Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) revela que caminhar pelo menos 7.500 passos diários pode ajudar a controlar a asma moderada ou severa em adultos. Publicado recentemente no The Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice, este estudo destaca a importância da atividade física para o manejo da asma.

Os pesquisadores sugerem que as políticas públicas e recomendações médicas deveriam focar no aumento da atividade física em vez de apenas reduzir o tempo de sedentarismo. Apesar da percepção comum de que são hábitos excludentes, uma pessoa pode ser fisicamente ativa (realizando atividades moderadas por pelo menos 150 minutos semanais) e ainda assim ter um comportamento sedentário (ficar sentada por mais de 8 horas diárias).

“Na maioria das vezes, as pessoas mesclam as duas situações: realizam atividade física três vezes por semana, por uma hora, mas trabalham o dia inteiro sentadas em um escritório”, explica Celso Ricardo Fernandes de Carvalho, professor de Fisioterapia Respiratória e Fisiologia do Exercício do curso de fisioterapia da FM-USP e orientador do estudo. “Isso significa que elas são ativas, mas também sedentárias, ou seja, exibem os dois comportamentos ao mesmo tempo”, disse a Julia Moióli da Agência Fapesp.

Impacto real

O estudo, que analisou dados de 426 pessoas com asma moderada a grave em São Paulo e Londrina, avaliou a atividade física e o tempo de sedentarismo através de actigrafia, controle clínico da asma (Asthma Control Questionnaire – ACQ) e qualidade de vida (Asthma Quality of Life Questionnaire).

Também foram analisados sintomas de ansiedade e depressão e dados antropométricos e de função pulmonar. Os participantes foram divididos em quatro grupos: ativo/sedentário, ativo/não sedentário, inativo/sedentário e inativo/não sedentário.

“Observamos que, quanto mais atividade física a pessoa com asma realiza, melhor é o controle de sua doença”, conta Fabiano Francisco de Lima, pesquisador da FM-USP e primeiro autor do trabalho. Os resultados mostram que quem caminhava pelo menos 7.500 passos diários apresentou melhores pontuações no controle clínico da asma, independentemente do comportamento sedentário.

A porcentagem de pacientes com asma controlada foi significativamente maior nos grupos ativo/sedentário (43,9%) e ativo/não sedentário (43,8%) em comparação aos grupos inativo/sedentário (25,4%) e inativo/não sedentário (23,9%). O estudo também sugere que fatores emocionais, como ansiedade e depressão, podem dificultar o controle da asma.

Receio

Embora a prática de atividade física por pessoas com asma já seja recomendada por profissionais de saúde, o tema ainda é visto com receio por parte da população. Isso porque as pessoas com asma sofrem a contração dos músculos das vias aéreas durante as crises.

“O costume de evitar que crianças e adultos pratiquem exercícios por conta da doença precisa começar a ser quebrado”, diz Lima. “Esse estudo contribui para isso ao sugerir a caminhada, atividade simples e sem custo agregado, e vai além, ao oferecer uma espécie de ‘nota de corte’, uma indicação da quantidade real de atividade física que o paciente deveria fazer – 7.500 passos por dia.”

De acordo com o pesquisador, outra recomendação importante seria que profissionais de saúde passassem a adotar um olhar mais direcionado para sintomas de ansiedade como estratégia de controlar a asma. Também participaram do estudo pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Fisioterapia Pulmonar da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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