Programa Nosso Melhor desta semana foi um dos mais prazerosos que já fiz. Falar de economia criativa já é um assunto contagiante, e tive a oportunidade de conversar com o Décio Coutinho, que além de ser amigo e parceiro de longa data, é um dos maiores especialistas no assunto, que está em contato com uma galera que pensa fora da caixa, que inova, que encontrou uma forma usar seu talento criativo para ganhar o seu sustento e de viver fazendo o que gosta.

O conceito de economia criativa surgiu há cerca de 20 anos e, basicamente, significa a junção de economia, tecnologia e cultura. A economia, no caso, vem acompanhada de sustentabilidade, solidariedade, tradicionalismo, permutas, etc. A tecnologia aplaca a informação, mas também o conhecimento social, enquanto a cultura engloba os costumes, tradições, regionalismos e expressões artísticas diversas.

Décio lamenta que o setor da economia criativa, fortemente voltado para a cultura e as artes, sofreu um grande baque com a pandemia. O Brasil viveu uma retração econômica de 4,5% em 2020. Os setores artísticos e de eventos foram os primeiros a parar suas atividades e serão os últimos a retornar. Festivais, shows, apresentações culturais ainda vão demorar para se reaquecer. “É um grande colapso para o setor no Brasil e no mundo”, diz.

Mas, ao mesmo tempo, outras pessoas viram na economia criativa uma porta de saída da crise. Foi o caso da Bruna Louzada e Eduardo Louzada, da Cia Tri Cre Arte. Para a Bruna, a pandemia foi o momento de “desencaixotar projetos que estavam guardados”. Foi quando criaram o projeto Sua História Contada, que consiste em criar verdadeiros documentários sobre as histórias de vida das pessoas, com depoimentos, imagens e arquivos pessoais, tudo sob encomenda de uma clientela que não para de crescer. “É um desafio de mergulhar na vida de pessoas que não conhecíamos”, afirma.

Para Décio Coutinho, o trabalho no campo digital tem sido a salvação para artistas, artesãos, comunicadores, e quem trabalha com economia criativa. Além de gerarem emprego e renda, a cultura e a arte têm sido a válvula de escape para milhares de pessoas isoladas e angustiadas com todo este ambiente que vivemos com a pandemia. “A cultura e a arte estão salvando vidas”, comenta.

Décio trabalha com o conceito das cidades e territórios criativos. Essa pauta precisa tomar corpo junto às novas gestões municipais. Para o expert no assunto, a cidade que antes precisava de uma grande indústria para crescer, hoje precisa de gente criativa para dinamizar a economia, desenvolver projetos, gerar empregos e renda. Mas, para isso é preciso que as administrações ofereçam estrutura e atrativos, como internet de qualidade, por exemplo.

Conforme Coutinho, o grande alvo é o desenvolvimento regenerativo, que vai além da sustentabilidade, e engloba a regeneração social, ambiental, econômica e cultural. Este novo conceito está, inclusive dentro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Isso significa que, mais do que utilizar recursos naturais e mão-de-obra de forma justa e equilibrada, estas iniciativas vão promover a recuperação ambiental, a capacitação para o trabalho, a redução das desigualdades, a criação de cidades mais modernas, sadias e seguras, enfim, uma verdadeira transformação econômica e social.

Existem iniciativas do tipo em Goiânia. Um exemplo são grupos que revitalizam praças do Setor Sul, com espaços de lazer e hortas comunitárias. Em Teresópolis de Goiás, terrenos baldios foram ocupados com plantações de feijão que alimentam os alunos do município. Muita gente está presa em conceitos que geram prejuízos econômicos à saúde e à qualidade de vida. “Precisamos investir nas nossas crianças, elas são o futuro das cidades, da economia e da sociedade”, declara Coutinho.

A economia criativa vai além da nossa imaginação e tem tudo para mudar nossa realidade. Cabe ao Poder Público e à sociedade abraçar este modelo cheio de potencial e riqueza.

Abaixo o link do programa na íntegra. Foi ao vivo no dia 03 de fevereiro de 2021.