Um dia antes da realização de uma carreata de entidades ligadas aos bares, restaurantes e ao comércio, a epidemiologista Cristiana Toscano, da Universidade Federal de Goiás (UFG), afirmou em entrevista à Sagres 730 nesta quarta-feira (27) que não é hora de flexibilizar o funcionamento de lojas e de prestadores de serviços. “Agora é o momento mais crítico”, disse, completando que qualquer pessoa com responsabilidade e conhecimento sabe disso.

Sindicatos que representam trabalhadores e empresários se prometem uma carreata nesta quinta quinta-feira (28) pela reabertura das atividades econômicas. A concentração será na rampa principal do Estádio Serra Dourada, no Jardim Goiás, a partir das 9h. Os sindicalistas e apoiadores do movimento vão sair em carreata pela cidade pedindo a reabertura dos estabelecimentos. Segundo os organizadores, cerca de 20 entidades, que juntas representam mais de 100 mil trabalhadores goianienses, já confirmaram presença.

De acordo com a professora Cristiana Toscano, se o isolamento social em Goiás tivesse ficado na casa de 50%, o pico da covid-19 teria ocorrido no final de maio. No entanto, o isolamento caiu para 38% em média por isso, houve adiamento do pico para possivelmente o final de julho. Segundo ela, essa é uma meta móvel, que varia de acordo com o comportamento da população. Ela diz que os movimentos em prol da flexibilização ocorrem por conta dos bons resultados obtidos em março. “Goiás é vítima do próprio sucesso no combate à covid”, disse à Sagres.

Índice de Isolamento Social foi desenvolvido pela Inloco para auxiliar no combate à pandemia da COVID-19
Mapa Brasileiro da COVID-19 / Visão geral

“Estamos vendo um crescimento maior do número de casos e, consequente, o número de mortes, que se manter esse nível de isolamento, tende a aumentar de maneira continua”, afirmou. “Em Goiás estamos sendo vítimas do nosso próprio sucesso, como a gente teve um isolamento social que foi muito bem cumprido e teve sucesso, as pessoas estão tendo a impressão de que está tudo bem, que está tudo controlado, sendo que na verdade, é agora que o número de infecções está aumentando”.

Toscano ressaltou que o pico da pandemia é projetado em função do comportamento das pessoas em relação ao distanciamento que impactam diretamente de fator R (número de infecções que uma pessoa infectada gera). Esse número é responsável por um crescimento exponencial, “uma infecção gera duas, duas geram quatro, quatro geram oito”, disse. “Se esse fator R ficar próximo de um, a infecção tende a morrer, porque uma pessoa não consegue transmitir a infecção a outra pessoa”.

Isso acontece quando tem medidas de prevenção, por exemplo uma vacina, ou com as medidas de distanciamento social, quando se reduz a possibilidade de transmissão da doença. Há também, segundo Cristiana, a evolução natural da epidemia. “Depois de um certo tempo, depois de um número suficiente de pessoas infectadas, que não são mais suscetíveis à doença e não são mais infectados e nem transmitem a doença”.

A epidemiologista ressalta que é por isso que o novo coronavírus requer medidas de distanciamento social, diagnóstico e testagem de maneira enfática e rigorosa, para conseguir chegar no ponto em que a epidemia vai diminuir de forma natural.

O mapa mostra o percentual da população que está respeitando a recomendação de isolamento
Mapa Brasileiro da COVID-19 / Ranking dos Estados

De acordo com Cristiana, com as medidas de isolamento social que Goiás aderiu no início de abril, fez com que a evolução dos casos no Estado fosse lento, porém observa, que com a flexibilização a taxa de isolamento diminuiu e está evoluindo para o aumento de casos confirmados da doença.

Subnotificação

Nesta terça-feira (26) Goiás ultrapassou o número de 100 mortes por coronavírus, as confirmações já somam 2.792 de acordo com o Painel Covid-19 da Secretaria de Estado da Saúde. Questionada sobre a sub-notificação, a médica e professora do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás, Cristiana Toscano, afirmou que os números, apresentam apenas a “ponta do iceberg”, ou seja, os casos confirmados da doença são apenas casos que tem diagnóstico hospitalar que procuram um serviço de saúde.

“Sabemos que existe uma sub-notificação, mas a verdade é que, o sistema de informação está captando apenas uma parcela dos casos”, disse. “Sabemos que a grande maioria das infecções, até 80%, não são diagnosticadas pelo pelo sistema de Saúde […]. Trabalhamos com a evolução das infecções nas pessoas que adquirem a infecção. Algumas pessoas que têm sintomas, mas que ficam bem em casa, outras com sintomas que precisam de serviço de saúde, e tem uma proporção dessas que precisam de internação normal e outras vão precisar de UTI”.

Estudo epidemiológico

Goiás está realizando um estudo epidemiológico para apontar a evolução da prevalência de infecção por covid-19, que analisa a evolução de casos do novo coronavírus na população. Parte da população é submetida ao teste rápido que detecta se a pessoa já teve a doença.

“Pega uma amostra da população por sorteio, e atesta essa população para ver se ela tem ou não, presença de anticorpos protetores”, detalhou. “Isso tem que ser feito com alguns testes específicos […]. Isso importante porque a gente consegue confirmar o número real de pessoas que tiveram a infecção”, completou.