O governador Ronaldo Caiado confirmou nesta terça-feira (12), em entrevista à Sagres 730, que novo decreto vai restringir o funcionamento das atividades econômicas apenas aos setores de saúde e de alimentação. O decreto será publicado na quarta ou quinta-feira e não será extensivo a todo o Estado, mas valerá para regiões onde há mais casos da covid-19, como a Grande Goiânia, o Entorno do Distrito Federal e cidades localizadas ao longo das BRs, caso de Professor Jamil.

De acordo com o governador, as novas restrições devem durar por pelo menos mais 15 dias. Caiado está preocupado com o crescimento dos casos de contaminação, que até esta segunda-feira eram 1,1 mil em Goiás, com 49 óbitos, aumento da ocupação de leitos, e com a redução da taxa de isolamento social. Ontem, essa taxa foi de apenas de 37,5%, de acordo com dados da In Loco, empresa que faz monitoramento da população pelo movimento dos celulares.

Para se ter uma ideia de como esse índice é baixo, em fevereiro, antes do início da quarentena pelo novo coronavírus, Goiás registrou isolamento na faixa de 38%, segundo informações disponíveis do site da covid-19 da Secretaria Estadual de Saúde (SES). O ideal de isolamento, segundo a SES é uma taxa de pelo menos 50%. O governador já tinha antecipado nesta segunda sua disposição de aumentar as restrições da quarentena.

Na entrevista à Sagres, Caiado afirmou que atualmente está “tendendo” defender um isolamento intermitente, que intercala períodos de fechamento com outros de flexibilização. “Não tem como manter uma população dentro de casa por 3 meses, isso não existe em lugar nenhum”, afirmou. Segundo ele, o ideal de isolamento é em teoria, mas na prática é muito difícil de aplicar.

O governador revelou à Sagres que propôs às concessionárias do transporte coletivo a compra pelo Estado de R$ 5 milhões em sitpass para ajudar na crise financeira em função da pandemia. O dinheiro servirá de capital de giro das empresas e o Estado receberá os sitpass daqui a seis meses. As concessionárias haviam pedido ajuda de R$ 80 milhões

Confira a seguir a entrevista do governador:

Qual avaliação do sr. após a queda do isolamento social em Goiás após o último decreto?

A análise que eu faço é um pouco diferente, primeiro que estamos aprendendo a combater o coronavírus, aquela frase que a gente conhece bem, nós não temos receita do bolo então cada um está desenvolvendo uma tese, ou uma prática para ver como pode ter melhor resultado. Não podemos escolher melhor resultados, ou seja, fomos o primeiro a estipular isolamento dia 12 de março, com esse decreto nós tivemos duras críticas por não ter ainda nenhum caso de coronavírus no Estado e já havíamos fechado o Estado no isolamento.

O processo evolui até dia 19 de abril, quando realmente é normal, que você não tem como manter uma população de três meses dentro de casa, outra coisa que se observa, quando você flexibiliza, existe um sentimento da população, que aquele que não foi atendido na flexibilização, ele se sente de uma certa maneira, excluído e penalizado, aí começa-se um processo que você não consegue conter, não adianta querer multar, fechar, porque temos que trabalhar com essa análise também de como que está a vida do cidadão.

Toda e qualquer flexibilização, a gente não consegue o que está no papel, não consegue levar a curva como ideal, aquela curva achatada gradualmente. A teoria é uma verdade a prática é outra, é muito comum. Temos que entender que não tem essa receita de bolo para fazer um tratamento que todo mundo vai cumprir em igual condição.

Então eu hoje, já me debruçando sobre isso durante esse tempo todo, sem dormir, porque a gente fica todo dia preocupado em ter a responsabilidade de salvar vidas, então eu estou convencido hoje, convencido é uma tese que pode amanhã ser modificada com argumentos mais consistentes, sou aberto a qualquer tipo de argumento sólido, eu hoje eu estou entendendo, para o tratamento que seja um tratamento intermitente, ou seja, nós termos períodos de restrições máximas fazendo realmente cumprir um período de isolamento social real, e depois, haja uma flexibilização. Agravou-se novamente o quadro, novo isolamento, medidas rígidas até que volte a cair de novo o grau de mobilidade das pessoas, eu vejo que é muito mais real do que o crescimento da curva gradual que eu não estou conseguindo enxergar em lugar algum do país que esse a parte teórica pode ser reproduzido na vida como ela.

Em que medida o sr. acha que o discurso do presidente da República interfere nas falhas do isolamento social?

