De acordo com dados da Prefeitura de São Paulo, cerca de 26% do território da capital paulista é composto de áreas verdes, incluindo espaços de preservação ambiental administrados por diferentes esferas do poder público. Apesar disso, especialistas afirmam que a arborização da cidade é insuficiente e enfrenta desafios na sua implementação e manutenção.

A presença de vegetação na cidade desempenha papel fundamental na mitigação de problemas como enchentes, poluição atmosférica e ilhas de calor. Além de promover bem-estar psicológico à população. No entanto, dificuldades como quedas de árvores, que causam interrupções de energia elétrica, falta de planejamento na escolha das espécies e manutenção inadequada seguem sendo questões recorrentes.

Impacto climático

Conforme a professora Helena Ribeiro, professora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, as árvores possuem grande impacto na melhoria do “ambiente atmosférico”, termo que abrange aspectos do clima e da composição do ar. “A arborização urbana funciona como um filtro, retendo partículas suspensas no ar e ajudando a diminuir a poluição. Além disso, reduz a temperatura, o que interfere nas reações químicas dos poluentes, principalmente os gases”, explica.

Um dos efeitos mais conhecidos do ambiente atmosférico urbano são as ilhas de calor, fenômeno em que regiões com menor cobertura vegetal apresentam temperaturas mais altas. Segundo Helena, o problema é histórico e também é observado em São Paulo. Ela cita melhorias na arborização ao longo das Marginais, por exemplo, que ajudaram a reduzir os extremos de temperatura registrados nessas áreas anteriormente.

De acordo com a professora Maria Anice Sallum, do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, as ilhas de calor também contribuem para a transmissão de arboviroses, como a dengue. O aumento da temperatura acelera o desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti e do vírus dentro do organismo do inseto, reduzindo o tempo necessário para que ele se torne um vetor da doença.

Políticas públicas

Para Demóstenes Ferreira, professor do Departamento de Ciências Florestais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, existem falhas no planejamento das calçadas paulistanas e esse é um problema central na discussão sobre a arborização. Ele sugere uma solução tecnológica chamada Soil Cells, ainda não implementada no Brasil, mas amplamente utilizada em outros países. Essa tecnologia consiste em estruturas plásticas que sustentam o piso das calçadas sem compactar o solo, permitindo a drenagem da água e o plantio adequado de árvores.

“O concreto das calçadas impede a respiração das raízes, que acabam se espalhando pela superfície, causando rachaduras e irregularidades. Além disso, as árvores ficam instáveis e mais suscetíveis a quedas em tempestades. Com as Soil Cells, é possível resolver problemas de enchentes, apagões e calçadas irregulares de forma integrada”, destaca.

*Texto de Julio Silva para o Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis.

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