Há pouco mais de duas semanas, no dia 20 de novembro, enquanto o mundo voltava as suas atenções para o Catar e a abertura da Copa do Mundo, a edição mais estrangeira dos mundiais, acontecia uma partida histórica na Itália. Pelo menos assim foi para Siyad Ali Hussein.

No centro esportivo das categorias de base da Inter, em Milão, a equipe local enfrentou a Atalanta pela 10ª rodada do Campeonato Italiano Sub-17. Quando a bola rolou, os anfitriões golearam por 5 a 1. No entanto, o grande destaque do jogo não estava de azul e preto, e sim de rosa.

Se tratava de Siyad Ali Hussein, responsável por comandar a partida. Mas Hussein não era apenas mais um árbitro a apitar uma partida de futebol.

A partida entre Inter e Atalanta, pelo Campeonato Italiano Sub-17, foi a primeira de Siyad Ali Hussein como árbitro na Itália (Foto: Divulgação/AIA)
Da guerra ao futebol

Natural de Mogadíscio, capital da Somália, deixou a sua terra natal em busca de uma vida longe da guerra. E foi na região metropolitana de Milão onde encontrou refúgio. De toda forma, o caminho até a “capital da moda” esteve longe do brilho das passarelas de uma cidade cosmopolita.

Em curso há mais de três décadas, a Guerra Civil da Somália é um dos conflitos em andamento mais violentos do mundo, com uma estimativa de cerca de 1 milhão de mortos. Foi dessa realidade que Hussein e muitos outros refugiados somali fugiram para tentar a sorte na Europa.

Dois anos atrás, no auge da pandemia de covid-19, Siyad deixou Mogadíscio pela primeira vez na sua vida. Foram diversos quilômetros percorridos a pé até a Turquia. De lá, partiu para o seu objetivo final: a Itália. Desembarcou em Crotone, na região da Calábria, no “pé da bota”, em setembro de 2020.

Seu primeiro lar italiano, no entanto, foi bem ao norte do país, no centro de acolhimento de refugiados de Bresso, ao norte de Milão. Abraçado pela Cruz Vermelha Italiana, recomeçou a sua vida na região da Lombardia, principal centro industrial da Itália. Mas o seu destino eram os campos de futebol, não as fábricas.

Árbitro na Somália, Hussein começou a apitar jogos oficiais em 2015. Antes de decidir sair da sua terra, comandou, inclusive, jogos da Premier League somali, a primeira divisão do campeonato de futebol local. E na busca por uma vida melhor em outro continente, a paixão nunca foi esquecida.

Depois de ser acolhido pela Associazione Sportiva Dilettantistica Bresso, clube de futebol local, Siyad teve a oportunidade de voltar aos campos de futebol e entrar para o quadro da Associação Italiana de Árbitros (AIA), através da seção de Saronno, comuna da província de Varese.

Depois de mais de dois anos na Itália, enfim teve a chance de apitar sua primeira partida oficial no país. “Estou feliz de poder continuar a ser árbitro de futebol, e por isso agradeço a todos que tornaram isso possível”, destacou o árbitro de 29 anos em entrevista ao site da AIA.

Para Gabriele Gravina, presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), “esse é o nosso futebol de valores. A FIGC acredita em um futebol cada vez mais aberto e inclusivo, onde todos, sejam homens ou mulheres, meninos ou meninas, possam se colocar em condições de jogar, se divertir e se expressar da melhor forma”.

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