O comentarista Charlie Pereira entrevistou neste sábado os representantes das empresas responsáveis por fabricarem as marcas próprias de Atlético, Goiás e Vila Nova. Enquanto rubro-negros e colorados constituíram uma parceria com a Tolledo Sport, a equipe esmeraldina alinhou seu projeto juntamente com a Super Bolla.
Representando a Dragão Premium e V43, Rodrigo Toledo, proprietário da Tolledo Sports; para contar um pouco mais sobre a Green33, Tarcísio Gaipo, presidente da Super Bolla. Entre os assuntos discutidos estão a relação das empresas com os clubes, como a pandemia do coronavírus afetou esse mercado, a idealização e vendas do terceiro uniforme e também o combate à pirataria.
Presidentes
Aos 36 anos, o empresário Tarcísio Gaipo já está à frente da empresa da família há alguns anos. Todavia, iniciou a carreira juntamente com a fundação da fabricante no ano de 1985. “Eu comecei a trabalhar desde que a Super Bolla existe. Eu tinha doze anos na época e quando meu pai fundou a empresa eu já comecei a trabalhar bem jovem e ajuda-lo. Com o tempo fui me desenvolvendo, estudei e ganhei experiência”, revelou.
Bem mais nova, a Tolledo Sports nasceu de forma inusitada. Vindo do interior de Minas Gerais para cursas medicina em Goiânia, Rodrigo Toledo viu sua empresa criar forma após idealizar projetos na faculdade em parceria com os centros acadêmicos dos cursos. Por isso, divide a administração da empresa com a profissão de médico.
“Meu pai mexe com fazenda e desde muito cedo eu também o ajudei e nunca pensei em mexer com a parte de confecção. Sou mineiro de Paracatu e em 2006 eu passei em medicina na PUC aqui de Goiânia e vim para fazer faculdade. Na época eu vendia semijoias era presidente do centro acadêmico. Entretanto teve um momento que nós queríamos ter o nosso espaço físico e a única fonte de renda era a camiseta. Comecei a procurar quem cortava e quem silcava, então inicialmente todo o trabalho foi terceirizado. Em 2012, quando me formei, minha ex-esposa começou a cuidar da empresa e eu fui para a medicina. Eu era 90% médico e 10% empresário. Em 2016 nós vestimos nossa primeira equipe, o Paracatu”, explicou.
Relação com os clubes
Apesar de ser mais jovem no mercado, foi a Tolledo Sports que iniciou aqui no estado o projeto de marca própria. Em fevereiro de 2019, juntamente com o Atlético Goianiense, idealizou e lançou a Dragão Premium que passou a ser responsável por vestir jogadores e torcedores rubro-negros.
“Nós temos que agradecer ao Adson e ao Atlético por acreditar na nossa empresa. Como eu falei, a gente começou a trabalhar com clubes em 2016 e estamos aprendendo a cada dia. Nosso desafio não é pequeno, então temos que mostrar todo dia que estamos trazendo novidades. O Adson através desse pioneirismo foi quem abriu as portas e nos deu a oportunidade de ser a primeira empresa e o primeiro clube a ter a marca própria aqui em Goiás”.
“A crise econômica de 2014 e 2015 fez com que os moldes fossem mudados. As vendas de camisa caíram muito e isso impactou na relação com os clubes, que juntamente com as fornecedoras precisaram buscar um modelo de negócio que desse um equidade para as duas partes”, destacou Rodrigo.
Segundo Tarcísio, a marca própria já é uma tendência e deve chegar a mais clubes posteriormente. A Super Bolla, por exemplo, já faz parte do projeto de três equipes brasileiras.
“A linha de uniformes com marca própria é algo novo no mercado nacional. A primeira equipe que vestimos dessa forma foi o CRB, depois o Náutico e agora o Goiás. Mas sim, o clube tem autonomia total. Lógico que cada contrato, relação de cada clube com a empresa pode mudar um pouco o modelo, justamente por ser aberto e se construir um negócio de várias formas. Citei esses três clubes que fazemos as marcas próprias e cada um tem suas particularidades”, afirmou.
Seguindo o exemplo do coirmão, o Goiás Esporte Clube também investiu na marca própria e lançou a nova coleção em julho do ano passado. “No caso específico do Goiás, o clube tem autonomia total. Participa no desenho da camisa, na cor, escolhe cada detalhe do tecido que vai usar. Quando lançamos essa primeira coleção o Goiás escolheu tecidos até mesmo exclusivos. Há uma liberdade muito grande. No nosso caso nós também operamos a loja do Goiás e comercializamos. Mas o clube define o preço, a promoção, as ações que serão realizadas”, pontuou o presidente.
Pandemia
E claro, como todos as atividades, o mercado da confecção também foi afetado pela pandemia do novo coronavírus. Principalmente com a paralisação do futebol, que também provocou a diminuição nas vendas de materiais esportivos e produtos licenciados dos clubes. “Eu diria que de 80 a 90% do nosso faturamento foi afetado. Se não buscarmos uma alternativa, talvez nós poderemos ir até a falência”, revelou Tarcício Gaipo.
