Na segunda carta endereçada a comunidade internacional, publicada na quinta-feira (8), a presidência brasileira da 30ª sessão da Conferência das Partes (COP 30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) convocou o mundo para passar da visão para a ação ao conclamar que a comunidade internacional se mobilize diante da urgência climática.
O documento assinado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP 30, expressa preocupação com a confirmação do relatório “Estado do Clima Global” da Organização Meteorológica Mundial (OMM) de que 2024 foi o ano mais quente já registrado na história.
“Os sinais da mudança do clima causada pelo ser humano atingiram novos patamares desde a publicação de minha primeira carta à comunidade internacional, em março”, destaca a publicação. A primeira carta do embaixador já trazia para a comunidade internacional a necessidade de refletir acerca de valores humanos como paz e prosperidade como um teste da nossa capacidade de adaptação e inovação na construção de um futuro comum.
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União por esse futuro comum
André Corrêa do Lago lista o aumento da temperatura dos oceanos, a diminuição da cobertura do gelo marinho e da massa das geleiras e o crescente nível do mar como “sinais claros” de que há uma crise planetária.
Pontua também que questões geopolíticas, socioeconômicas e ambientais são desafios para o multilateralismo, para a conexão da crise climática à vida real das pessoas e a implementação do Acordo de Paris. Por isso, conclama a união da comunidade internacional em torno do problema.
“Unidos, podemos reverter a perigosa tendência rumo a colapsos sistêmicos sucessivos, em efeito dominó. Juntos, podemo-nos apoiar uns aos outros, evitando uma reação em cadeia potencialmente devastadora e desencadeando, em vez disso, “ações em cadeia” para soluções exponenciais de baixo carbono e resilientes ao clima. Ainda que o desafio seja imenso, temos de nos erguer e confrontá-lo”.
A intenção do presidente da COP 30, como expressado na carta, é direcionar a discussão da conferência em quatro frentes: mobilização global; agenda de ação; negociações formais; e cúpula de líderes. Esses quatro eixos representam para a presidência brasileira uma contribuição para “um ponto de inflexão em nossa luta climática”.
Mutirão Global
A presidência da COP 30 lançou um experimento inédito de mobilização chamado “Mutirão Global”, com o objetivo de criar condições para um ponto de inflexão na mudança do clima. “O Mutirão Global vai procurar despertar um movimento para mobilizar a humanidade em sua transição para o futuro, apoiado por uma moldura global capaz de integrar ações locais”, destaca.
O pontapé inicial do Mutirão Global será durante a Semana do Clima da UNFCCC em 2025 que será realizada na Cidade do Panamá, entre 19 e 23 de maio. A ideia do mutirão passa por sair de promessas para iniciativas efetivamente realizadas, viabilizando assim a capacidade de ação de outros.
Ao exemplificar o que seria essa visão do mutirão, a carta destaca ações como a adoção de práticas regenerativas na agricultura, projetos liderados por jovens que instalem painéis solares em comunidades carentes e comunidades afrodescendentes que criem programas de conscientização climática para cidades.
“O mutirão é muito mais que um esforço conjunto ou uma força-tarefa. Essa forma de mobilização — de baixo para cima, sem hierarquia — surge, espontânea e organicamente, quando há uma necessidade urgente ainda não atendida. Espelhando as experiências da vida real – seja em comunidades indígenas, comunidades periféricas urbanas afrodescendentes ou em outras coletividades –, a moldura do Mutirão Global acolherá indivíduos e organizações para que apresentem “contribuições autodeterminadas”, usando sua experiência, tempo e/ou recursos para enfrentar de forma sustentável os desafios climáticos, por meio de intervenções e impactos positivos em todos os níveis – do local ao global”, detalha a carta.
Da visão à realidade
O documento da presidência da COP 30 também atualiza os últimos movimentos do Brasil em relação a conferência. Uma das iniciativas de mobilização pontuadas são os quatro Círculos de Liderança: Círculo dos Presidentes das COP, Círculo dos Povos, Círculo de Ministros da Fazenda e Círculo do Balanço Ético Global.
“Como ondas que se formam e se fundem em uma implacável corrente, esses círculos fluirão juntos, canalizando a sabedoria coletiva para gerar renovação e evolução”, pontua. Uma das sessões da carta conclama o mundo a preparar-se desde já para o imponderável, recorrendo à ciência e à sabedoria ancestral. No texto, o presidente da COP 30 pede uma reflexão sobre formas de fortalecer a governança global.
“A Presidência da COP 30 convida líderes comunitários, acadêmicos e cientistas a explorar a melhor ciência disponível e a sabedoria ancestral para identificar como nossas instituições podem ganhar exponencialidade no emprego de soluções e versatilidade na resposta ao imprevisível, incluindo mediante capacidades ágeis, iterativas e adaptativas para enfrentar a crise climática”.
Legado de 2025 para a agenda climática
Por fim, a carta é um pedido de abraço a complexidade do assunto para aprimorar a cooperação na implementação de uma governança sustentável. Imaginando 2028, André Corrêa do Lago afirma que 2025 será um ano lembrado como um momento de alinhamento global, “quando governos, comunidades, empresas e instituições se uniram para mudar a trajetória do relacionamento da humanidade com o planeta”.
“Olhando para o futuro, a COP 30 oferece oportunidade única de darmos o próximo passo. Belém será um momento significativo, no qual nossa visão compartilhada começará a tomar forma como nossa nova realidade. A COP 30 pode estabelecer as bases para o segundo Balanço Global, a ser concluído na COP 33, servindo como ponto de inflexão em nossa transição histórica que terá preenchido lacunas e traçado o caminho para uma nova era de prosperidade sustentável e inclusiva”, conclui a carta.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 13 – Ação Contra a Mudança Global do Clima.
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