Em 28 de Junho de 1969, um acontecimento histórico marcaria para sempre o bar Stonewall Inn, em Nova York. Nesta data, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, reagiram à recorrente opressão policial que ocorria no local.

Na linha de frente do levante, que durou aproximadamente duas noites, estavam drag queens, travestis, transhomens, gays “afeminados” e lésbicas, que se revoltaram clamando por respeito.  No ano seguinte à Stonewall, a cidade de Nova York foi palco da primeira Parada do Orgulho LGBT.

Apesar dos recentes avanços históricos relacionados aos direitos LGBTs no Brasil, o preconceito ainda é um grande entrave à melhora da qualidade de vida dessa população, visto que está inserido em vários âmbitos como família, trabalho e relacionamentos.

Vivência 

Crescer em um mundo que condena o amor entre pessoas do mesmo gênero não é nada fácil. Para parte dos homossexuais, transgêneros e bissexuais, a negação da sexualidade e da identidade de gênero aparece como uma primeira alternativa.

O estudante Michel Gomes, 20, relata o difícil processo de descoberta da sexualidade.  “A primeira fase foi a da negação, eu achava que não era gay e tentava fazer tudo pra fugir disso. Na segunda fase achei que era ‘bi’, mas pra chegar nisso demorou muito. Fazia de tudo pra me encaixar em um padrão para agradar a família, mas aquele não era eu. O verdadeiro eu era um gay maravilhoso e que ama a vida”.

Ainda de acordo com Michel, anos se passaram até que a auto aceitação se concretizasse. “Esse processo levou tempo, tanto que meu primeiro beijo foi na faculdade. Conheci pessoas diferentes, lugares diferentes e discursos que me faziam pensar diferente de tudo que já havia pensado. A última fase desse processo é a atual, em que me assumi pra minha mãe, a pessoa que mais amo nessa vida.”

Apesar de contar com o apoio materno, fator essencial para um LGBT, o estudante conta já ter presenciado cenas de preconceito em bares e restaurantes e por isso evita ir à determinados estabelecimentos. “Em bar com público mais heterossexual já tive amigos que foram julgados e tal, então evito ir nesses lugares. Antes eu tinha um bloqueio com beijos em público, mas eu mudei e já beijei ou abracei, troquei carinhos, em público sim. Isso depende do lugar, como eu disse, por exemplo um dia eu estava com um amigo no Vaca Brava de mãos dadas e as pessoas passavam olhando estranho e alguns riam e apontavam.” afirma

Violência

Em meio a frieza numérica, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, 604 pessoas morreram. Os dados são da organização não governamental Transgender Europe, rede europeia de organizações que apoiam os direitos da população transgênero.

Além disso, dados Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), mostram que 90% das travestis brasileiras estão se prostituindo no país. Na maioria dos casos, a não aceitação familiar e a rejeição social aliadas a exclusão escolar e profissional acabam por engrossar as estatísticas.

Para reforçar a importância da luta contra o preconceito como forma de inclusão social plena, relembramos a história de Sylvia Rivera. Além de ativista trans e bissexual, Sylvia foi um dos principais nomes de Stonewall. Ela teria sido uma das primeiras pessoas a enfrentar o desrespeito policial, incentivando outros jovens a não se calar diante dos maus tratos.

Por esses e outros motivos Sylvia deixou um legado de consciência e coragem. Em 2005 ela tornou-se nome de uma rua nas proximidades do Stonewall Inn. Apesar de sua relevância, a ativista ainda é desconhecida por muitos, mesmo pela própria população LGBT.