As fortes enchentes no Rio Grande do Sul voltaram a causar grandes impactos no estado nas últimas semanas, despertando lembranças da grave tragédia de maio de 2024. Em alguns municípios, o volume acumulado de chuvas já ultrapassou 350 milímetros, patamar semelhante ao registrado durante a maior enchente do ano passado.
Até 21 de junho, pelo menos 125 municípios gaúchos foram atingidos, deixando mais de 6 mil pessoas desalojadas, 1.300 em abrigos e três mortes confirmadas. Os rios Jacuí e Taquari transbordaram e alcançaram níveis históricos, danificando estradas, pontes e acessos essenciais para o transporte de alimentos e outros produtos.
Os alertas vermelhos para diversas bacias hidrográficas evidenciam a fragilidade da infraestrutura urbana e logística do estado, ainda em processo de reconstrução desde a enchente anterior. As inundações no Rio Grande do Sul não afetam apenas a infraestrutura e o transporte, mas também comprometem o abastecimento de alimentos, com sérias consequências para a segurança alimentar das famílias.
Estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontou que cerca de 16% dos estabelecimentos que vendem alimentos no estado foram atingidos pelas águas. Isso representa mais de 15 mil pontos de venda fechados ou danificados em 92 cidades, sendo que, em alguns locais, quase metade do comércio de alimentos foi inundado.
Os desertos alimentares — regiões com escassez de estabelecimentos que comercializam alimentos saudáveis — ficaram ainda mais críticos. Estabelecimentos que vendem alimentos frescos, como hortifrutis, açougues e peixarias, foram os mais prejudicados. Por exemplo, quase 30% das peixarias do estado ficaram inoperantes, enquanto hortifrutis e açougues também sofreram grandes perdas.
Além disso, o comércio de alimentos ultraprocessados, como bares e restaurantes, foi significativamente afetado. Esse tipo de comércio, que já corresponde a cerca de 70% dos pontos de venda no estado, passou a ser uma das poucas opções acessíveis à população, o que agrava o risco à saúde nutricional, especialmente em um contexto de inflação nos preços de alimentos e bebidas.
Segurança alimentar em risco
A redução da oferta de alimentos in natura e o aumento do consumo de produtos ultraprocessados colocam em risco a segurança alimentar e nutricional da população gaúcha. Famílias afetadas pelas enchentes muitas vezes perderam eletrodomésticos essenciais para armazenar e preparar alimentos, como geladeiras e fogões, o que limita ainda mais o acesso a refeições saudáveis.
A reconstrução desigual também é um fator preocupante. Áreas de maior renda conseguiram se reestruturar mais rapidamente, enquanto comunidades periféricas ainda enfrentam dificuldades para retomar as atividades comerciais e garantir o abastecimento local de alimentos.
Com a intensificação de eventos climáticos extremos devido ao aquecimento global, como chuvas intensas e ondas de calor, é essencial fortalecer o sistema alimentar. Isso inclui estimular a produção local de alimentos; criar e manter estoques públicos estratégicos; implementar planos de emergência para garantir o abastecimento em situações de desastre.
Além disso, incluir o abastecimento de alimentos nos planos de resposta a desastres naturais. Fortalecer essas medidas é fundamental para garantir o direito humano à alimentação adequada e saudável, mesmo em cenários extremos causados pela emergência climática.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
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