Neste último mês do ano, a campanha Dezembro Vermelho ganha destaque no Brasil, trazendo discussões sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS. Criada para combater o preconceito e promover a informação, a iniciativa também reforça os avanços no enfrentamento da doença.
De acordo com a médica infectologista Marianna Tassara, em entrevista ao Sistema Sagres, o Dezembro Vermelho tem duas grandes metas. “A primeira é contra o preconceito das pessoas que vivem com HIV/AIDS. As pessoas precisam entender como é a transmissão, como podem se cuidar e conviver normalmente com quem tem HIV sem pegar a doença”, explicou.
Tassara enfatiza que o HIV não é contagioso de forma simples e que atualmente há diversos medicamentos e métodos de prevenção eficazes. A segunda meta é incentivar o diagnóstico precoce, promovendo a realização de exames regulares. “As pessoas devem fazer testes de DST e AIDS pelo menos uma vez ao ano. Descobrir precocemente é essencial para iniciar o tratamento, melhorar a qualidade de vida e evitar a transmissão. Quando tratamos, o HIV não é transmitido”, destacou a especialista.
Avanços no diagnóstico e tratamento
Nos últimos anos, o Brasil registrou importantes progressos no diagnóstico e tratamento do HIV. “Hoje, é possível fazer o teste rápido em qualquer posto de saúde. O resultado sai em 30 minutos”, informou Tassara. Há também testes disponíveis em farmácias, que a pessoa pode fazer em casa com segurança.
No tratamento, medicamentos mais eficientes e práticos estão disponíveis gratuitamente pelo SUS. “Temos, por exemplo, o Dovato, que é um comprimido único por dia, com poucos efeitos colaterais. Além disso, há profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP) que bloqueiam o HIV antes ou depois de um possível contato de risco”, acrescentou a médica.
Tassara ressalta a relevância do diagnóstico precoce para a qualidade de vida do paciente. “Descobrir o HIV antes de desenvolver a AIDS significa iniciar o tratamento antes que o sistema imunológico seja comprometido. Isso permite manter a imunidade em níveis normais e evita doenças oportunistas graves”, explicou.
Ainda assim, destacados os avanços, práticas de sexo seguro são fundamentais para a prevenção, com o preservativo desempenhando o papel essencial como a forma mais acessível e eficaz de proteção.
Como prevenir
Confira medidas eficazes para reduzir o risco de transmissão:
- Preservativos: Utilize preservativos masculinos ou femininos corretamente em todas as relações sexuais.
- Testagem Regular: Realize exames periodicamente, especialmente após relações desprotegidas ou exposição de risco.
- Educação: Informe-se sobre os riscos, formas de contágio e acesso a tratamentos.
- Tratamento: Busque tratamento adequado ao primeiro sinal de infecção para evitar complicações e transmissão.
Educação para combater o preconceito
Apesar dos avanços, a desinformação sobre o HIV/AIDS persiste. “Muitas pessoas ainda não sabem que quem está em tratamento com carga viral indetectável não transmite o vírus por relação sexual”, destacou Tassara. A médica também reforçou que casais sorodiscordantes podem ter filhos de forma segura e saudável, desde que a mulher com HIV siga o tratamento adequado.
Quando perguntada sobre a possibilidade de uma cura definitiva para o HIV, Tassara demonstrou otimismo. “Estamos cada vez mais próximos. Estudos avançam no desenvolvimento de vacinas curativas e de profilaxias injetáveis, que podem ser aplicadas a cada seis meses para prevenir a infecção”, revelou.
De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 40 mil novos casos de HIV foram registrados no Brasil em 2022, um aumento de 17% em comparação a 2020. Jovens entre 15 e 24 anos estão entre os mais afetados.
Sul do Brasil concentra maioria de casos
De acordo com o boletim do Ministério da Saúde, todas as 10 cidades que lideram a lista de maior incidência da doença estão no Sul. Na estatística por Estado, o Rio Grande do Sul é o que mais registra casos de Aids: são 27,7 por 100 mil habitantes.
O segundo do ranking é Roraima (26/100mil), seguido por Santa Catarina (23,5/100mil). O Paraná é o quinto da lista, com 15,7 casos por 100 mil habitantes. No ranking por capitais, Porto Alegre também se destaca com 99,8 casos por 100 mil habitantes, enquanto Florianópolis, segunda da lista, registra 57,9 casos por 100 mil.
O Dezembro Vermelho reforça não apenas a importância da prevenção e do tratamento, mas também a luta contra o estigma que ainda cerca as pessoas que vivem com HIV/AIDS. A campanha é um lembrete de que, com informação e solidariedade, é possível enfrentar a epidemia e transformar a realidade de milhares de brasileiros.
Brasil avança na meta
Dados divulgados pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a AIDS (Unaids), em novembro, destacam que o Brasil alcançou mais uma meta importante para a eliminação da AIDS como problema de saúde pública. Em 2023, o país identificou 96% das pessoas estimadas de viverem com HIV e que desconheciam sua condição sorológica.
Esse percentual é baseado em estimativas de pessoas que convivem com o vírus. No entanto, é necessário intensificar as campanhas de conscientização para reforçar a seriedade do HIV.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar
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