Desde 1950, a região Sul do Brasil tem enfrentado um aumento significativo em eventos de chuvas extremas, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Essa tendência foi destacada por um estudo conduzido por pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Met Office, o serviço meteorológico nacional do Reino Unido. O estudo, financiado pela FAPESP através do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), foi publicado na revista Earth and Space Science.

“As observações feitas por meio desse estudo apontam para uma tendência de aumento na frequência e na magnitude de extremos de precipitação, deflagradores de processos geo-hidrológicos, como inundações, particularmente na região Sudeste da América do Sul – que inclui o Sul do Brasil”, afirmou, a Elton Alisson da Agência Fapesp, José Marengo, pesquisador do Cemaden e um dos autores do estudo, durante evento promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) na terça-feira, 21, para discutir as lições do evento climático extremo no Rio Grande do Sul.

Resultados

Os pesquisadores analisaram dados de estações meteorológicas globais, abrangendo o período de 1950 a 2018, para avaliar indicadores de extremos climáticos. Os resultados mostraram que, no período estudado, a região Sul do Brasil experimentou grandes áreas contíguas com dias de chuvas intensas – acima de 10 milímetros – e aumentos significativos de cerca de 2 milímetros por década.

“Esses resultados corroboram os de outros estudos anteriores, que mostram que o aumento da temperatura pode elevar a umidade da atmosfera e acelerar o ciclo hidrológico, gerando chuvas intensas”, afirmou Marengo.

“São necessários, contudo, estudos de atribuição – que já estão sendo feitos por alguns grupos de pesquisadores – para determinar se esses extremos de chuvas são consequência das mudanças climáticas antrópicas [causadas pelo homem]. Mas podemos afirmar que os desastres gerados por chuvas intensas são consequência de atividades humanas, como a permissão para construções em áreas de risco de inundações”, ponderou Marengo.

Mais pesquisa

Outro estudo, publicado em 2021 na revista Frontiers in Climate, contou com a colaboração de pesquisadores do Cemaden, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Met Office e Universidade de Exeter (Reino Unido). Este estudo simulou eventos de chuvas extremas e riscos de desastres hidrogeológicos no Brasil sob cenários de aquecimento atmosférico variando entre 1,5º C e 4º C.

As projeções indicam que esses níveis de aquecimento causam mudanças significativas nos padrões de chuvas, aumentando o risco de deslizamentos e inundações repentinas.

As principais regiões indicadas no estudo como as que serão mais afetadas por esses eventos no Brasil estão localizadas na região Sul do país, nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Localidades mais críticas

A cidade de Porto Alegre e o Vale do Jataí foram apontados como as duas localidades mais críticas na análise de riscos relacionados a inundações.

O resultados foram corroborados por projeções climáticas para a América do Sul reportadas nos últimos relatórios publicados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que indicam que o aumento entre 1,5º C e 5,5º C da temperatura no sudeste da América do Sul, projetado para até o fim do século 21, causará um aumento de enxurradas e deslizamentos de terra especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

“É preciso maior prevenção e melhora na preparação para essas chuvas intensas, que vão continuar aumentando. Por isso, é preciso pensar em como proteger a população vulnerável e as propriedades expostas aos riscos”, avaliou Marengo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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