Plantas e pragas são “inimigos naturais” importantes para manter a biodiversidade de florestas tropicais. Mas a perda de herbívoros afeta os patógenos e o efeito dessa defaunação prejudica a biodiversidade na Mata Atlântica.

Um estudo brasileiro publicado no Journal of Ecology mostra que a rede ecológica sofre com a ausência de grandes mamíferos herbívoros, como antas, veados e queixadas. Assim, a consequência da falta desses animais na floresta é a perda de interações entre plantas e os patógenos.

Mesmo sendo nomeados como pragas, insetos e microrganismos são importantes mantenedores de biodiversidade. Carine Emer é uma das autora do estudo. Ela afirma que a diminuição das interações entre animais herbívoros, plantas e patógenos pode ter consequências evolutivas para todos os grupos.

“Na ausência de grandes mamíferos que se alimentam de plantas, removem e pisoteiam o solo, ocorre um aumento de riqueza de espécies vegetais em curto prazo. Como os patógenos têm relações muito específicas com suas plantas hospedeiras, áreas com maior riqueza de espécies diluem as chances de se espalharem e seguirem seu ciclo de vida”, explicou.

Biodiversidade em risco

A percepção que a defaunação causa danos na biodiversidade da Mata Atlântica está em dois estudos. O primeiro intitulado “DEFAU-BIOTA: efeitos da defaunação no carbono do solo e na diversidade funcional de plantas da Mata Atlântica”. A segunda pesquisa então é “Consequências ecológicas da defaunação na Mata Atlântica”. Os dois projetos tem coordenação de Mauro Galetti, professor da Unesp.

Os estudos analisaram danos foliares em 10.050 folhas de 3.350 plantas em 86 parcelas da área pesquisada. É uma área de 15 metros quadrados em quatro locais no estado de São Paulo: Itamambuca, Ilha do Cardoso, Parque Estadual Carlos Botelho e Vargem Grande Paulista. Os pesquisadores analisaram parcelas da área livre para a passagem dos animais e parcelas com cercas para evitar a entrada dos mamíferos herbívoros.

O estudo considerou a presença de insetos como larvas de besouro e borboletas e patógenos como bactérias, fungos e vírus. Mas Carine Emer explica que a interação das plantas com esses inimigos naturais ocorre há milhares de anos. Portanto, são espécies que constroem naturalmente defesas e ataques na floresta.

“Os inimigos naturais, como os patógenos, criam novas formas de ataque, no que as plantas criam novas defesas. Esse é um fator importante para a manutenção e geração de biodiversidade, uma vez que nesse processo podem surgir espécies novas tanto de plantas como de organismos que interagem com elas”, explicou Emer.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 15 – Vida terrestre.

Leia mais: