Assa-peixe, pequi, ipê-caraíba, amargoso, bolsa-de-pastor, carobinha, fedegosão e mimosa. Se você nasceu ou vive no Cerrado, já deve ter ouvido o nome de algumas dessas plantas nativas. Uma campanha que visa aumentar a conscientização sobre a necessidade de proteger e reflorestar o Cerrado brasileiro com estas espécies foi lançada no Brasil, também em Londres, na Inglaterra, e em Glasgow, na Escócia, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26).
Promovida pela RPMM Global, em parceria com a Rede Sementes do Cerrado (RSC), a ação “No Vaccine For Climate Change”, do inglês “Não Há Vacina Para a Mudança do Clima”, tem o objetivo de arrecadar fundos para continuar apoiando atividades de restauração ecológica, reflorestamento, disseminação de conhecimento e geração de renda para as comunidades tradicionais do Cerrado, por meio de uma campanha crowdfunding, uma espécie de financiamento coletivo.
Rafael Collares, diretor de Operações no Brasil da RPMM Global, explica em entrevista ao Sagres Em Tom Maior #423 desta quinta-feira (23) a importância do Cerrado para o país. Assista à primeira entrevista do STM #423 a partir de 00:06:20
“É um bioma que fica no meio de vários biomas importantes. O Cerrado conecta [esses biomas] e é conhecido como caixa d’água do Brasil. Muitas nascentes e aquíferos iniciam no Cerrado, que é conhecido como uma floresta de cabeça para baixo e a savana brasileira”, afirma.
Em novembro, mês de lançamento da campanha, uma ação de divulgação aconteceu nas principais praias na cidade do Rio de Janeiro, por serem locais de grande visibilidade nacional, e foi realizada por meio de uma faixa escrita com a #novaccineforclimatechange em um avião. A aeronave sobrevoou as praias do Leme, Copacabana, Leblon, Barra da Tijuca e Ipanema. O objetivo foi chamar a atenção e gerar engajamento das pessoas para a causa, marcando e compartilhando a # nas redes sociais.
A Rede Sementes do Cerrado, parceira da ação, é presidida pela bióloga Camila Motta. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos que trabalha com comunidades tradicionais do Cerrado que coletam sementes para plantar árvores, arbustos e capins para restaurar áreas degradadas. A coleta é feita por famílias que vivem nessas regiões e até um calendário foi elaborado para obter sementes de espécies como assa-peixe, bolsa-de-pastor, carobinha, fedegosão e mimosa. Clique aqui e confira o calendário
Só na região da Chapada dos Veadeiros, a comercialização de sementes gera renda para mais de 60 famílias e ajuda a conservar o Cerrado.
“Mais do que um movimento ecológico, é um movimento sócio-econômico. São famílias que não tinham o que fazer, que talvez estariam degradando o meio ambiente e estão coletando 30% das sementes. Os outros 70% são distribuídos naturalmentes pelos animais, pelo vento, e essas sementes acabam sendo aplicadas com técnicas, com o ICMBio, com parcerias como a Universidade de Brasília”, esclarece Rafael Collares.
Segundo maior bioma do país, o Cerrado abriga oito das doze bacia hidrográficas brasileiras e é uma das regiões com maior biodiversidade do planeta, abrigando 5% de todas as espécies, incluindo mais de 1.600 tipos de mamíferos, pássaros e répteis, e mais de 12 mil espécies de plantas.
Nos últimos anos, esta região vem sendo devastada por incêndios criminosos e avanço da fronteira agropecuária, especialmente para produção de commodities. Com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, o Cerrado localiza-se na parte mais central do Brasil,incluindo os estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal. Mais de 50% do bioma já foi desmatado.