Livros, coleções bibliográficas, documentos, prateleiras, seções, computadores, silêncio. Um local limpo e organizado, tudo impecável. Historicamente, contudo, uma biblioteca sempre foi tida como um ambiente pouco acolhedor, austero. Quem não tinha bom comportamento em sala de aula, por exemplo, era levado para lá como uma espécie de punição. O que não se sabia era que atitudes como estas cultuavam a desvalorização da leitura. Porém, nem todo mundo sabe que essa mudança no pensamento da sociedade só seria possível graças ao trabalho de pessoas como a Ana Maria Nogueira Pinto. Desde 1995, ela exerce uma profissão fundamental: bibliotecária. O ofício foi destaque no especial Profissões do programa Tom Maior.

“Eu amo ser bibliotecária, porque, certa vez, uma criança de 10 anos estava em uma biblioteca escolar, e essa criança perguntou a mim se eu conhecia o curso de biblioteconomia. Eu disse que não, e ela me falou que iria me trazer um folheto, que o pai dele trabalhava na UFG e que eu iria conhecer o curso. Isso fez com que eu tivesse a curiosidade, me inscrevi e hoje sou bibliotecária do Sesc há mais de 20 anos”, afirma Ana Maria.

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Segundo Ana Maria, na rotina do Sesc Centro, em Goiânia, o fluxo de trabalho é bastante dinâmico, com atividades culturais, encontro de escritores, hora do conto, oficinas literárias, processos criativos, entre outros.

“Além de organizar as estantes, porque isso é uma habilidade da bibliotecária, já que a gente vai para a universidade e durante quatro anos estuda os códigos de classificação, os CDU, a gente sabe exatamente como guardar um livro na estante, por isso a gente não se perde.

Só na unidade do Sesc Centro, são cerca de 23 mil livros. Organizar, catalogar, gerenciar informações, realizar projetos culturais. Tudo isso faz parte do dia a dia do profissional de biblioteconomia.

Inspiração

Como em toda biblioteca, é possível encontrar pessoas de todas as idades, e todas valorizam o trabalho da Ana Maria, inclusive quem divide com ela as tarefas do dia a dia. Nesse sentido, a Ana Maria ainda é inspiração para as colegas.

Ana Maria e Aparecida de Fátima trabalham juntas na biblioteca do Sesc Centro (Foto: Sagres TV)

“A Ana Maria é uma mulher dinâmica, uma excelente profissional. Eu procuro sempre estar me inspirando e aprendendo com ela todos os dias. O meu ramo não era biblioteca, tem pouco tempo que estou aqui, e é um universo novo para mim. Ela me abre um leque de opções, de possibilidades e desenvolvimento pessoal também”, diz a auxiliar de bibliotecária, Nilva Galembeck.

“Ela é muito zelosa, ela ama o que ela faz. Além disso, ela é muito ansiosa, muitas vezes até passa um pouco dessa ansiedade para a gente, porque ela quer tudo muito rápido, ela é muito dinâmica. Ela é um exemplo de profissional para mim, tanto que fui eu que pedi para vir para cá”, afirma Aparecida de Fátima, que também auxilia Ana Maria na unidade.

Como toda bibliotecária, ela tem as suas predileções literárias. Admiradora das obras de Clarice Lispector, como “Felicidade Clandestina, Ana Maria inspira quem frequenta a biblioteca.

“Eu vim de uma família que não tinha o hábito da leitura. Assim que eu tive minhas filhas, eu já contava histórias para elas e vi a necessidade, porque a busca por aprendizagem deve acontecer sempre. Eu fiz questão, e hoje minhas filhas adoram ler. Aqui na biblioteca, a Ana Maria é sempre muito receptiva, muito agradável com a gente, troca informações. É um elo muito grande entre nós”, diz a visitate Lenise Dayrell Lages.

Lugar de acolhimento

Quem igualmente não perde uma visita na biblioteca é o pequeno Enzo, de apenas 5 anos. Desse modo, a mãe conta que o filho aprende as coisas essenciais do dia a dia por meio da leitura.

“Em casa, eu estou enfrentando dificuldade com o Enzo em relação ao acordar e se vestir. Foi aí que a Ana Maria me ajudou, porque ela indicou uma historinha do Marcos e da Sofia. Então eu conto essa história para ele, porque lá em casa é quase a mesma coisa”, afirma Polianna Vilela, mãe do Enzo e estudante de psicologia.

Ana Maria se dedica à profissão há trinta anos (Foto: Sagres TV)

Só uma bibliotecária raiz, no entanto, se recorda dos tempos em que a biblioteca era tida como local de castigo, ou quando os livros sofriam mutilações, com páginas rasgadas ou cortadas. Com a digitalização, todavia, tudo ficou mais seguro e preservado.

“Biblioteca é lugar de silêncio, né? Quando você ia para a escola, o castigo era ir para a biblioteca. A diretora já mandava ‘vai para a biblioteca’. O contexto das bibliotecas do Sesc têm outro sentido, até porque aqui nós temos alegria. Quando as pessoas procuram a biblioteca do Sesc para estudar, ela não está procurando silêncio, ela gosta muito dessa coisa da vida que rola aqui dentro, essa dinamicidade”, conclui.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico

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