A cidade pegou a fama de capital da música sertaneja e o fato é que o próprio estilo há muito perdeu suas características. O chamado “sonzão de raiz” não guarda qualquer semelhança com os sucessos atuais. Antes, quem tinha chifre era o “boi sem coração”; hoje, quem tem chifre é compositor. Antes, a mulher era endeusada em prosa e verso; hoje, a mulher é discriminada em frente e verso. Antes, para cantar era preciso ter voz; hoje, para cantar basta não temer o ridículo. Tudo isso seria suportável se não fosse obra do poder público, que incentiva a discriminação à mulher e a deturpação da cultura. Tudo isso passaria se ficasse no erro, mas tem o crime.

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Os governos, nos três níveis, federal, estadual e municipais, pagam shows bregas com dinheiro recebido em impostos. A denúncia está na capa desta edição do jornal A Rede e no portal730.com.br. Depois que a Rede Clube de Comunicação noticiou as falcatruas, o jornal O Popular também encampou as denúncias. Tomara que outros veículos também saiam a campo para colher dados sobre a pilantragem. De todas as malfeitorias trazidas à luz, as piores são as cometidas por prefeituras de municípios pobres. Prefeitos contratam shows com os reais que seriam da merenda e da reforma da escola. Gastam com duplas bregas a verba da saúde e da cultura, inclusive as carimbadas para os dois setores.

Doídas também são as desculpas de que esse equívoco incentiva o turismo. Não tem turismo nenhum nisso. Os farristas que saem de uma cidade para outra levam até a bebida. São comuns, na multidão, as caixas de isopor lotadas de cerveja, cachaça e energéticos. Tudo comprado sem nota em distribuidoras que sonegam num lugar bem longe do show. O tal turista não deixa um centavo sequer com os anfitriões.

A única coisa lícita nessa sujeira toda é supor que a Procuradoria da República e o Ministério Público do Estado estejam apurando cada gasto com show. São verbas que vêm de Brasília, que saem dos cofres do Estado e dos municípios. Caracteriza desvio de finalidade, pois o dinheiro é do turismo e isso não atrai turista; é dinheiro da cultura e isso não é cultura; é dinheiro da Educação e isso pode ser até turismo e cultura, dependendo de quem avalia, mas nunca seria Educação. Caracteriza improbidade, porque o cachê do artista geralmente é superfaturado por agentes e outros atravessadores.

Seria ótimo se Goiânia fosse mesmo a capital da música sertaneja, se houvesse uma música predominante no sertão e as autoridades fossem atentas a ele. Mas resta pouco sertão e, nele, pouca gente e menos gente fazendo e consumindo pouca cultura. Infelizmente. Enquanto isso, seu dinheiro é torrado com despesas inúteis, com picaretas empresários de artistas e outros ladrões.