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Caro Guedes, não tenho dúvidas quanto ao seu conhecimento econômico para propor as políticas necessárias a fim de restaurar a economia brasileira rumo ao crescimento acelerado e sustentável – espero que o congresso não sirva com entraves do tipo “quanto pior melhor”, priorizando a política acima da população. Como tantas vezes feito em nossa história.

Com isso, tenho claro que você como parte do governo Bolsonaro, empenhado em manter o discurso aberto sobre a necessidade de transparência, tem a oportunidade de fincar alicerces em nosso sistema que poderão perdurar gerações. E é exatamente sobre isto esta carta.

Imagine uma rede de farmácias cujo o dono se gaba pelo seu crescimento anual de dez por cento, quando o PIB cresceu apenas meio ponto percentual. Ele parece ser um sucesso entre os amigos, o exemplo a ser seguido!

Em seguida, um conhecido mais esclarecido comenta: “mas o seu setor cresceu 20 por cento ao ano”. Ou seja, ao contextualizar a informação entendemos que o empresário não é tudo isso que ele diz e acha de si mesmo, muito pelo contrário.

O mesmo acontece com os dados macroeconômicos que são publicados nos meios de comunicação do Brasil. Falo sobre o crescimento do PIB, inflação e desemprego, entre outros.  Não basta que o Brasil cresça e compare os indicadores contra o trimestre anterior ou com o ano passado. Nós vivemos em um mundo global, interconectado, competitivo, e a pergunta fundamental é como estamos nos saindo comparado ao resto do mundo.

Neste sentindo, como você sabe, mas o resto da população talvez não entenda, mas com certeza há de entender, fazemos parte de um filme de terror. Com péssima direção e produção.

Com base nos levantamentos no Fórum Econômico Global, dentre  137 países avaliados,  o Brasil está na 133ª colocação em eficiência em gastos públicos, 136ª referente ao ônus da regulação governamental, 132ª em custos das empresas com crime e violência, 125ª na qualidade do sistema de ensino que prepara nossos trabalhadores, 136ª no efeito da tributação sobre incentivos de investimento, 134ª na taxa total de impostos, 137ª para o efeito da tributação sobre incentivos ao trabalho, 130ª na acessibilidade dos serviços financeiros e por fim, mas não menos pior estamos no número 127ª do ranking em nossa produtividade de exportação.

No levantamento pelo Banco Mundial, entre 190 países avaliados pela facilidade de realizar negócios, o Brasil está em 109ª lugar. Atrás de Papua Nova Guiné, Namíbia e Lesoto.

Em minha humilde percepção, ao integrar indicadores de organizações renomadas às metas, aos sistemas de transparências e as publicações do governo, bem como estabelecer objetivos reais para melhorarmos nosso posicionamento internacional e ao persegui-las temos muito a ganhar.

Primeiramente, a nação poderá saber onde ela está posicionada dentro do contexto global, e o porquê das atitudes que estão sendo tomadas. Segundo, o público poderá medir com facilidade o ganho ou perda de posições que teve o estado brasileiro entre um ano e outro, medido por entidades neutras de interesses partidários e políticos (lembra de algum episódio de mudança da contabilidade pública e/ou cálculos de indicadores estatísticos?). Terceiro – tal sistema poderia ser usado para colocar metas de curto, médio e longo prazo – permitindo uma objetividade e pragmatismo na gestão pública. A metodologia poderia ser finalmente convertida em regimes meritocráticos para todo aparato governamental que até hoje, muitas vezes, trabalha com objetivos um tanto abstratos e intangíveis.

Pense que esta infraestrutura de gestão pública poderá perdurar por gerações garantido o accountability dos gestores públicos, a transparência e a verdade nua e crua para que todos os brasileiros possam avaliar o desempenho de seus governantes.

Se você como eu, confia neste governo para melhorar não só os indicadores macroeconômicos, mas a competitividade do setor produtivo, a facilidade de realizar negócios e empreender a atratividade para investimento estrangeiro a esta grande nação – integre os indicadores comparativos ao sistema governamental brasileiro.  

Lhe desejo muita boa sorte nesta nova empreitada, pois nós brasileiros dependemos de vosso sucesso.

Daniel Schnaider

5.4 daniel schnaider