O número de ingressantes em cursos superiores de graduação a distância cresceu quase 500% em 10 anos no Brasil. A oportunidade de flexibilizar os horários de estudos e conciliar com a rotina de trabalho e social fez com que muitos estudantes optassem pela modalidade.

Um dos estudantes que fazem parte deste universo é João Pedro Cicatelli. Ele já tem graduação em Biologia e agora está cursando Engenharia Ambiental. No entanto, o aluno preferiu um curso na modalidade de educação a distância (EaD), pelo fato de ter uma filha pequena e poder ficar mais tempo com ela.

“Eu sou pai, eu sou casado, tenho uma filha pequena, precisa dar atenção a esposa, a casa, e ter que ficar deslocando de escola, faculdade todos os dias. Foi aí que me bateu a ideia de procurar cursos que eram integralmente em EAD”, declarou.

Além disso, João avalia que pesou bastante o fato de não ter que se deslocar e poder organizar o seu próprio horário de estudo.

“É uma praticidade muito grande porque faço tudo dentro de casa, não tenho um período de deslocamento, não tenho que pegar trânsito, não tenho que mudar de carteira, de sala. Pego ali, uma, duas horas por dia e faço todo o meu estudo”, destacou.

EAD atraiu muitos adeptos devido a flexibilidade e preço. Foto: Samuel Straioto.

Aumento

João Cicarelli faz parte do universo de brasileiros que cada vez mais está preferindo cursos de educação a distância. Entre 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação, na modalidade EaD, aumentou 474%.

Em 2011, os ingressos por meio de EaD correspondiam a 18,4% do total, em 2021, esse percentual chegou a 62,8%. Os dados fazem parte dos resultados do Censo da Educação Superior 2021, divulgados em novembro do ano passado pelo Ministério da Educação.

Wagner Bandeira avalia o perfil de alunos que optam pelo EAD. Foto: Sagres TV

O diretor do Centro Integrado de Aprendizagem e Rede (CIAR) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Wagner Bandeira, avalia que a flexibilidade descrita acima pelo João Cicatelli está sim entre os motivos que resultam em maior procura pela modalidade EAD.

Wagner avalia que de fato o EAD é mais prático e a modalidade é uma alternativa para estudantes que enfrentam dificuldades para conciliar a vida acadêmica com atribuições e compromissos profissionais e sociais.

“Acaba ficando pesado, se deslocar até a universidade para acontecer no dia seguinte, então com o EAD é mais fácil e prático. Ter a EAD é uma alternativa muito positiva, são jovens que estão procurando, mas que tiveram dificuldade de articular uma graduação com as suas atividades diárias”, avaliou.

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Pandemia

Antes mesmo do anúncio da Covid-19, o ensino a distância já se tornava uma tendência no Brasil. Dados do Inep mostram também que de 2009 a 2019 houve um aumento de 378,9% nas matrículas. Dessa forma, no pós-pandemia essa modalidade ganha ainda mais força.

Durante a pandemia, muitas pessoas perceberam que o ensino a distância proporciona inúmeras vantagens para os alunos. Afinal, todos nós fomos forçados a modificar ou até mesmo parar nossas atividades presenciais, para manter o distanciamento social, visando a preservação da vida.

No entanto, o diretor do CIAR da UFG, Wagner Bandeira faz um alerta e uma explicação. Para ele, de fato, muitas pessoas durante a pandemia perceberam as oportunidades no EAD. Vários cursos presenciais adotaram atividades remotas de forma provisória.

“O que nos preocupa é quando as pessoas pensam que o que trabalhamos na pandemia é EAD e na verdade não é. O uso das tecnologias até pode ser o mesmo, mas as metodologias são diferentes, o modo como o conteúdo é passado”, analisou o diretor.

Wagner faz uma diferenciação desta forma provisória, com o professor explicando em tempo real e o que de fato é o EAD. O diretor ressalta que há diferenças, apesar das semelhanças.

“Não há demanda para a atividade síncrona, um professor na web conferência, a EAD nunca vai trabalhar dessa forma, pois é cansativo. Há momentos síncronos, sim, mas é para tirar dúvidas, o processo de passar o conteúdo vai ser de outra forma, seja com vídeos gravados, com recursos visuais, linguagem dinâmica, tempo definido, para que o aluno possa assimilar melhor”, ressaltou.

Qualidade

O reitor do Centro Universitário UniAraguaia, Arnaldo Freire, explica que para se ministrar cursos na modalidade EAD, é preciso que a instituição de ensino tenha estrutura. Ele relata que é preciso ter uma sede em que os conteúdos são gravados pelos professores e distribuídos para os alunos.

Reitor da UniAraguaia, Arnaldo Freire preocupa com a qualidade do curso EAD. Foto: Sagres TV

Além disso, ele destaca que é preciso que tenha tutores prontos para atendimento online dos alunos, e também polos de encontros presenciais para que os alunos tenham algum suporte. Freire avalia que isso reflete diretamente na qualidade dos cursos.

Ele argumenta que mais instituições passaram a oferecer modalidade EAD, mas nem sempre há a qualidade necessária, o que prejudica a formação dos estudantes.

“O que ocorreu com este boom de Educação à Distância após a pandemia é que a grande quantidade de cursos e vagas criadas trouxe uma competição muito grande no mercado. A consequência é que nós temos hoje pessoas procurando a educação a distância não pelo fato de se adaptar a modalidade, mas principalmente pela questão do valor pago”, afirma.

Foco e rotina

Com a oportunidade de organizar os estudos, muitos estudantes optam pelas horas vagas ou pelo final de semana, para aproveitar o tempo e se dedicar às aulas e atividades. E, claro, com a EAD, João Pedro Cicatelli pôde se programar.

Por outro lado, a falta de concentração pode se tornar um problema no EAD. No ambiente digital, a concentração dos usuários tende a ser muito reduzida. Afinal, a internet é um universo infinito de possibilidades e distrações presentes a todo tempo.

“Tem que estudar, ter foco, mas cuidado para não dar uma enganada, pois fica à disposição, celulares, computadores, e é muito fácil procurar certas fontes por fora (buscadores na internet), a inteligência artificial que ainda ajuda a fazer trabalhos. Não importa se é remoto ou presencial, o que importa é a responsabilidade do aluno e tecnologia e tempo vão só facilitando as coisas”, finalizou o estudante.

Goiás

O curso de Pedagogia é o mais procurado por alunos de Ensino Superior na modalidade de Ensino à Distância (EAD), em Goiás. A graduação é a que provocou mais interesse tanto na rede pública, quanto na privada.

No estado, quase 40% dos alunos do ensino superior em Goiás estão na modalidade EAD

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*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade.

Palloma Rabêllo colaborou com a reportagem*

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