz: “Pode parecer radical, mas eu desinstalo os aplicativos. Quando sobra um dinheiro, aí sim eu volto, mas só se for necessário.”

Outro ponto abordado foi o incentivo à prática do investimento, mesmo com valores baixos. “Pode ser R$ 10. Hoje parece pouco, mas se você investir, amanhã pode valer muito. Não pense que investir é só com muito dinheiro”, afirmou, incentivando o uso das “caixinhas” de economia oferecidas por aplicativos bancários.

Psicologia financeira

A convidada Luara Fernandes, que é psicóloga financeira, trouxe à plateia jovem reflexões sobre o comportamento financeiro. “Dinheiro não é só matemática. Se fosse, bastava gastar menos do que ganha e poupar. Mas por que não conseguimos fazer isso?”, questionou Luara, logo no início da conversa.

Segundo ela, entender como emoções, crenças e pressões sociais impactam as escolhas financeiras é o primeiro passo para mudar hábitos e alcançar equilíbrio. A especialista explicou que as emoções têm papel central nas compras impulsivas.

“Eu estou triste? Eu compro. Estou alegre? Compro para comemorar. Ansiosa? Compro para distrair. E isso acontece porque o ato de comprar libera dopamina, o hormônio do prazer”, detalhou. Luara compartilhou um episódio pessoal para ilustrar.

“No meu pós-parto, comecei a colocar várias roupas no carrinho de compras online. Não comprava, mas era como um alívio. Até perceber que eu não estava triste pelas roupas. Eu estava me sentindo sozinha, feia, cansada.” Para ela, o segredo é se perguntar antes da compra: “Para que eu quero isso? Qual é o sentimento por trás?”

Crenças herdadas e limitantes

Além das emoções, crenças familiares e culturais também moldam nossa relação com o dinheiro. “Quantos aqui já ouviram ‘dinheiro não cresce em árvore’? Ou ‘rico não entra no reino dos céus’? Se crescemos ouvindo que dinheiro é ruim ou difícil, inconscientemente nos sabotamos para não prosperar”, alertou.

Ela destacou que essas crenças, muitas vezes passadas por figuras importantes como pais e líderes religiosos, criam barreiras mentais. “Se eu acredito que dinheiro só vem com sofrimento, eu não vou buscar formas inteligentes de ganhar mais, estudar sobre investimentos ou me desenvolver profissionalmente”.

As redes sociais também foram alvo de crítica. “A gente vê o Neymar com um tênis caro e acha que, se usar o mesmo, vai ser tão bem-sucedido quanto ele. Mas esquecemos que ele chegou lá antes de ter tudo aquilo. Primeiro ele foi, depois ele teve”, pontuou. Luara reforçou que muitos jovens compram itens caros para “pertencer” a um grupo.

“A vontade de ser aceito faz a gente gastar com coisas que nem precisa. E, no fim, ainda assim pode continuar se sentindo excluído”, disse. Ao final da conversa, a psicóloga reforçou que o verdadeiro trabalho começa com o autoconhecimento.

“Se você identifica suas emoções, entende suas crenças e percebe suas influências, já tem metade do caminho andado. A matemática financeira é simples. O difícil é o comportamento.” Ela também lembrou que questões de saúde mental como TDAH, transtorno bipolar e até mesmo a TPM podem afetar a forma como lidamos com o dinheiro.

“Tudo isso precisa ser levado em conta para alcançar uma vida financeira saudável.” Luara encerrou sua participação com uma frase que sintetizou todo o seu discurso: “Não é ter para ser. É ser para ter.”

Plateia

Como lidar com o primeiro salário? É possível investir ganhando um salário mínimo? A falta de dinheiro pode afetar a saúde mental? Essas foram algumas das perguntas levantadas durante o Arena Repense. Durante o programa, Guilherme, de apenas 15 anos, questionou:

“Com a desvalorização da moeda, você acha que um salário mínimo dá para manter uma família com cinco pessoas e ainda investir?”, questionou. Thaynara respondeu: “É muito pouco mesmo. Mas com organização, é possível guardar um pouco. Minha mãe, por exemplo, era diarista, ganhava pouco, mas anotava tudo. Isso me inspirou”.

A psicóloga Luara também abordou como a falta de dinheiro afeta os relacionamentos familiares: “A ausência de dinheiro impacta diretamente a autoestima e pode gerar conflitos. O caminho é a comunicação clara e respeitosa dentro de casa. Não precisa dizer tudo para as crianças, mas os jovens já podem participar dessas conversas e ajudar a pensar soluções”.

Do público online, Maria Eduarda e André Cauê quiseram saber como controlar gastos e evitar compras por impulso. Thaynara reforçou a importância das planilhas: “Liste seus gastos fixos e variáveis, anote seus desejos e, depois de um tempo, avalie se ainda quer aquilo. Muitas vezes, vai perceber que nem faz sentido mais”.

A conversa também tratou dos perigos do cartão de crédito e do consumo descontrolado. “Quanto menos cartões, melhor. A gente se empolga com limite alto, mas é fácil perder o controle”, alertou Thaynara. Já Luara lembrou: “Sem propósito, sem dinheiro. Se você não souber por que está guardando, não vai conseguir manter constância nos seus objetivos”.

Outra participação foi a de Raquel, 18 anos, que provocou reflexão ao mencionar como a globalização e as redes sociais influenciam o consumo e a identidade. “Parece que você precisa comprar coisas para ser alguém, e isso gera uma crise existencial”, disse. Luara confirmou: “Você falou tudo. O dinheiro está muito associado à identidade. Mas precisamos lembrar: eu sou, eu faço, depois eu tenho — e não o contrário”.

A jovem Catarina, de 19 anos, quis saber como desenvolver inteligência financeira ao longo da carreira. Para Luara, o segredo está em limitar o padrão de vida: “Conforme você ganha mais, aumenta os desejos. Se você não tiver propósito, vai gastar tudo. A inteligência financeira começa no pouco”. Thaynara completou: “Se você aprende a lidar com pouco, naturalmente vai saber lidar com mais”.

Para encerrar o programa, a jornalista Jéssica Dias, que mediou o programa, pediu uma dica final para quem está começando a vida financeira. Thaynara foi direta: “Veja o que você deve. Pague primeiro suas dívidas, depois pense em guardar ou investir”. Luara incentivou o estudo: “Busque conhecimento. Tem muito conteúdo gratuito na internet. Ninguém nasce sabendo, mas todo mundo pode aprender”.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade

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