Se a forma ideal de testagem para o coronavírus, para os atletas profissionais do futebol, está sendo alvo de debates, uma coisa é inegável, o benefício para os atletas e principalmente para aqueles que vivem ao seu lado são enormes.

O Atlético, primeiro clube goiano a lutar pela volta dos atletas ao trabalho, preferiu seguir o ritual de monitorar seus profissionais e as pessoas que voltariam junto com eles às atividades por 20 dias. O monitoramento foi feito pelo médico do clube, Gleider Sousa e só após este monitoramento o clube cuidou de realizar a testagem de todo grupo de trabalho, utilizando o chamado teste rápido, feito a partir da coleta de sangue na ponta do dedo, similar à conhecida forma usada para o teste de glicemia.

A lógica seguida pelo Atlético é científica: o vírus se manifesta em até 14 dias e o grupo foi monitorado por 20, e neste período quem estivesse contaminado apresentaria alguma alteração que exigiria do médico outros cuidados.

Sem mencionar nomes, o Atlético anunciou que três atletas tiveram alterações anotadas e receberam atenção especial, antes de ir para o ambiente aberto para os treinamentos padrões. O clube não informou qual foi a atenção especial dada aos três atletas, mas informou que, terminada a fase de testagem, não houve nenhum registro de contaminação pela Covid 19.

O Goiás, que resistiu ao retorno dos treinamentos, procurando mostrar a preocupação com a saúde dos atletas, não monitorou o grupo enquanto o retorno não foi autorizado. Inclusive seu técnico, Ney Franco, estava nos Estados Unidos, um dos epicentros mundiais da pandemia. No alviverde a testagem foi mais completa, com levantamento que possibilita a chegada ao DNA do vírus, o que basicamente deixa pouquíssima chance de haver a contaminação e esta não ser diagnosticada. No Goiás, oito das 60 pessoas testadas tiveram o resultado positivo para a contaminação: três jogadores e cinco outros funcionários.


A patologista Kátia Ramos Moreira Leite, diretora da Sociedade Brasileira de Patologia, disse ao jornal O Globo que mesmo existindo diferença de eficiência nos resultados de uma forma de testagem para outra, o fundamental é que em todas um profissional médico acompanhe e supervisione o processo: “A orientação se é pra fazer o teste, que tipo de teste fazer, em que momento a pessoa deve ser testada devem ser conduzidas por um profissional médico, que saberá interpretar o resultado” – aponta a patologista.

Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), também ouvido pelo O Globo, referendou a presença do profissional médico supervisionando a testagem como fundamental para a interpretação correta da testagem e sua eficiência, pois ele também concorda que há diferentes níveis de confiabilidade nos resultados, nos diferentes testes aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A exemplo do que aconteceu no Atlético, no Goiás a testagem foi supervisionada pelo médico do clube, Bruno Pavaron.

O infectologista goiano, Boaventura Braz de Queiroz, um dos mais respeitados do Brasil, numa entrevista feita por Rafael Bessa, Charlie Pereira e por mim, no programa esportivo Toque de Primeira, da Sagres, avalia que a testagem feita pelo Goiás dá um percentual maior de confiabilidade nos resultados.

O Vila Nova, que não voltou aos trabalhos ainda, já anunciou que vai seguir o modelo utilizado pelo Goiás. É sempre bom lembrar que os clubes só podem trazer seus elencos de volta ao trabalho seguindo, com rigidez, um protocolo padrão, elaborado por um quadro científico, exigido pela CBF.

Enquanto o debate sobre qual modelo de testagem deve ser usado pelos clubes é travado, uma reflexão mostra a importância da autorização dada pelo pelo prefeito de Goiânia, Iris Rezende, para o retorno dos clubes às atividades. Para retornar, independente do modelo escolhido, os atletas precisam ser testados e, como se sabe, atletas em função da sua condição física e alimentação especial, têm maior poder de resistência às viroses. O sistema imunológico deles é mais eficiente do que o das pessoas comuns.

Dos oito profissionais testados positivos no Goiás, nenhum apresentou qualquer sintoma. Dificilmente um atleta de futebol profissional vai apresentar sintomas. Justamente aí está o X da questão. Portadores do vírus, mas com a virose controlada pelo sistema imunológico, os atletas só saberão se estão ou não contaminados se fizerem o teste e sua imunidade defende seu organismo contra os efeitos do coronavírus, mas não impede que eles contaminem outras pessoas, inclusive as que estão no grupo de risco, onde muitos casos são letais. Voltar ao trabalho dá ao jogador o ganho de força necessário para o exercício da sua profissão, evitando as contusões.

Ninguém sabe ao certo ainda quando será o retorno dos jogos, mas todos sabem que um atleta do futebol profissional que excede 30 dias sem se exercitar, perde massa muscular, ganhando percentual de gordura que o expõe a contusões sérias, se não for corrigida esta questão da preparação física, e este é um fator importante para o retorno ao trabalho. Mas o mais importante mesmo é que o retorno vai dar ao atleta o conhecimento sobre a contaminação ou não pelo coronavírus e com este conhecimento, os que estiverem contaminados e sem sintomas, saberão que terão de ficar isolados para não colocar a vida daqueles que estão ao seu lado e não são atletas, em risco.