O Pantanal já registrou este ano 70% das queimadas ocorridas no ano histórico de 2020. Naquele ano, o bioma registrou o maior incêndio num período anual de seca, que segundo o ICMBio, devastou uma área de 44.998 km2, ou pouco mais de 30% do território do bioma. Em 2020, a seca que ocorreu foi a maior  registrada em 60 anos. Mas em 2024, o dado é alarmante porque o inverno ainda não chegou e ele marca o período de maior intensidade de seca no Pantanal.

O que preocupa especialistas como o professor da USP, Pedro Luiz Côrtes, é que o Pantanal é um bioma que precisa do ciclo seco para se renovar, mas a ação humana irá piorar a intensidade das queimadas. Então, os números de 2024 até agora indicam para a possibilidade de um ano com recordes de queimadas no Pantanal.

“A progressão dos alertas de queimada tem sido cada vez mais intensa, contínua e bem acelerada. É importante lembrar que nós não entramos ainda no período tecnicamente mais seco, que é o inverno. Ainda estamos no outono, embora com esse clima de verão. Os prognósticos climáticos já indicavam que nós teríamos uma tendência de concentração de calor muito forte no Centro-Oeste, especialmente na região do Pantanal”, explicou. 

Transição de clima

Assim como todos os outros biomas do país, o Pantanal está passando por um período de transição entre o El Niño e o La Niña. O aumento de queimadas no território tem sido atribuído à mudança dos fenômenos naturais. 

“Infelizmente, esse tempo extremamente seco facilita a propagação dos focos de incêndio e nós temos aí uma questão: o fogo faz parte da renovação do bioma pantaneiro, do bioma do Cerrado. O problema é a intensidade, o fogo é natural, mas os impactos são muito severos”, disse.

Efeitos

Pedro Luiz Côrtes afirmou que os incêndios de 2020 comprometeram a recuperação do bioma. “Quatro anos depois, nós vamos ter uma repetição disso, talvez até com uma maior intensidade. Também há que se considerar fortemente aquelas questões de manejo de pastagem, que não podem sair do controle. Então, é fundamental a presença de fiscalização de brigadas de combate a incêndio”, destacou.

Outro efeito são as crises hídricas ocasionadas pela falta de chuvas durante o período seco. O professor da USP lembrou que, em 2014, São Paulo passou por crise hídrica porque os ventos do oceano Atlântico estavam impedindo a progressão das frentes frias que geram as chuvas.

“Isso gerou em 2014 a crise hídrica em São Paulo. Em 2020, tivemos eventos com características muito semelhantes aos de 2014, e agora, novamente, vemos essa repetição”, disse. Para Côrtez, as previsões climáticas são oportunidades para que hoje nos preparemos de forma mais efetiva para evitar danos. 

“Essas informações não implicam que a crise vai necessariamente ser manifestada da mesma forma que nos outros anos. Temos alertas climáticos em mãos e previsões bastante assertivas, é importante que os gestores públicos utilizem as informações”, finalizou.

*Com Jornal da USP

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 – Ação contra a mudança global do clima.

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