PEDRO LOPES
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – ‘Sniper corintiano’, ‘novo Paulinho’, ‘Scholes de Itaquera’. Os apelidos, com diferentes graus de criatividade e humor, estão entre os criados pelo Corinthians, por jornalistas ou por torcedores para o volante Éderson, autor do gol da classificação do clube sobre o Mirassol neste domingo (2) e o principal destaque do time comandado por Tiago Nunes na retomada do Campeonato Paulista.

Mesmo em crise financeira, o Corinthians recorreu ao Banco BMG, seu patrocinador, e fez pesados investimentos em contratações. Duas das mais midiáticas foram justamente de meio-campistas: Luan, ex-Grêmio, e o colombiano Victor Cantillo custaram juntos cerca de R$ 37 milhões. Ambos oscilaram no decorrer da temporada e, no momento decisivo, quem comandou a classificação foi o volante Éderson, que chegou sem alarde, a custo zero.

Éderson tem uma trajetória peculiar no futebol -fez o caminho inverso do trilhado por vários jogadores de renome que costumam se transferir, já com idade avançada, para a China. Cria do Desportivo Brasil, clube fundado pela Traffic, o volante fez parte de sua formação no Shandong Luneng, clube chinês cujo grupo controlador adquiriu o Desportivo. Dali, se transferiu ao Cruzeiro.

No clube mineiro, foi um dos poucos nomes poupados pela torcida na campanha de rebaixamento à Série B do Brasileirão em 2019. Mas entrou em litígio com a diretoria, movendo uma ação trabalhista de R$ 2 milhões. Sem acordo, deixou a Toca da Raposa e acertou com o Corinthians no final de fevereiro, mas teve pouco tempo para mostrar serviço até a suspensão do futebol em virtude da pandemia do novo coronavírus.

Com a retomada do Campeonato Paulista, Éderson teve ascensão meteórica. Já são três gols em três partidas consecutivas, todos elas decisivas: o último, marcado neste domingo na Arena Corinthians, garantiu a classificação para a final da competição estadual.

“Eu não imaginava uma ascensão tão rápida como a que está acontecendo. Esperava ter um bom desempenho, estou trabalhando muito para isso, mas não marcar três gols seguidos assim, começar jogando assim. Agradeço o trabalho reconhecido e chegar a essa final” disse o volante no domingo, admitindo surpresa com o sucesso imediato.

No Corinthians, Éderson tem a oportunidade de dar seguimento a uma tradição de volantes que exerceram papel fundamental em equipes vencedoras -cumpriam seu papel defensivo e chegavam com competência ao ataque. Além de Paulinho, com quem tem sido comparado, carregaram essa tradição nomes como Elias, Edenílson, Bruno Henrique, Jucilei e Maycon.

Para o treinador Tiago Nunes, o jovem de apenas 21 anos tem características que se adequam à função, além de um perigoso chute de fora da área: “O Éderson tem o atributo do chute. É um jogador que tem uma chegada no último terço, trabalha de intermediária a intermediária. Estamos tentando potencializá-lo em uma posição que cresça. E só faz gol de fora da área quem arrisca, e ele tem esse atributo. Teve a benção de Deus de viver esse momento maravilhoso”, disse o treinador.

Se por um lado Luan e Cantillo oscilam -o primeiro enfrenta problemas para manter a regularidade desde o fim de sua passagem pelo Grêmio, enquanto o segundo foi um dos jogadores que contraíram a Covid-19-, Éderson, nesse início de trajetória, indica para a direção corintiana que o caminho pode passar por garimpar contratações mais baratas, de jogadores novos e de potencial. Assim como aconteceu com atletas como Ralf, Romarinho, Jucilei e o próprio Paulinho.

Com suas atuações, o volante se credenciou para ser titular em sua primeira final pelo Corinthians, jogo que será também seu primeiro clássico, na quarta-feira (5), diante do Palmeiras, na Arena Corinthians. O segundo confronto será no sábado (8), no Allianz Parque.