O Atlético Clube Goianiense registrou, nesta quinta-feira (09), um Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil (PC) sobre o caso de racismo sofrido pelo meia Gustavo. Estiveram na sede do Grupo Especializado no Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (GEACRI) o atleta do sub-20, o advogado e diretor administrativo do clube, Marcos Egídio, e membros da comissão técnica e companheiros de time que testemunharam o crime.

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Na polícia, Gustavo prestou depoimento e relatou o ocorrido. De acordo com ele, durante a partida de ida pela semifinal do Goianão sub-20 contra o Trindade, o jogador teve uma discussão com outro atleta do time adversário, quando sofreu o ato racista do fisioterapeuta da equipe rival, que estava na arquibancada.

“Ele falou assim: o que foi negão? O que foi macaco? Foi quando eu paralisei. Fiquei triste, sem reação, só olhei para ele e questionei o motivo disso. Meus companheiros relataram para o árbitro, até porque nem tive reação, foi a primeira vez que isso aconteceu comigo. Os meninos do Trindade vieram me abraçar, achei muito bonito, mas aquilo me tirou do jogo”, contou.

O próprio árbitro da partida, Artur Morais, colocou na súmula do jogo que foi testemunha do crime. “Aos 39 minutos do primeiro tempo, após a cobrança de um arremesso lateral em favor da equipe do Atlético, um torcedor, que se encontrava de camiseta em tom escuro na arquibancada, atrás do assistente dois, Genivaldo Oliveira e próximo ao local do arremesso lateral, proferiu de forma clara, que todos que estavam próximos puderam escutar, inclusive eu, a seguinte ofensa: negão, seu macaco, em direção ao campo e ao atleta Gustavo Santos Assunção, número 8 da equipe do Atlético”, escreveu.

“Após o ato de injúria, o jogo foi paralisado imediatamente e solicitado que o policiamento fosse até o indivíduo, que empreendeu fuga correndo do local. No momento, houve uma confusão e muitos jogadores das duas equipes saíram correndo em direção à saída do campo de jogo, na direção do indivíduo. Durante a paralisação do jogo, fomos informados por um membro da comissão técnica, Cláudio Oliveira, massagista da equipe do Trindade, que o nome do indivíduo era Daniel e que ele presta serviço como fisioterapeuta na sede
do clube”, completou o árbitro.

Ainda no depoimento, Gustavo afirmou que quer justiça para o caso. “Isso tem que acabar. Só quem sofre sente o quanto é ruim. Me doeu muito, espero que a Justiça faça o melhor. Todos [companheiros de time] me apoiaram e tentaram me ajudar de toda forma. Meus pais ficaram muito tristes, me ligaram e conversaram comigo, mas já estão mais tranquilos”, afirmou.

O advogado e diretor administrativo do clube, Marcos Egídio, garantiu que o Atlético-GO dará todo o respaldo jurídico e psicológico ao jogador, que, segundo ele, ficou bastante abalado.

“É um abalo psicológico. Confesso que eu fiquei abalado falando sobre injúria racial, agora imagina o jogador, que com certeza não deve ter dormido bem. Muito importante nesse momento a família estar ao lado dele. Já foi colocada à disposição do atleta nosso departamento de psicologia, com o dr. Rafael, que vai conversar com ele nessas próximas horas, para que isso não atrapalhe sua carreira”, disse.

Polícia

O delegado da GEACRI, Joaquim Adorno, explicou que, nesse caso específico em que não há vídeos, fotos ou áudios, a polícia utiliza os relatos das próprias testemunhas que presenciaram o crime.

“Diversas pessoas que estavam no local ouviram a fala racista e essas pessoas servem como testemunha, sendo utilizadas como prova de que o crime ocorreu. Então, nesse fato, a imagem é de menor importância. Está até na súmula do árbitro, inclusive”, ressaltou.

Em seguida, após ouvir todas as testemunhas, Joaquim Adorno afirmou que o próximo passo é confirmar todas as versões e qualificar o possível autor do crime. “A pessoa vai responder por injúria racial, que é um racismo. A pena é de 1 a 3 anos de reclusão. Vamos instaurar um inquérito, fazer o procedimento, esse sujeito, provavelmente será denunciado pelo Ministério Público da comarca, onde ocorreu o fato, e vai responder pelo crime”, destacou.

Testemunhas também relataram que o suspeito estaria portando uma arma de fogo no local. O delegado reforçou que a informação será verificada também para saber se há outros elementos que provem a versão. “Por enquanto, é apenas uma hipótese. O que é certo é que as testemunhas confirmam inicialmente que ocorreu o crime de racismo”, pontuou.

Nota oficial

Por meio do site oficial, o Atlético-GO se posicionou e emitiu uma nota sobre o crime de racismo sofrido pelo jogador do clube. Confira na íntegra:

“Na tarde da última quarta-feira (08), no primeiro jogo da semifinal do Campeonato Goiano Sub-20, o volante Gustavo, 19 anos, foi vítima de um ato de injúria racial vindo das arquibancadas do Estádio Abraão Manoel da Costa. No momento do incidente o jogo foi paralisado devido à revolta e consternação por parte dos jogadores e comissão técnica de ambas as equipes. 

Após a realização do jogo, na tarde desta quinta-feira (09), o atleta Gustavo e os companheiros de time Samuel e Renan foram ao GEACRI – Grupo Especializado no Atendimento à Vítima de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância – para prestar depoimento. O jogador também estava acompanhado do Diretor de Futebol de Base, Wendel Batata, e do Diretor Administrativo e Advogado do clube, Marcos Egídio. O grupo foi recebido pelo Delegado Dr. Joaquim Adorno que designou a escrivã Lorena Oliveira Leal para ouvir a vítima e testemunhas do caso. 

O Atlético Clube Goianiense irá prestar todo o amparo jurídico que o caso necessitar e também dará apoio psicológico para o atleta Gustavo e elenco Sub-20.

O clube reitera a consternação com o caso e espera que as investigações sejam concluídas o mais rápido possível. Não há espaço para o racismo e a intolerância.”