A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é um desafio persistente no Brasil, conforme demonstram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos avanços na educação e na participação feminina em diversas áreas, a remuneração e a inserção no mercado de trabalho ainda são desiguais entre homens e mulheres.
Os indicadores apontam que as mulheres enfrentam maiores dificuldades para ingressar e se manter no mercado de trabalho. Em 2019, a taxa de participação feminina na força de trabalho foi de 54,5%, enquanto a dos homens atingiu 73,7%.

Essa diferença está diretamente ligada à distribuição das responsabilidades domésticas e dos cuidados com familiares, atividades que ainda recaem predominantemente sobre as mulheres. Em média, elas dedicaram 21,4 horas semanais a essas tarefas, quase o dobro do tempo despendido pelos homens (11 horas semanais).
Mesmo quando conseguem se inserir no mercado de trabalho, as mulheres recebem, em média, apenas 77,7% do rendimento dos homens. A disparidade é ainda mais acentuada em grupos ocupacionais de maior remuneração, como Diretores e Gerentes, onde as mulheres ganham apenas 61,9% do que os homens, e Profissionais das Ciências e Intelectuais, em que recebem 63,6%.

Níveis de escolaridade
Um dos argumentos frequentemente utilizados para justificar a diferença salarial entre homens e mulheres é a qualificação profissional. No entanto, os dados indicam que as mulheres são, em média, mais escolarizadas do que os homens. Entre a população com 25 anos ou mais, 40,4% dos homens não tinham instrução ou possuíam apenas o ensino fundamental incompleto, contra 37,1% das mulheres.
No ensino superior, as mulheres também estão em vantagem: 19,4% possuem diploma universitário, enquanto entre os homens essa taxa é de 15,1%. Apesar da maior qualificação, a presença feminina em cargos de liderança e na vida pública ainda é limitada. Em 2019, apenas 46,8% dos docentes do ensino superior eram mulheres.

No setor político, a representação feminina na Câmara dos Deputados cresceu de 10,5% em 2017 para 14,8% em 2020. No entanto, o Brasil ainda ocupava a 142ª posição entre 190 países no ranking de mulheres no parlamento.

Mulheres lideram busca por intercâmbio
As mulheres estão cada vez mais protagonizando o cenário do intercâmbio educacional, buscando qualificação profissional e enriquecimento cultural além das fronteiras de seus países. Segundo a Pesquisa Selo Belta 2023 da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio, em 2022, elas representaram 57% do público que viajou para estudar no exterior, um número expressivo que reforça a crescente busca por novas oportunidades acadêmicas e profissionais.
O levantamento aponta que os cursos de idiomas lideram a preferência feminina, correspondendo a 48,8% das escolhas. Na sequência, aparecem o Ensino Médio (High School), com 8,9%, e a Graduação, com 7,0%. Esse aumento na participação feminina no intercâmbio reflete não apenas a busca por qualificação profissional, mas também o desejo de maior representatividade em diferentes setores do mercado de trabalho.
Os destinos mais escolhidos pelas mulheres incluem: Estados Unidos, opção favorita devido à qualidade do ensino e oportunidades acadêmicas; Canadá, destaca-se pelo incentivo à diversidade e ensino acessível; e Portugal, popular por fatores culturais e facilidade no idioma.
Além do aprimoramento acadêmico, o intercâmbio proporciona desenvolvimento de habilidades essenciais, como: liderança – maior capacidade de tomada de decisão e gestão; autonomia – experiência de viver sozinha e enfrentar desafios; e adaptabilidade – melhor preparo para mudanças no ambiente de trabalho.
Segundo o Global Gender Gap Index, a participação feminina em cargos de liderança vem crescendo, e a experiência internacional é um diferencial competitivo cada vez mais valorizado. Mulheres que passam por um intercâmbio ganham não apenas qualificação profissional, mas também confiança e visão global para conquistar novas oportunidades.
Violência e feminicídio
A desigualdade de gênero também se reflete na violência contra as mulheres. O feminicídio, tipificado pela Lei nº 13.104/2015, é um reflexo brutal da desigualdade de gênero. Os dados apontam que mulheres pretas ou pardas estão mais vulneráveis: a taxa de homicídios dentro de casa é 34,8% maior para elas do que para mulheres brancas, e fora do domícilio essa diferença salta para 121,7%.
As estatísticas evidenciam que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho não se deve à falta de qualificação das mulheres, mas às estruturas econômicas e sociais que limitam suas oportunidades e remuneração. Para mudar esse cenário, é essencial promover políticas de equidade salariais, ampliar a presença feminina em cargos de liderança e garantir maior segurança contra a violência de gênero.
A luta por uma sociedade mais justa passa pelo reconhecimento e pela valorização do trabalho feminino, tornando realidade os objetivos da Agenda 2030 da ONU para a igualdade de gênero e o trabalho digno para todos.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade; ODS 05 – Igualdade de Gênero; ODS 08 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico
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