Por isso, a empresa precisou suspender algumas atividades, suspender contratos e também se reinventar na produção.
“Quando o Governador divulgou o primeiro decreto nossa atitude inicial foi dar férias coletivas por 15 dias. Nesse tempo uma das alternativas que a gente viu para ter a empresa viva, voltar os colaboradores e demitir o mínimo possível foi se envolver na fabricação de produtos relacionados ao combate ao coronavírus. Começamos a fabricar avental, máscaras e depois desses 15 dias voltamos com algumas pessoas para desenvolver esse material. Quem não voltou para a produção nós tivemos que suspender os contratos de grande parte dos nossos colaboradores. Quem estava em contrato de experiência, nós precisamos encerrar”, disse.
O cenário é praticamente o mesmo vivido pelos proprietários da Tolledo Sports. “Hoje estamos trabalhando na casa de 30 a 40% das nossas operações, fazendo material esportivo, mas mais relacionado ao processo de produção de máscaras”.
Rodrigo Toledo ainda comentou que a empresa tinha a intenção de aumentar a produção nesta temporada, já que além do Atlético, no início do ano também firmou parceria com o Vila Nova na fabricação dos produtos da V43.
“A expectativa era muito boa, 2020 de um modo geral prometia bastante, a gente conseguiu se preparar e era a hora de crescer bastante nessa questão de produção. Esse ano nós contratamos mais de 30 pessoas no período de janeiro e fevereiro, e agora uma parte foi desligada. Nós fomos pegos de surpresa. Eu, até fevereiro, imaginei que não fosse chegar”, analisou o médico.
Terceiro uniforme
Além da responsabilidade de pensar na tradição do uniforme número 1 das equipes, juntamente com os clubes, as empresas também precisam ser criativos na hora de pensarem no terceiro uniforme. Em 2019, por exemplo, a camisa número 3 do Goiás foi sucesso entre os torcedores.
Tarcísio Gaipo e o terceiro uniforme do Goiás (Foto: Arquivo Pessoal)
“É relativa essa questão de vender mais ou menos. Interfere o quanto essa camisa vai cair no gosto do torcedor porque quando se fala de uniforme número 3 já pressupõe fazer algo diferente, aquilo que não está no estatuto do clube e trazer uma novidade. Na maioria dos clubes que nós lançamos foi bem aceito e tivemos uma vendagem muito boa. Via de regra sempre tivemos muito sucesso nessas camisas. A do Goiás no ano passado foi um sucesso total e depois que nós lançamos, passou a vender mais que camisa número 1. O próprio clube gostou tanto que começou a usar bastante nos jogos”, explicou Tarcísio.
O sucesso foi ainda maior no Atlético Goianiense que, ao lançar uma camisa quadriculada, inovou e surpreendeu a torcida atleticana. Diferente, o uniforme número 3 caiu no gosto do torcedor e bateu recorde de vendas.
Rodrigo Toledo e os uniformes de Atlético e Vila Nova (Foto: Arquivo Pessoal)
“O terceiro uniforme no ano passado foi sucesso e a camisa que mais vendeu. Quando fomos desenvolver essa camisa quadriculada, eu comprei essa briga juntamente com o Adson Batista. Nós temos que pensar bastante no que vai ser feito porque a torcida é muito exigente, então se inovar demais você corre alguns riscos. Naquele momento nós queríamos um diferencial para estimular, a intenção era bater o recorde de venda no ano e nós conseguimos com a quadriculada”, comemorou Rodrigo.
Pirataria
Enquanto comemoram o sucesso das marcas próprias, os empresários também lamentam uma ação comum há anos neste seguimento: a pirataria. Ainda é comum ver ambulantes vendendo camisas falsificadas próximo aos estádios em dia de jogos, e mais comum ainda ver torcedores com esses uniformes durante as partidas.
Na visão de Tarcísio, quando os clubes assumiram a produção de seus materiais esportivos, a torcida começou a abraçar mais o produto oficial. Porém, é preciso maior fiscalização por parte das autoridades.
“É um grande problema. Eu já sofri mais no passado vestindo Atlético e Vila Nova. Com o Goiás no ano passado eu vi pirataria, mas com a marca própria nós conseguimos ter mais flexibilidade. Por exemplo, nós fizemos uma camisa do Goiás de R$ 69,00 e esse ano de R$ 59,00, então nós inibimos muito. O que eu sinto é que não há um empenho dos órgãos governamentais que deveria interferir e combater isso. Essa prática rouba tributos, rouba os clubes de ganharem royalties. Vejo que é um problema sim, mas também é uma consciência do torcedor”, analisou o presidente da Super Bolla.
Assista na íntegra a entrevista de Charlie Pereira com Rodrigo Toledo e Tarcísio Gaipo, representantes da Tolledo Sport e Super Bolla, respectivamente: