A confirmação de transmissão comunitária da variante Delta da Covid-19 em alguns estados do Brasil tem sido motivo de preocupação para as autoridades sanitárias. Cinco casos da nova variante já foram notificados em Goiás, que monitora a região do Entorno, pois Brasília confirmou a transmissão comunitária da nova cepa. Em entrevista à Sagres, o médico infectologista Marcelo Daher afirmou que a maneira de impedir o surgimento de novas variantes, que escapem das vacinas, é justamente com a imunização em massa.

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“O que acontece hoje, com o surgimento das variantes é porque o vírus ainda está em adaptação e como ele tem um terreno fértil de transmissão, ele vai se ajustando. E os vírus que são mais infectantes, que se adaptaram melhor, vão prevalecer. Se a gente aumentar a vacinação, inclusive imunizando adolescentes, a gente freia a transmissão e com isso diminui o aparecimento de variantes”.

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Um dos impedimentos para o avanço mais rápido da vacinação no Brasil é a capacidade de produção dos laboratórios. Marcelo explicou que os fornecedores querem vender, mas que há dificuldade para realizar a entrega na data prevista. Por isso, o infectologista acredita que uma nova avaliação poderia ser feita em relação à vacina russa Sputnik V. “Ela tem uma tecnologia parecida com a vacina da AstraZeneca e uma proteção muito boa. Se a gente liberasse mais uma vacina, que tem uma potência boa, nós somaríamos bastante”.

A importação da vacina Sputnik V para o Brasil não foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após avaliação realizada em abril deste ano. À época, a Agência alegou falta de dados consistentes e confiáveis para tomar a decisão. Segundo o Ministério da Saúde, os dados foram levantados e avaliados pelas equipes técnicas das gerência-gerais de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED), de Inspeção e Fiscalização Sanitária (GGFIS) e de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGMON).

Em junho, a vacina teve a sua importação liberada, mas em caráter excepcional, em quantidades específicas e apenas para Estados que fizeram aquisição do imunizante anteriormente (Bahia, Maranhão, Sergipe, Ceará, Pernambuco e Piauí). O uso só deve ocorrer em condições controladas e determinadas pela Anvisa. Sendo assim, a vacina ainda não pode ser usada de maneira mais ampla no Brasil.

Para o infectologista, após a primeira avaliação, houve uma politização do imunizante e isso pode ter feito a Rússia perder o interesse na negociação com Brasil.

Proteção contra as variantes

Apesar de ter mais capacidade de transmissão e ser considerada como uma variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Delta, até o momento, não mostra mais agressividade e nem que pode escapar com facilidade das vacinas.

“Essa mutação que aconteceu na variante Delta faz com que o vírus se encaixe melhor na célula, então é preciso uma menor quantidade do vírus para infectar outra pessoa. Quando a gente compara com a variante Gama (P1), que circula por aqui, talvez elas sejam até bem competitivas uma em relação a outra”, explicou.

O médico infectologista Marcelo Daher detalhou que as vacinas, provavelmente, oferecem uma proteção um pouco menor para as variantes, pois foram criadas com base na primeira cepa do vírus Sars-CoV 2, que surgiu em Wuhan. “É menor, mas existe e está acima de 50%”.