A Educação transforma vidas, e a idade não é um empecilho. Os alunos do CEJA – Centro Educacional para Jovens e Adultos, são exemplos de inspiração e determinação. ‘Seu’ Salvador e ‘Dona’ Giseuda passaram por diversas dificuldades ao longo dos anos e já na terceira idade se reencontraram na busca pelo conhecimento.
Ademais, os alunos do CEJA ainda tiveram um denominador em comum para a realização de seus sonhos, a professora Maria Aparecida. Conhecida por todos como ‘Cida’, a docente de português foi ponto chave de inspiração tanto para Salvador, quanto para Giseuda, proporcionando aos alunos uma relação mais próxima, construindo belas amizades.
Inspiração de um poeta
Salvador é um capítulo à parte. Natural de Rubiataba e criado no município de Orizona, ele cresceu na roça e viveu na zona rural até os 19 anos. Contudo, os desafios da vida e trabalho diário o fizeram abandonar os estudos e se afundar no álcool.
O sonho de se tornar um contador nunca saiu de sua cabeça. Trabalhou por anos na tesouraria de uma empresa, mas o desejo de completar os estudos, não saía de suas metas pessoais. E a vontade se intensificou após a dedicação à prosa.
“Estava em casa um dia, com minhas filhas e elas encontraram um texto antigo que havia escrito. Ela leu e se emocionou… Desde então eu decidi por focar meu tempo para escrever prosas e poesias”, relata Salvador. Autointitulado “O poeta goiano” e hoje com 67 anos, ele tem 3 discos gravados recitando poesias musicadas, mas afirma serem apenas para a arquivo familiar.
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Após alguns anos escrevendo e já aposentado, o rubiatabense optou por voltar a estudar, e foi aí que o CEJA entrou em sua vida. Ele, com a firme meta de tirar o diploma de ensino médio, ingressou no CEJA depois dos 60 anos, passando por cima de críticas e adversidades.
O retorno
Em meio as dificuldades, um dos pilares de sua permanência no colégio foi a professora Cida e o relato de Salvador é emocionante.
“Eu adoeci na época das provas e logo pensei que seria mais uma coisa que não daria certo em minha vida. Tudo o que eu tentava não dava certo… Mas eu pedi para conversar com a Cida e quando disse que ia largar a escola e contar minha história, ela processou tudo o que queria falar e realmente me ouviu. Eu senti que foi a única pessoa que realmente me ouviu”, desabafou.
“A professora Cida foi uma referência, sem dúvida. As palavras dela nunca saíram da minha cabeça… ela marcou minha vida. Eu até escrevi uma poesia para ela. Ela me marcou”.
O relato da professora é de gratidão pelo carinho. Em seus 6 anos de sala de aula no CEJA, Salvador também marcou a vida de Maria Aparecida. “Isso faz com que a gente se sinta muito mais do que professor. Não é só ensinar, é acolher as pessoas que por um tempo acharam que não tinha mais jeito na vida”.
Superação e Motivação
Além disso, outra história marcante do CEJA Universitário é da Giseuda Alves dos Santos. A diarista de 55 anos abandonou os estudos devido ao trabalho. Os filhos e a longa carga horária diária a impediram de se dedicar à escola, mas o sonho persistiu enquanto dormia. Entretanto, tudo mudou após uma consulta médica há 3 anos.
Giseuda foi diagnosticada com câncer que fez com que seu emocional ficasse bastante abalado. Com as limitações que vieram junto aos problemas de saúde, ela conversou com seus filhos e decidiu por voltar à escola e realizar seu sonho de ter um diploma em seu nome.
“Em 2020, como eu descobri o câncer, eu tive que parar de trabalhar e fiquei muito deprimida e angustiada. Não tava me sentindo bem, sozinha em casa. Então eu sentei com meus filhos e disse que ia voltar a estudar e eles me deram o maior apoio. Falaram ‘Volta mesmo’, contou Giseuda emocionada.
Retomada de velhos hábitos
Apesar da experiência de vida, nem sempre a volta às aulas é missão fácil para esses alunos. A diretora do CEJA Universitário, Carlene Silvestre, conta que as dificuldades para se readaptarem à rotina de estudos é normal, mas a determinação é ponto chave de motivação para os professores e funcionários do colégio.
“Para nós, que lidamos com alunos dessa modalidade, nos emociona. Isso porque, nos primeiros dias de aula, é como se fosse voltando.. No primeiro dia de aula os pais levavam os filhos na escola, e aqui da mesma forma os filhos e netos trazem os idosos… querem conhecer a escola e os alunos se emocionam já que é como se fosse uma gratificação por estarem conseguindo concluir algo que não terminaram antes, explica.”
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
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