O tema nesta edição [#261] do Debate Super Sábado foi o aumento significativo de jovens que, por algum motivo, perderam o interesse ou abandonaram os estudos durante a pandemia do novo coronavírus e não trabalham. Segundo dados do IBGE, mais de 11 milhões de brasileiros figuram na faixa de 14 a 24 anos, deixando o País em estado de alerta quanto à educação. Por isso é preciso buscar soluções para diminuir o índice dos jovens que “nem estudam, nem trabalham”, conhecido popularmente como “nem-nem”. A União europeia tem buscado implantar soluções para reverter este quadro em seis países: Espanha, Portugal, Itália, Romênia, Holanda e Suécia.

As causas que levam a juventude a ignorar os estudos, principalmente durante a pandemia da covid-19, são falta de oportunidades, desemprego, ausência de perspectiva na vida e a precariedade em que vivem, já que precisam contribuir na renda familiar. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), durante a pandemia, 35,9% dos jovens de 18 a 24 anos no Brasil chegou ao estado de vulnerabilidade quanto à educação.

Para debater sobre o assunto, foram convidadas a doutora em Educação Malu Ramos, o vice-presidente do Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE) Marcos Elias Moreira, e a mestre em Educação, professora aposentada e pró-reitora de graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e vice-reitora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e conselheira do CEE, Eliana Maria França Carneiro.

Assista ao debate dentro do Sagres Sinal Aberto – Edição de Sábado, à partir de 01:05:30

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o termo apropriado é “sem, sem” ou seja, “sem estudo, sem trabalho”, já que o abandono dos estudos não foi por opção e sim pelas condições de vida que levaram os jovens para essa situação. Para os especialistas, um dos principais fatores além da falta de políticas públicas, é que as escolas não tem proporcionado sentido na vida dos jovens e o ensino médio não é tratado com a devida importância e cuidado. Para a Conselheira do CEE Eliane França, as aulas remotas dificultaram ainda mais a vida do adolescente, gerando o desinteresse quanto à educação.

“Os nossos alunos tinham acesso pelo celular, mas a internet era ruim, fraca e muitos começaram a desistir, abandonaram. Com a volta, parece que a rede pública está funcionando uma semana na escola e uma semana em casa. Em casa, é semana com tarefas. Mas como um menino vai fazer tarefa sem explicação?” questionou Eliane.

Outro ponto destacado durante o debate, é a saúde mental. A Pfizer Brasil pediu a Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), um levantamento sobre o psicológico da população. Na pesquisa, foi constatado que a tristeza atingiu 42% das pessoas, a insônia e a irritação, 38%, angústia ou medo, 36% e crises de choro, 21%. Sobre esse assunto, a doutora em Educação Malu Ramos, alertou sua preocupação com os alunos.

“Uma coisa que percebi muito nesse período, que antes de estudar, de trabalhar, uma coisa que ficou muito evidente foi a busca pela saúde mental. Então, assim, eu percebi em muitos dos meus alunos do ensino superior, a necessidade de ser acolhido. Tive alunos que indiquei para psiquiatra” declarou Malu.

Outro fator que implica o retorno às aulas de alguns jovens é a gestação precoce. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) constatou que em 2019, 7,9% das meninas do 7° ano do Ensino Fundamental ao 3° ano do Ensino Médio tiveram relações sexuais e engravidaram. O vice-presidente do CEE Marcos Elias Moreira ressaltou o impacto da gravidez na adolescência.

“Nós descobrimos incialmente que uma parcela significativa dos jovens e adolescentes engravidam e, em alguns casos, abandonam tanto a escola quanto o trabalho para criar o filho ou a filha. Esse fenômeno exige uma politica especifica dentro daquela expectativa. Um filho desse casal também vai ficar prejudicado no seu processo educacional, porque ambos não vão ter qualificação adequada para o mercado de trabalho” afirmou Marcos Elias.

Ananda Leonel é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o Iphac e Unialfa sob a supervisão do jornalista Denys de Freitas