O senador Jorge Kajuru confirmou em entrevista à Sagres, nesta quarta-feira (14), que deixou o Cidadania e agora faz parte do Podemos. A mudança ocorre após o Cidadania convidar o senador a se retirar do partido depois da divulgação de uma conversa gravada entre Kajuru e o presidente da República, Jair Bolsonaro.

O senador afirma, porém, que pediu para deixar o partido há dois meses, em diálogo com o presidente do Cidadania, Roberto Freire. Segundo Kajuru, os colegas de bancada no senado, Alessandro Vieira e Eliziane Gama pediram para que ele aguardasse. “Esperei até quando deu para aguentar”.

O fato do Cidadania priorizar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mais focada no Governo Federal, sem a ampliação para Estados e Municípios foi o motivo de sua saída. “Para mim, aí é uma CPI politiqueira e revanchista. E aí eu mesmo liguei para o presidente e falei, ‘presidente, chegou a hora, pode fazer a carta do senhor aí que eu faço a minha aqui’.

Entenda

A executiva nacional do Cidadania afirmou na segunda-feira (12/4) que convidaria o senador Jorge Kajuru (GO) a se retirar do partido. Caso contrário, os dirigentes iriam abrir um processo de expulsão do parlamentar da legenda. O partido considerou que Kajuru agiu como alguém “subserviente” ao presidente Jair Bolsonaro na conversa que os dois mantiveram no último sábado.

Na ocasião, Bolsonaro orientou o senador a direcionar os trabalhos da CPI da Covid de forma que as investigações não o prejudiquem, além de ataques coordenados ao Supremo. Kajuru não contesta as orientações do presidente. Em outra frente, eles falam sobre avançar pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A conversa foi vista pelos ministros do STF como um “teatro armado para constranger os magistrados“.

Confira, na íntegra, nota divulgada pelo Cidadania com pedido para que Jorge Kajuru se retire do partido:

O Cidadania reafirma a defesa intransigente da instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia conforme requerimento que tem como primeiro signatário Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e que foi subscrito pela bancada do partido no Senado. O fato determinado dessa CPI são as ações e omissões do Governo Federal na pandemia, em especial no agravamento do quadro no Amazonas, em que a falta de oxigênio levou a mortes por asfixia. ⠀

Foi essa CPI, com esse objeto, que o Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão liminar tomada em Mandado de Segurança impetrado pelo Cidadania, mandou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalar. O ministro Luís Roberto Barroso seguiu jurisprudência já estabelecida na Corte, garantindo um direito constitucional da oposição no Congresso Nacional.⠀

O papel central do Governo Federal na escala industrial de mortes em curso não pode ser ignorado, até por ser ele a cabeça do Sistema Único de Saúde (SUS). A ele, cabiam diretrizes nacionais de enfrentamento e de tratamento, focado desde o início em medicamentos ineficazes. A ele, cabiam campanhas nacionais de informação. A ele cabia a compra e distribuição de vacinas. A ele, cabe, no atual estágio, a decretação do necessário isolamento social. Também ao governo federal competem medidas amplas e efetivas de compensação financeira a empresários e trabalhadores na interrupção de suas atividades, tal como ocorreu nos mais diversos países.⠀

Há opiniões divergentes quanto à ampliação do escopo da CPI para incluir governadores e prefeitos, uma vez que interessa ao presidente expiar suas culpas jogando-as no colo dos únicos que efetivamente agiram contra o avanço da Covid-19 – mesmo constantemente sabotados pelo presidente e por seu Ministério. É, no entanto, uma opinião a ser respeitada e debatida, uma vez que alguns chefes de Executivo praticaram atos alinhados com as omissões do presidente.

O Cidadania se orgulha da posição de liderança no cenário nacional assumida pelo senador Alessandro Vieira (SE), seja no enfrentamento da pandemia, seja no combate à corrupção, na fiscalização do Executivo ou na mitigação da tragédia social que atinge e empobrece a nossa população. Se o país discute a instalação de uma CPI e a indicação de seus integrantes, é por seu papel como líder do partido no Senado e signatário do Mandado de Segurança.

O Cidadania também reafirma a defesa irrestrita do Estado Democrático, dos valores republicanos e da separação entre os Poderes, especialmente do papel da Suprema Corte como guardiã da Constituição. Esses valores são diametralmente opostos aos observados na conversa do senador Jorge Kajuru com o presidente Jair Bolsonaro, em que flagrantemente se discute e se comete um crime de responsabilidade. E, nesse sentido, o partido fará um convite formal, com todo o respeito pelo senador, para que ele procure outra legenda partidária.

Por fim, o Cidadania condena, de forma veemente, não apenas a interferência do Executivo no Senado Federal como também a tentativa clara de intimidação aos ministros do STF, o que também deve ser merecedor de total repúdio da sociedade brasileira.

Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania