Uma turnê circense realizada pelo Coletivo Pandora, formado por três artistas goianas, percorrerá 13 cidades em quatro estados brasileiros, com exibição de espetáculos provocantes e promoção de ciclo de debates em parceria com organizações locais. É o que explica a atriz Radarani Oliveira, idealizadora do projeto.

“É um projeto que foi contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura, no ano de 2018, o edital de número 15, que é o de fomento ao circo. Nós inscrevemos esse projeto com a intenção de realizar uma circulação de dois espetáculos circenses, que é o espetáculo Pastrana, que está dentro de uma vertente de teatro de lambe-lambe, que é um espetáculo para um espectador só, em que as pessoas colocam o fone de ouvido, colocam o olho dentro de uma caixinha e assistem ao espetáculo que tem uma duração média de 3 minutos”, descreve, em entrevista ao programa Tom Maior, da Sagres TV, nesta quarta-feira (2).

Pastrana é um espetáculo de lambe-lambe que se apropria da história da Monga ─ A Mulher Gorila, muito popular em feiras e circos Brasil afora, para sintetizar a história de Júlia Pastrana.

Já A Visita de Chico, em que Radarani interpreta a palhaça Soldara, remonta o imaginário da mulher moderna, que lida com a vida cotidiana e recebe a inesperada e apaixonante visita de Chico, quando tem que dar conta de um amor que é uma representação e da sociedade, que não aceita o corpo feminino como ele é.

“A nossa ideia era mostrar para o Brasil que existe uma produção de conteúdo, de artistas cênicas que estão dentro dessa linha do feminismo, de mulheres artistas que está fora desse eixo Rio-São Paulo”, afirma.

Promover o debate sobre a mulher e a produção artística, sobretudo na região Centro-Oeste, é uma das vertentes do projeto Pandoras, levando em consideração a discussão sobre as produções circenses e as produções femininas.

“São 13 pontos de cultura em todo o Brasil que também estão passando por dificuldades nesse período de isolamento e com atividades paradas”, afirma.

Em razão da pandemia, o projeto que teria circulação presencial em cidades das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, agora expande sua amplitude para todo o mundo.

Confira a entrevista a seguir

Diálogo com as cenas locais

O projeto também se desdobra nas regiões e cidades que irá percorrer. A difusão de trabalhos artísticos e culturais que abordam esses temas, contribuirá para o crescimento de pessoas interessadas e de criação de outros trabalhos que poderão surgir na própria comunidade, com grupos locais, e portanto, proliferam para todo o campo cultural regional, nacional e quiçá, internacional.

Além disso, fortalece os espaços de cultura que (r)existem nos estados fora do eixo, e nas cidades fora dos grandes centros urbanos, proporcionando ganhos culturais para esses locais e para a população que eles atendem.

Por fim, o projeto proporciona um ganho cultural imensurável: coloca em cena espetáculos que expõem – mais do que uma determinada linguagem ou técnica artística – produções artísticas de mulheres sobre o universo feminino e pautam questionamentos sobre a cultura do ser mulher.

Sobre os espetáculos

Em Pastrana, o truque original da Monga, personagem que se transforma em gorila por conta de um efeito ótico de luz é desconstruído, invertendo a ordem as imagens e dos signos.

Ao invés de começar com a mulher se transformando na monga, na caixinha de lambe-lambe, Julia, a mulher gorila, entra primeiro e se transforma em uma ‘monstra’ dentro dos padrões sociais: moça, branca, loira e com os seios siliconados, performando o chamado “padrão europeu”.

“Para construir o roteiro, houve a adaptação da tradicional narração da performance e a inversão da figura do monstro, que questiona os padrões voltados para as exigências relativas ao corpo da mulher.

A escolha em desenvolver uma circulação artística com enfoque no feminino é potencializar questões referentes ao papel social e artístico da mulher com graça e leveza.

Apesar de se tratarem de temas densos e complexos, ambos os espetáculos são cômicos, interativos, exibindo as técnicas circenses como o malabarismo, contorção, mágica e acrobacias para proporcionar uma abordagem libertária, reveladora e contestadora, trazendo elementos que retratam a erotização da mulher no circo e na sociedade, e desconstruindo essa perspectiva através do ridículo”, disseram as autoras.

Já o espetáculo A visita de Chico mescla circo com a história de Soldara, uma palhaça que se veste de homem para ganhar a vida como artista de circo.

Ao final de cada apresentação, Soldara retorna à sua casa, emaranhada às exigências da profissão, do corpo e dos projetos de vida, contudo, com seus encantos e desajustes, segue com a pacata vida com imaginação. É quando conhece Chico e se apaixona, mas o tenro romance é acometido por uma circunstância indesejada, da qual Soldara se envergonha e foge.

A trama é tecida pela aceitação, pelo desajuste e pelo ridículo enfrentamento da mulher, que precisa lidar com a natureza de seu corpo feminino em uma cultura e sociedade que não o enxergam bem.

Sobre Sheila Friedhofer

Formada pela Escola de Arte Dramática (EAD/USP) e integrante do grupo As Olívias desde 2005, trabalhou no teatro com diretores como Georgette Fadel, Hugo Possolo, Iacov Hillel, Roberto Vignati e Roberto Lage. Pesquisou a linguagem de Commedia dell’Arte sob orientação de Marcelo Colavitto e a linguagem do clown sob orientação de Cristiane Paoli Quito. Na TV, integrou o elenco da série Vida de Estagiário, na TV Brasil/Warner, e do programa Olívias Na TV, no Multishow.

Como assistir

5 setembro │ Goiânia-GO │facebook.com/geppettocultural
Debate: “Cômicas”, com Sheila Friedhofer

12 setembro │ Cidade de Goiás-GO │facebook.com/rosinhadobrejo
Debate: “Teatro de lambe-lambe”

19 setembro │ Cavalcante-GO │
Debate: “Sexualidade feminina e Ginecologia Natural”

26 setembro │ Campo Grande-MS │
Debate: “Mulheres no circo”

3 outubro │Dourados-MS
Debate: “Os corpos das mulheres e o poder exercido sobre”

10 outubro │ Taquaruçu-TO │
Debate: “Mulheres palhaças”

17 outubro │ Natividade-TO │
Debate: “Masculinidade”

24 outubro │ Porto Nacional-TO │
Debate: “Mulheres pretas e indígenas”.

31 outubro │ Palmas-TO │
Debate: “Dia das Bruxas”

7 novembro │ Cachoeira-BA │
Debate: “Cultura e Política: Mulheres na Ativa”

14 novembro │ Alagoinhas-BA │
Debate: “Transexualidade. Gêneros. Afinal, que que isso?”

21 novembro │ Salvador-BA
Debate: “Mulheres em cena”

28 novembro │ Ilha de Itaparica-BA
Debate: “Nós mulheres, Somos todas Pandoras”