Dia do Trabalhador: da forca à conquista de direitos

As marcantes histórias das lutas dos trabalhadores são lembradas anualmente no dia 1º de maio, Dia do Trabalhador. Muito mais do que um feriado, a data tem por objetivo chamar a atenção da sociedade para uma profunda reflexão sobre direitos adquiridos, senso de cidadania e união popular.

A data surgiu em 1886, quando trabalhadores americanos em Chicago fizeram uma paralisação para reivindicar melhores condições de trabalho. O movimento se espalhou pelo mundo e, no ano seguinte, trabalhadores de países europeus também decidiram parar em protesto.

Mas muito além da importância histórica, o Dia do Trabalhador tem uma grande relevância na luta por direitos e por mais dignidade e melhor qualidade de vida.

História

Como dito, milhares de trabalhadores foram às ruas de Chicago (EUA) no dia 1º de maio de 1886 para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de 13 para 8 horas diárias. O protesto inicialmente foi pacífico e tinha como lema “Eight-hour day with no cut in pay” (oito horas por dia sem redução no pagamento).

O slogan foi repetido por mais de 300 mil manifestantes que foram às ruas de Nova York, Chicago, Detroit e Milwaukee, entre outras cidades simultaneamente. As passeatas marcaram o início de uma greve geral, que tinha essa única reivindicação: a redução da carga horária.

Naquele dia, as manifestações movimentaram a cidade causando a ira dos poderosos e iniciando os confrontos. A repressão ao movimento foi dura, com prisões, pessoas feridas e até mesmo trabalhadores mortos nos embates entre os operários e a polícia.

Cartaz usado por manifestantes com os dizeres “8 horas de trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso”. Foto: historiadigital.org

Três dia depois, em 4 de maio, cerca de 2,5 mil manifestantes se reuniram em uma nova assembleia na praça Haymarket, em Chicago, em protesto aos confrontos. Os participantes pretendiam debater os rumos do movimento depois que policiais haviam atingido de forma mortal dois manifestantes que faziam piquete na porta de uma fábrica.

Mas quando a maior parte das pessoas já havia deixado o local, 176 policiais cercaram os cerca de 200 manifestantes que ainda estavam na praça. Os policiais pediram que eles se retirassem, e na sequência começaram a atirar. No meio da confusão, uma bomba foi lançada na direção dos agentes da lei.

Ilustração da época mostra momento em que a bomba foi lançada em meio à manifestação. Foto: historiadigital.org

Na confusão que se seguiu, morreram quatro trabalhadores, mas também sete policiais, e mais de 130 pessoas ficaram feridas. Nos dias que se seguiram ao incidente, dezenas de sindicados, de diferentes cidades do país, foram ocupados pela polícia.

Enquanto a Lei Marcial foi declarada em todo o território americano, em Chicago, mais de 100 sindicalistas foram presos, acusados de incitar a violência policial. O Estado processou oito deles. Levados a julgamento, sete foram condenados à pena de morte. Um deles foi encontrado morto na sua cela. Dois tiveram a punição transformada em pena de prisão perpétua.

Governo americano condenou sete manifestantes à pena de morte pelo incidente, mesmo sem evidências concretas. Foto: historiadigital.org

Consequências

O ataque da polícia e o julgamento dos sindicalistas colocaram a pauta dos trabalhadores em evidência. Depois de várias décadas aceitando condições muitas vezes insalubres e altas cargas horárias, os cidadãos americanos passaram a fazer pressão por mudanças.

A luta dos manifestantes foi bem-sucedida: na virada do século XX, boa parte dos trabalhadores do país já seguia o ritmo de 8 horas diárias – antes, era comum os americanos ficarem nos empregos nada menos do que 100 horas por semana, o equivalente a aproximadamente 16 horas por dia para cada um dos seis dias de ocupação.

No restante do mundo, o movimento trabalhista internacional passou a tratar os quatro condenados à morte como vítimas da brutalidade policial e de um sistema judiciário desfavorável.

Não foi por acaso que o incidente aconteceu em Chicago. A principal cidade do estado de Illinois era uma das mais industrializadas do país, e por isso atraía imigrantes europeus em massa, que traziam consigo pensamentos oriundos do anarquismo e socialismo.

E no Brasil?

Aqui no Brasil, a chegada dos imigrantes europeus no fim do século XIX e começo do século XX trouxe com eles os ideais de luta trabalhista. A Greve Geral de 1917 ajudou a pressionar o governo pela mudança no cenário operário. Em 1925, o então presidente Artur Bernardes decretou o Dia do Trabalhador em 1º de maio.

Foi em Porto Alegre, capital gaúcha, que ocorreu em 1892 a primeira comemoração do 1° de Maio em praça pública no Brasil. O evento foi realizado um ano depois de a Segunda Internacional Socialista decidir que seria um dia de luta em todos os países.

Trabalhadores brasileiros protestam no dia 1º de maio. Foto: historiadigital.org

Contudo, as maiores mudanças só vieram muito tempo depois, com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Em 1º de maio de 1943 (sim, a data foi escolhida propositalmente), Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5.452, garantindo direitos básicos, como salário mínimo e duração da jornada de trabalho.

Era nessa data que Getúlio anunciava as principais leis e iniciativas que atendiam as reivindicações dos trabalhadores, como a instituição e, depois, o reajuste anual do salário mínimo ou a redução de jornada de trabalho para oito horas.

Vargas criou o Ministério do Trabalho, promoveu uma política de atrelamento dos sindicatos ao Estado, regulamentou o trabalho da mulher e do menor, e garantiu o direito a férias e aposentadoria.

Getúlio Vargas usava o Dia do Trabalhador como plataforma de de suas ações políticas. Foto: historiadigital.org

Além do Brasil, cerca de oitenta países consideram o Dia Internacional do Trabalhador um dia de folga, entre eles Portugal, Rússia, Espanha, França e Japão.

Nesta data, os trabalhadores descansam (e também realizam manifestações) na América do Sul e no México, em quase toda a Europa Ocidental, na Índia, na China e na maior parte dos países da África.

Desafios atuais

Atualmente, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o número de pessoas com idade de trabalhar é de 5,7 bilhões em todo o mundo. Desse total, 3,3 bilhões estão empregadas e 172 milhões desempregadas. Outros 2 bilhões de pessoas, aproximadamente, trabalham como informais.

A OIT aponta que o principal problema do mercado de trabalho no mundo ainda é o emprego de má qualidade. Milhões de pessoas são obrigadas a aceitar condições precárias de trabalho para conseguir conquistar alguma renda.

Ainda de acordo com a OTI, a perda de horas de trabalho a nível mundial em 2022 será mais elevada do que o esperado em comparação com o final de 2019, antes da pandemia. O equivalente a 125 milhões postos de trabalho.

O levantamento mostra ainda que, entre as pessoas que estão trabalhando, mais da metade (52%) são assalariadas, enquanto 34% atuam por conta própria. Outros 11% ajudam em trabalhos familiares, e apenas 3% estão na categoria “empregadores”.

As pessoas que atuam por conta própria são a maioria dos informais, correspondendo a 85% do total de trabalhadores nessa condição. Já entre os assalariados, são cerca de 40% no mercado informal.

Reflexões

É preciso lembrar que o trabalho não significa somente a subsistência dos cidadãos e vai bem mais além do que levar alimento para casa e pagar contas.

É no ambiente de trabalho que muitas amizades são construídas, que o convívio social é fortalecido e também é onde se aprende a conviver com pessoas que pensam diferente de você. Apesar de ser cansativo, o trabalho bem realizado nos traz o sentimento de dever cumprido.

É fundamental a todos os cidadãos o exercício de um ofício, sendo essa condição preponderante para a realização pessoal, valores que diante da pandemia ficaram enfraquecidos.

Ainda falta compreensão de que é preciso valorizar a boa atuação dos trabalhadores, obtida por meio de seu esforço pessoal e profissional.

Que neste 1º de maio de 2022, todos os trabalhadores e trabalhadoras tenham força para enfrentar as mudanças, encarar os desafios e, acima de tudo, defender suas profissões, seus objetivos e seus direitos.

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