A variante Delta da Covid-19, que já é predominante em países como Reino Unido, Portugal e Israel é motivo de preocupação para as autoridades de saúde brasileiras. No Brasil, a nova cepa tem transmissão comunitária no Rio de Janeiro e também em Brasília. A superintendente de vigilância em saúde, Flúvia Amorim, afirmou em entrevista à Sagres que é praticamente impossível impedir a entrada de variantes em qualquer lugar hoje no Brasil, mas que ações podem ser tomadas para mitigar a transmissão.

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“A gente faz uma vigilância genômica, em que a gente coleta amostras de vários pacientes no Estado e faz o sequenciamento genético para avaliar a dispersão do vírus, se está focada em uma região ou outra. Neste momento, o que nos preocupa muito é a região do Entorno do Distrito Federal, porque há a transmissão comunitária confirmada no DF e ali nós temos um fluxo de pessoas muito grande”, explicou a superintendente.

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Sobre os casos em Goiás, a superintendente explicou que após um momento de estabilização, no alto, o Estado começa a passar por problemas quanto aos leitos de UTI. “Eu falo que a gente estabilizou com o copo praticamente cheio, ou seja, qualquer quantidade de água que cair ali transborda e é isso que a gente está vendo agora. A gente estava estabilizando em torno de 75% e 80% na ocupação das UTIs e quando há o aumento de transmissão em alguma região do estado, esse copo acaba transbordando, o que significa hospitais com taxa de ocupação em 100%”.

A superintendente afirmou que as atividades não essenciais podem continuar funcionando, mas que é preciso que todas as medidas sejam mantidas, pelo menos, até que 80% da população esteja vacinada.

Imunização

O Governo de Goiás abriu consulta de preços para aquisição de vacinas contra Covid para imunizar 1 milhão de pessoas no Estado. Flúvia detalhou que o Governo espera uma maior disponibilidade de imunizantes, a partir da ampliação de laboratórios pedindo autorização para as agências reguladores internacionais e para a Anvisa.

“Nós só podemos utilizar as vacinas que são autorizadas pela Anvisa, então é necessário que os laboratórios tenham disponibilidade de doses para serem vendidas, além das que eles já vendem para o Governo federal. Tendo a disponibilidade, Goiás já está com processo pronto, aberto, para receber propostas. E isso não vai acontecer de forma substitutiva, não compraremos doses para substituir vacinas do PNI (Plano Nacional de Imunização), mas sim para complementar”.

Desde o início do ano, quando vacinas contra Covid começaram a ser aprovadas, a possibilidade de compra pelos estados está em discussão. Em fevereiro, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) aprovou um crédito extraordinário de R$ 60 milhões para aquisição dos imunizantes, mas nenhuma compra foi efetuada, devido às regras dos próprios laboratórios e também do PNI. Apesar da expectativa de mais facilidade neste momento, a superintendente em Saúde, afirmou que ainda não é possível saber quando o Estado conseguirá adquirir as vacinas. “Não é possível saber porque dependemos da disponibilidade, mas a compra vai acontecer”.

Campanha

Com relatos de cidades que estão com a aplicação da 1ª dose paralisada, diante da falta de vacinas, a superintendente explicou que foi passada uma orientação para que todas as doses recebidas fossem aplicadas o mais rápido possível, mesmo que isso interrompesse temporariamente a vacinação.

“O ideal seria recebermos quantidades de doses suficientes para mantermos a vacinação sem interrupções, mas na impossibilidade disso, a orientação dada aos municípios é para utilização rápida. A gente verificou que em alguns locais os gestores municipais, para não ter interrupção, diminuem a quantidade de doses aplicadas por dia e isso não é o correto. Se recebeu mil doses e tem condições de aplicar todas em um só dia, que faça assim, esse é o correto”.

Goiás deve receber entre esta terça-feira (27) e quarta-feira (28) mais de 386 mil doses de vacina contra Covid. Flúvia detalhou que o Estado vai iniciar agora a aplicação da 2ª dose da vacina da Pfizer para quem recebeu o imunizante há três meses, além de seguir com a D2 para a AstraZeneca. A quantidade também deve ser suficiente para avanço da campanha com a 1ª dose.

Questionada sobre a antecipação na aplicação das doses da Pfizer, Flúvia afirmou que pode ocorrer, já que agora o Brasil tem recebido as doses em quantidades maiores. “O Brasil utilizou o modelo do Reino Unido, com intervalo de três meses entre as doses, porque assim há condições de ampliar o número de pessoas vacinadas com a primeira dose da vacina. […] Agora é possível reduzir esse intervalo e ter pessoas completamente imunizadas. Isso é uma estratégia de saúde coletiva”.

A superintendente de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, ainda criticou o fato do Estado de São Paulo projetar a aplicação de uma terceira dose da Coronavac. “Aqui no Brasil, a vacinação começou em janeiro, então é necessário ter uma clareza de quanto tempo dura a proteção da Coronavac com duas doses. Então, para indicar uma terceira dose, é preciso ter estudos que comprovem que depois de determinado tempo, essa proteção diminui e esses estudos ainda estão em andamento”.

Assista a entrevista no Sagres Sinal Aberto: