A cidade aceita como normais algumas monstruosidades e o fato é que as monstruosidades continuam acontecendo. Neste Carnaval, mais morte de morador de rua e as autoridades fingem normalidade. Dizem que não são mendigos, mas drogados. Mendigos ou drogados, o certo é que são brasileiros sendo dizimados, são seres humanos mortos nas calçadas que o poder público deveria proteger.  As forças policiais perderam totalmente o controle das ruas, inclusive nos municípios pouco habitados. Existem cracolândias vizinhas a quartéis e bocas-de-fumo próximas a delegacias. E ninguém toma providências.

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Durante o Carnaval, os quatro dias em que tudo está valendo, as portas se escancaram para o comércio de drogas. Assim, se fecha o ciclo. A lei incentiva o uso de entorpecentes, as autoridades afrouxam as rédeas para o tráfico e os moradores de rua são assassinados nas calçadas. Não são com a Secretaria de Segurança o uso nem a venda de crack. Não é com a Secretaria de Segurança a proteção à vida dos dependentes químicos. Então, podem vender, usar e matar que é impunidade garantida ou suas pedras de volta.
         
Nada escandaliza mais. Quando contou-se a primeira meia dúzia de moradores de rua, as forças de segurança já bocejavam. Afinal, eram seis a menos dando trabalho para a polícia. Alcançou-se a dezena e já são duas, e passaram de 20 e as autoridades continuam a dormir. De vez em quando, algo atrapalha o sono das eficientes forças policiais. Às vezes, é o Carnaval. Às vezes, é o último gemido de um morador de rua. Para a Secretaria de Segurança, tanto faz um mendigo a menos, um samba a mais. É uma rima que pode constar no enredo da escola de samba “Unidos do num tô nem aí”, novamente campeã do Carnaval em 2013. Em vez de prestar atenção ao corpo estendido na calçada, a autoridade prefere ter olhos para o corpo desnudo na avenida.