Inclusão, essa é a palavra que proporciona oportunidades igualitárias para todos e todas. Sabemos que, infelizmente, os direitos iguais não funcionam como deveriam para as pessoas com deficiência. Entretanto, com as leis, projetos e ações em prol a inclusão, diversas pessoas com deficiência são integradas à educação e trabalho.

Como no caso do Weverton Ferreira Silva, nascido em Goiânia, aos 24 anos ele se tornou o primeiro cego formado em educação física em Goiás pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) em 2021/2. Atualmente, com 26 anos de idade ele faz parte do futebol de cegos da Associação de Cegos para Esporte e Lazer de Goiás (Acelgo). O atleta contou que ficou cego há 10 anos e conheceu a Acelgo através do esporte.

“Eu nasci com a baixa visão. A baixa visão para quem não conhece é uma pessoa que enxerga as coisas de perto dependendo da distância. Existe a visão central e a periférica. A minha visão, quando eu tinha baixa visão, era totalmente central e com 15 anos eu perdi a visão total com a catarata congênita. Mesmo operando ela toma conta de toda a visão. Com 16 anos, eu passei a ser atleta de futebol, que é o antigo futebol de 5 e hoje é o futebol de cegos. E, também, entrei para o atletismo”, contou Weverton.

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Educação Física

Em 2013, Weverton conheceu o professor João Turíbio (técnico da Acelgo e diretor de Paradesporto da Secretaria Municipal dos Esportes de Goiânia), na mesma época que conheceu o projeto. Eles se tornaram amigos e, desde então, o técnico acompanhou sua perda de visão e o incentivou a ingressar em uma universidade.

“Eu conversei com o João Turíbio em 2013, foi quando iniciei o esporte e nessa época eu tinha baixa visão. Fui perdendo aos poucos a visão por causa da catarata. Conversei com ele porque sempre gostei do esporte e perguntei pra ele se poderia trabalhar com educação física. Ele disse que sim. Então, através do atletismo e futebol eu fui tendo uma percepção da metodologia que eles trabalhavam e eu consegui tirar da audição tudo o que os atletas faziam”, afirmou.

Em 2017, o atleta realizou o seu sonho, passou no curso de Educação Física na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Weverton disse que a sua paixão por esporte o motivou a concluir seu curso.

“Minha grade atrasou então me formei em março do ano passado. Por ser apaixonado por esporte e o desejo de trabalhar na profissão é o que mais motivou a minha graduação. Eu acabei descobrindo que eu seria o primeiro cego a cursar educação física no Estado de Goiás e o primeiro a graduar”, ressaltou.

Vitória

De acordo com o Weverton, ser o primeiro cego a se formar em educação física em Goiás foi motivo de conquista. Para ele, quem faz a inclusão são os próprios deficientes.

“Primeiro porque a gente tem um sistema universitário que não acolhe a pessoa com deficiência no geral, falando da deficiência visual, intelectual e física. Então, pra gente ir em uma universidade, principalmente nós que temos deficiência, temos que chegar com o pensamento que a inclusão é nós que fazemos. A gente vai para o ensino superior e não tem todo recurso de acessibilidade. Ou seja, para uma pessoa com deficiência ser incluída ela precisa fazer sua inclusão”, afirmou. E deseja que todas as pessoas com deficiência também façam graduações.

“Através da comunicação eu fiz minha graduação e hoje eu me sinto realizado. Não pretendendo ser o único formado em educação física em Goiás como cego, eu quero abrir portas para muitos” afirmou o atleta.

Tranformação de vida

Além disso, o esporte foi um grande auxiliador na jornada de Weverton Ferreira, pois não se trata apenas de exercícios físicos. Foi através do esporte que ele teve sua vida restaurada.

“Eu vejo o esporte hoje como restauração de vidas. Por ser uma pessoa com deficiência, o esporte me tirou da minha zona de conforto. Foi o que me levou a fazer orientação em mobilidade e a ter minha total independência que eu tenho hoje. Eu cheguei nos meus pais e na minha família e disse que queria fazer uma graduação. Acabei me realizando como ser humano. Ele (esporte) ajuda as pessoas que tem esse interesse em garantir sua independência e não ficar na superproteção. Então o esporte vem como restauração de vida. Por ser um atleta do futebol e fazer parte do centro de referência e atuar no que eu gosto… eu me sinto realizado”, finalizou.

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