Isso é o que a gente chama de sinal trocado. Eu sou o governador e falo uma coisa, outra autoridades diz outra, não em Goiás, nós estamos em comum acordo com todos os Poderes e todos os órgãos independentes, como falo também com todos os prefeitos antes de decidir qualquer rumo que o governo deva tomar e aberto à todas sugestões. Quando você tem duas posições, ela não deixa de confundir a cabeça do cidadão, mas hoje eu entendo que o goiano está convencido de que o trabalho nosso é com objetivo, primeiro, de salvar vidas, segundo, um trabalho social feito pela Secretaria de Desenvolvimento Social pela primeira-dama e a OVG, também tendo a sensibilidade de fazer chegar aos municípios ajuda, cestas básicas, além disso, uma política de apoio às crianças que não estão mais na rede escolar e estão recebendo R$ 150,00. Tem um lado positivo que tem que reconhecer, que é o repasse de R$ 600, as pessoas que perderam emprego e estão mais vulneráveis, lógico e precisava de ter uma metodologia mais eficiente por parte da Caixa Econômica para não avolumar tanta gente e com isso é dificultando ainda mais a nossa política de convencimento das pessoas ficarem nas suas casas.

Como o decreto presidencial ( que inclui salões de beleza e academias como atividades essenciais) vai ser tratado em Goiás?

Isso não interfere no nosso decreto, nós tratamos a situação, já deixei muito claro. Goiás tem total independência, no sentido e também no seu direito constitucional, de elaborar de acordo com o quadro atual. Essa situação nacional pode ser uma posição do Ministério da Saúde ou do presidente, mas ao Estado cabe decidir qual deve ser o seu protocolo.

Como será o novo decreto?

Eu não vou dar a palavra final, até porque esse decreto vai ser caminhado ao presidente da Assembleia Legislativa, presidente do Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Defensoria Pública, para que o torne público. Seria uma descortesia da minha parte avançar nos detalhes específicos do projeto. O que eu posso dizer é que será um decreto bem restritivo, no sentido de fazer com que haja um isolamento social e, que possa se aproximar daquilo que já conseguimos no Estado de Goiás, que foi um percentual inédito de 70% tendo sido um dia publicado e 66,4%. Chegamos a esses 70% de isolamento social, foi o primeiro lugar e hoje, nós estamos em 37% no último lugar na escala dos casos.

Qual é o foco do novo decreto governamental? Vai trabalhar algo diferente do que hoje está acontecendo?

Você tocou num ponto que é fundamental, e o objetivo também de nós estarmos fazendo essa entrevista na Rádio Sagres, pela audiência que tem a Rádio e principalmente o programa Manhã Sagres, a oportunidade que tem poder comunicar com milhares e milhares de pessoas, não só em Goiânia mas também em todo Estado. Então olha, o objetivo é de pedir as pessoas que amanhã, se nós tivermos a condição da publicação hoje, ou no mais tardar na quinta-feira, entendam que a partir de amanhã ou quinta-feira, nós teremos apenas, aqueles que nós chamamos de serviços essenciais.

Então que haja uma conscientização desde já das pessoas, para que realmente não faça o seu transporte, o seu deslocamento, sem antes saber do conteúdo que será publicado por nós, mas eu já avanço em pedir a todos que estão nos ouvidos, que a partir de quarta ou quinta-feira, nós só teremos funcionando as atividades essenciais. Atividades essenciais significa, a área específica de saúde e a área de alimentação. Fora disso, nós teremos uma ação bem restritiva para podermos ter aquilo que eu coloquei no início da entrevista, um isolamento capaz de fazer o menor percentual de contaminação, e como tal avaliamos qual é o patamar que vamos conseguir atingir, para não termos amanhã uma sobrecarga e uma ausência de leitos para atender as pessoas no estado grave da doença. Então é esse o pedido que eu faço.

Essa restrição que o sr. acabou de anunciar, valerá para todo Estado ou será para determinados municípios?

É lógico que hoje nós já temos um mapeamento do Estado de Goiás, este mapeamento nós sabemos que as cidades maiores são mais penalizados, afinal de contas, tem um fluxo maior sobre elas e com isso tem um maior percentual de contaminação. O processo de abrangência do quadro mais restritivo, com toda a nossa estrutura, do aparato da segurança pública na orientação as pessoas, ela será focada, num primeiro momento, nas cidades aonde nós temos o reflexo maior do crescimento da contaminação pelo coronavírus.

Eu posso citar também as regiões mais críticas, que é a capital e a região metropolitana de Goiânia, como a região do entorno de Brasília, como também algumas cidades no eixo de rodovias federais. Então são essas, que nós estamos num primeiro momento, intensificando e precisamos fazer com que algo aconteça de verdade, diminuindo essa mobilidade e aos poucos também conseguindo a simpatia das demais outras prefeituras, para que haja também uma adesão solidária ao projeto, mas nós vamos interferir, principalmente nos grandes eixos, onde crescimento preocupante do nível de contaminação.

Esse período de restrição vai ter um prazo definido ou o governo vai decidir dependendo da evolução dos números?

É fundamental saber o resultado em termos de percentuais. Como eu disse, nós chegamos a atingir 70% e voltamos numa faixa crítica de 37%, ou seja, 37% significa não ter isolamento algum, temos que ser bem realistas e não podemos imaginar que 37% de isolamento seja algum tipo de isolamento, isso não é nada, não estamos tendo hoje nenhuma ação concreta, no sentido de as pessoas permanecerem em casa e diminuir os encontros e aglomerações.

Então nós não temos hoje o isolamento, eu volto a dizer que ele é importante que a gente também entenda, que não existe esse modelo único, que alguém tenha dado conta de dizer é o ideal. O ideal que todo matemático, ou todo o pessoal da área de estatística mostra, é que o ideal é um crescimento gradual, mantendo sempre dentro daquilo que é a nossa curva ideal, não ultrapassando, mas a projeção dessa realidade na vida, ou seja, vida como ela é, a gente não consegue construir isso. Então não adianta falar algo que não seja aplicável, temos que adequar de acordo com que é possível. A tese que eu defendo agora é o isolamento intermitente.

O que o decreto vai trazer o obrigatoriedade de cumprimento? Ele vai ser mais restritivo em estabelecer regras para as pessoas saírem de casa?

No momento em que você não tem o funcionamento das atividades econômicas que não sejam essenciais, a pessoa vai sair de casa para ir aonde? É lógico que nesse ponto não é coibir a pessoa é muito mais, promover condição de interromper as atividades que realmente promovem o fluxo das pessoas. É causa e efeito. Nós temos que agir diretamente na causa, a pessoa sair de casa é uma consequência, efeito da necessidade das pessoas irem ao trabalho, Então eu acho que esse que o ponto fundamental, a causa é sim, que nós vamos, no primeiro momento, restringir para que tenhamos a diminuição do fluxo de pessoas.

Mesmo no começo, quando o isolamento estava funcionando, um foco de problemas era o transporte coletivo. O governo está discutindo uma saída para o transporte coletivo? O sr. está prevendo alguma ajuda, alguma solução para o transporte coletivo?

Eu fiz a reunião, a parte que cabe ao Estado na decisão do acordo foi feito pelo Ministério Público, eu disse que Goiás cumpri com sua parcela, não é única e exclusiva do governo, que também, lógico, tem que ser compartilhadas com os municípios que também se beneficiam do transporte coletivo, então o Estado entra com o seu percentual. Além do mais, eu pedi a toda minha assessoria jurídica, a minha procuradora do Estado, para que realmente levasse uma proposta nossa, que foi no valor de R$ 5 milhões de passagens, compraríamos esse valor em passagens antecipadas, para que pudesse dar condições a eles como sendo um capital de giro neste momento, e que nós utilizaremos seis meses após. Mandei que a minha assessoria jurídica levantasse toda a legalidade dessa proposta e pedi também se fosse apresentado como uma alternativa imediata à todas empresas responsáveis pelo transporte coletivo na cidade de Goiânia.

A proposta foi aceita? Em que pé está essa conversa?

Veja bem, são tantos problemas na minha cabeça que eu não saberia responder agora. Esse assunto eu autorizei a minha área jurídica tratar dela, eu não saberia lhe dar uma resposta como que foi a evolução desse assunto, mas eu tenho certeza que está sendo tratada com total eficiência e celeridade, desde que haja o acordo deles e que haja a sustentação legal para que seja feito essa aquisição das passagens. Então eu determinei a minha procuradora que avançasse nesse sentido. Não sei lhe responder até porque eu estou debruçado neste decreto, que deve ser finalizado nas próximas horas e eu ainda tenho que consultar todos os Poderes e também encaminhar as entidades representativas dos prefeitos no Estado de Goiás.

Ontem o sr. reclamou a respeito da mudança de posição do Ministério da Saúde em relação aos equipamentos para o Hcamp de Águas Lindas. O que mudou na relação dos Estados com o Ministério da Saúde depois da mudança do ministro?

O que eu disse, realmente, não foi nem no sentido de reclamar, foi no sentido de esclarecer. Nós sabemos que o Governo Federal, por mais que tenha sido alertado, realmente não teve a condição de ter o número imaginavam dos respiradores, esse assunto passou ser motivo, em todos os programas de televisão. Se você compra você é bombardeado, se você não compra você é criticado. Hoje está na capa do jornal O Popular que tem 60 dias e Goiás ainda não deu conta de comprar. É impressionante esse negócio, na vida eu já sou um homem experiente e calejado, é lógico que eu nunca vou entrar em nada que amanhã coloca em risco a minha honra e a minha credibilidade do ponto de vista moral.

Agora é algo que mostra a situação toda em que nós chegamos. O Ministério da Saúde, inicialmente, tinha uma projeção, não acreditou nela e agora o que chega de respirador está tendo que correr para atender Manaus, para atender Belém, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e não tem como, diante de um quadro como esse, você querer também que entregue os nossos 40 respiradores que se comprometeram, com os leitos de UTI no hospital de Águas Lindas. Então o hospital não foi entregue a nós, a previsão de ser entregue é no dia 21 de maio, mas a pergunta que formulei é, toda estrutura será entregue conforme aquele que foi acordado de 40 leitos de UTI e 160 leito de semi UTI?Não governador, não terão os respiradores, monitores e nem os leitos de UTI que seria apropriados para nos entregar, vamos entregar leitos normais, que tem a canalização de oxigênio e com isso o máximo que nós vamos poder oferecer às pessoas seriam o oxigênio mais os cuidados e os medicamentos necessários, mas em caso de complicação não teremos ali os respiradores’.

Agora porque que não se compra respiradores? Porque hoje é realmente é uma verdadeira máfia que tomou conta do processo, é uma realidade, então até pessoas que são bem intencionadas estão sendo vítimas de calote. Você viu o que aconteceu com meu colega no Pará, adquiriu e e não funciona. A prefeitura de Recife, comprou até de uma indústria brasileira, chegou lá o respirador não sustenta os pacientes graves. Então isso tudo não como você comprar bolacha, é você comprar um respirador, e como ter a garantia de que o respirador vai suportar e manter a função correta de oxigênio durante 30 dias.

Além do mais tem uma diminuição na oferta do produto, não é aquela coisa de que Goiás não deu conta de comprar ainda os 300 respiradores em 60 dias, se tivesse comprado estaria nas manchetes de jornais que o governo comprou o material que não funciona ou que estava acima do preço. Então é um momento que estamos vulneráveis, mas não é isso que vai impedir que eu tome as decisões. Agora eu estou tomando e medindo toda segurança cada ação do governo.

Estou terminando de providenciar toda a parte legal para que três pessoas do governo esteja nos Estados Unidos fazendo uma avaliação de respiradores que nos foram oferecidos, para ver em loco o funcionamento, buscar hospitais que estão utilizando, para amanhã fechar uma compra. Eu excluí definitivamente os países asiáticos, porque o que está ocorrendo lá, nós estamos ficando sem uma garantia real com quem nós estamos negociando ou a qualidade da entrega do material.

O presidente da República ainda não sancionou o projeto 49, aprovado pelo Congresso Nacional, de ajuda aos Estados e municípios. Está demorando muito a sanção desse projeto?

Eu falei com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, perguntando sobre isso, até porque nós contamos com a perspectiva de, no dia 15 podermos receber a primeira parcela, e eu não tive uma resposta até ontem, infelizmente, não teve sinalização. Hoje eu não falei com ele ainda, mas eu espero que a gente tenha isso mais rápido possível assinado, eu estou insistindo diariamente para fazer a sanção, até porque já estou fazendo conta desse repasse para cumprir com os compromissos do Estado no mês de maio.

Os times de futebol pretendem voltar aos treinamentos. Como o sr. avalia essa possibilidade?

Neste momento nada vai ser flexibilizado, pelo contrário, nós teremos medidas muito mais respectivas e em Goiânia, com todas as cidades da região metropolitana e as cidade que tem maior incidência do coronavírus, elas entraram no processo mais intenso de isolamento, então não existe uma flexibilização prevista a esses próximas duas semanas.

Atualizada às 11h43