A pandemia e a queda no número de usuários diários apontaram para a necessidade de um debate sobre novas formas de financiamento do transporte público em todo mundo. Na região metropolitana de Goiânia, a Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo lançou novas estratégias para modernizar o serviço.

Em fevereiro, a Câmara Deliberativa do Transportes Coletivos (CDTC) teve a primeira reunião de 2022 para tratar da reformulação do transporte, com base na Lei Complementar 169, de 29 de dezembro de 2021. A reformulação propôs mudanças na forma de tarifação, novos produtos tarifários, renovação da frota para o Eixo Anhanguera, plano de implantação do BRT Norte-Sul, transformação do aplicativo SIM-RMTC, além de novos serviços complementares como o Citybus 3.0.

Há ainda previsão de serviço de bicicletas compartilhadas, conectado aos terminais de integração e programa de implantação, reforma e manutenção de abrigos e pontos de parada de ônibus. Para debater sobre as alterações, a Sagres convidou o engenheiro de transportes e professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rhoten; o coordenador técnico do Fórum de Mobilidade Mova-se, Miguel Angelo Pricinote; e o secretário executivo do Instituto Movimento pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade (MDT), Wesley Ferro Nogueira.

Ouça o debate:

O bilhete único permite até quatro integrações, a partir da primeira viagem, com a cobrança única da tarifa de R$ 4,30. O passageiro que preferir pode pegar uma segunda condução sem a necessidade de pagar uma nova passagem. O engenheiro de transportes e professor do IFG Marcos Rhoten disse acreditar que a mudança será positiva para os passageiros.

“O usuário vai poder usar o bilhete quatro vezes ao dia. Por que as pessoas precisam pagar pouco? Vão querer diminuir o valor que as empresas vão ter que pagar o vale transporte, então nós precisamos ter essas situações para saber o que estamos pagando e que seja duradouro. Os benefícios precisam ser para os usuários, para nós que queremos usar o ônibus, para a sociedade como um todo” afirmou Marcos.

O bilhete eletrônico é usado nos transportes públicos, pelo pagamento do valor das passagens por meio de dispositivos especiais, como o cartão inteligente. “Desde que surgiu a bilhetagem eletrônica para que fizesse o controle, para pegar mais de um ônibus, os terminais se tornaram desnecessários” explicou Marcos.

O secretário executivo do Instituto MDT, Wesley Ferro, declarou que a sociedade precisa ter participação efetiva no debate sobre as mudanças no transporte para que as decisões não sejam tomadas apenas pelo Poder Executivo.

“Nós precisamos mostrar claramente para a sociedade o que esta acontecendo, o que vai avançar com essas mudanças. Esse processo de discussão que Goiânia insere traz um ganho de qualidade para a cidade como a discussão do bilhete único. É uma discussão atrasada”, alertou, frisando que em Brasília já existe a experiência do bilhete único, em que é possível fazer três viagens no período de três horas.

Wesley avaliou a separação da tarifa técnica, que considera todo o custo de sistema, e a tarifa do usuário, que é cobrada do passageiro na catraca.

“A diferença entre o custo do sistema e o custo que o usuário paga sendo bancada pelo subsídio publico mostra responsabilidade e garante que o transporte é um direito social estabelecido pela constituição. É fazer o que já esta estabelecido na legislação, que é desestimular o uso de automóveis dentro da cidade, qualificar o transporte público, fortalecer os modais ativos, como a circulação a pé e bicicleta. Reduzir os espaços e privilégios que os automóveis têm dentro da cidade”, defendeu o secretário.

O técnico do Fórum de Mobilidade Miguel Angelo apoiou a diferenciação entre as tarifas do usuário e técnica. Segundo ele, a aplicação de subsídio público faz com que a qualidade do serviço seja efetivamente definida pelos governos e não apenas pelas empresas concessionárias.

“Vai ser o principal financiador e deixa de ser restrita a capacidade de pagamento do usuário. Então, isso pode facilitar a melhora e incremento da frota em Goiânia ou em qualquer outro sistema do país”, explicou Miguel.

Assista o debate no Sagres Sinal Aberto: