O governador Ronaldo Caiado só vai publicar o decreto de restrições de atividades econômicas para aumentar o isolamento social e conter o avanço da covid-19 depois que construir uma “sintonia com a maioria do Estado e com as entidades” representativas da sociedade. Sua decisão foi anunciada em entrevista à Sagres 730 nesta quinta-feira (14). “Quero uma decisão solidária”, disse.

“Não é nada de prato feito que vai ser publicado hoje ou amanhã, depende exatamente da adesão ao momento que realmente é preocupante e nós precisamos avaliar como que vamos enfrentá-lo de agora para frente”, disse. Na terça-feira (12) o governador havia dito à Sagres que publicaria o decreto naquele dia ou na quarta-feira.

Ontem sua assessoria informou que a publicação devia ocorrer nesta quinta-feira, mas agora não há mais data prevista. Hoje Caiado admitiu uma “preocupação muito aflorada” com o crescimento da doença em Goiás, em especial pelos números de casos e de mortes nos últimos dois dias. Ontem a Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou o registro de mais nove mortes. O governador alertou que Goiás colhe atualmente os benefícios de 70% do isolamento do início da pandemia pela adesão da população às regras. Ontem esse índice foi de apenas 36,9%, o que colocou o Estado para o último lugar no ranking nacional.

“Nós tivemos, há 61 dias atrás, 70% de adesão ao isolamento social, foi o maior índice do país. Nós sentamos e discutimos, e no primeiro decreto as pessoas aderiam e nós estamos colhendo isso hoje”, disse. “Nós gastamos 39 dias para Goiás chegar aos 100 casos de coronavírus. Ontem extrapolamos 100 casos por dia. Vinhamos com uma média, onde tínhamos o índice de mortalidade inferior a um caso por dia, ontem registramos novo óbitos”, disse.

Caiado defendeu a ideia de aderir o isolamento social nas cidades com maior percentual de crescimento do novo coronavírus, mas ressaltou que isso só deve ser aplicado quando todos estiverem conscientes dessa necessidade. “Se o meu excesso é no sentido de me preocupar em salvar vidas diante desse quadro que estamos vivendo, mas se não for o sentimento da ampla maioria, não tem sentido dele ser aplicado se existir essa conscientização por cima de todos”, completou.

Apesar disso, há resistência das igrejas e das entidades empresariais de concordar com novas medidas de isolamento. Caiado se reuniu com todas as entidades, mas não conseguiu apoio. Em entrevista à Sagres, o presidente da Fecomércio, Marcelo Baiocchi, criticou as possíveis restrições. Há questionamentos também na área técnica. Professor da Universidade Federal de Goiás e membro do grupo de estudo de planejamento estratégico para enfrentamento da covid-19, José Alexandre Felizola Filho, disse à Sagres 730 nesta quinta-feira, que o crescimento da curva de casos de covid-19 continua achatado em Goiás. Para ele, o poder público precisa aumentar a fiscalização para a população cumprir o atual decreto e aumentar as campanhas de conscientização.

Em função desse clima, Caiado afirmou na entrevista de hoje que vai continuar o diálogo, mas avisou: “O que não vou aceitar é as pessoas dizerem que se houver desemprego a culpa é do Caiado ou se faltar leito hospitalar lá na frente também que a culpa é do Caiado”.

O governador se mostrou preocupado com a situação em 32 municípios goianos, 24 onde há mais casos da doença e oito cidades turísticas localizadas nas margens do Rio Araguaia. Segundo ele, turistas continuam indo para Aruanã, Bandeirantes e São Miguel do Araguaia como se estivessem de férias. Ele revelou que recebeu reclamações das prefeituras pela dificuldade de conter esse turismo em época de pandemia.

Segundo Caiado, Estado e prefeituras têm estruturas limitadas para a fiscalização. Ele reclamou de aglomerações nos supermercados, da falta de adoção de medidas por parte desses estabelecimentos para conter o movimento; disse que “telefonou mais de 10 vezes” para o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães para reclamar das aglomerações nas imediações das agências liberação do auxílio emergencial, mas disse que seu apelos não têm sido atendidos.