O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) formalizou nesta terça-feira (14/4) a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. Ele decidiu apensar dois requerimentos de CPI para investigar a atuação do governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de coronavírus, assim como o uso de recursos federais por Estados e municípios na contenção da crise sanitária. Agora, as lideranças de partidos e de blocos no Senado terão que indicar os membros que integrarão a CPI da Covid, obedecida a proporcionalidade.

Em entrevista à Sagres, o senador Jorge Kajuru afirmou que que o ideal seria abrir duas CPIs diferentes, mas concordou com a junção das propostas. “Eu fiquei preocupado dos dois requerimentos estarem juntos, tanto a investigação do governo federal quanto dos governos e municípios, mas assim fica melhor. Não terá tanta gente para ser questionada ou ouvida. Uma CPI com mais de 5 mil prefeitos e 27 governadores poderia gerar confusão e prejudicar o foco principal que é enfrentamento pífio do Governo Federal contra a pandemia”, criticou.

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Para Kajuru, o governo de Jair Bolsonaro demorou reagir e adotar medidas para combater o avanço da pandemia. Ontem, o país registrou mais de 3.600 mortes em 24 horas provocadas pela Covid-19. “Foi um despreparo. Ele (Bolsonaro) disse que era uma gripezinha, depois afirmou que não iria se vacinar porque ia virar jacaré e não quis comprar vacina da china. Além disso, provocou aglomerações em locais públicos e andou sem máscara, num desprezo total pela ciência. Colocou ministros despreparados e sem conhecimento técnico”, citou.

Ouça a entrevista na íntegra:

O parlamentar reforçou que não aponta essas ações como criminosas, porque estaria sendo “revanchista”. “Eu, politicamente, não quero entrar nessa área porque dá posição de rancor. A CPI não prende e não pode empeachemar ninguém. Ela oferece as provas à justiça para que ela tome a decisão se houve ou não crime de responsabilidade”.

RELAÇÃO TRINCADA

Após a divulgação da conversa telefônica, a relação de Kajuru e Bolsonaro foi abalada, mas o parlamentar garante que vai manter a postura de não ser contra o governo. “Não guardo mágoa. O cristal foi quebrado e não temos mais o relacionamento por meio telefônico. Vou manter minha independência e postura de querer o bem para o Brasil”, afirmou.  

Kajuru explicou que Bolsonaro sabia que o conteúdo da conversa seria divulgado. “Na segunda, alguém falou pra ela sobre a repercussão e ele se irritou comigo. No próprio domingo, ele poderia entrar na internet, como ele entra todo dia, e se manifestar contra a gravação que foi ao às 13h. Eu perguntei a ele se poderia divulgar a gravação e ele me autorizou”, explicou.

CPI DA COVID

A CPI vai apurar eventuais irregularidades em estados e municípios, conforme proposta do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), desde que “limitado às fiscalização de recursos da União repassados aos demais entes federados para combate da pandemia”. No caso do governo federal, a CPI deve investigar questões como a responsabilidade da União na falta de oxigênio no Amazonas, o atraso na compra de vacinas e uso de dinheiro público na compra de medicamentos sem comprovação científica (como a hidroxicloroquina), entre outros temas.

A partir de agora começa a indicação de membros da CPI, que deve ser feita em até 10 dias. Os líderes partidários indicarão os membros da CPI conforme a divisão de vagas a que cada bancada tem direito. A CPI é formada por 11 membros titulares (3 para MDB/PP; 2 para PSDB/Podemos; 2 para o PSD; 2 para DEM/PL/PSC; 1 para Rede, Cidadania, PDT e PSB; 1 senador para PT e Pros). Há ainda sete suplentes.

Kajuru disse que está fora da comissão, o que, na visão dele, é injusto. “Era o sonho do governo que eu estivesse fora da CPI. Como agora estou no Podemos, pode ser que o Podemos encaixe o meu nome por ter direito a três vagas titulares. Pode ser que mude. Não me parece justo eu ficar fora da CPI sendo que eu junto com o Alessandro Vieira fomos os responsáveis pela CPI. Nós que entramos no STF e obtivemos a vitória ao cair nas mãos do ministro Barroso”, argumentou.

Mesmo fora, o senador afirmou que vai auxiliar as investigações. “Sei de tudo que aconteceu pela minha amizade de 10 anos com o ex-ministro da Saúde, Mandetta”.