A próxima Copa do Mundo, em 2022, será disputada em um período inédito, nos meses de novembro e dezembro. Tudo por conta da localidade do país que será a sede do torneio, o Catar, no Oriente Médio, em virtude do forte calor na região durante o verão no hemisfério norte – entre os meses de junho e setembro, quando tradicionalmente o Mundial de futebol é realizado.

No país da Copa vive um ídolo esmeraldino, que, apesar do período curto em Goiânia, deu o que falar vestindo a camisa do Goiás. As duas temporadas de Rodrigo Tabata na Serrinha, em 2004 e 2005, foram mais do que suficientes para, mesmo aos 39 anos, ainda ilusionar o torcedor alviverde por um retorno. Para o meia-atacante, “foram dois anos maravilhosos e inesquecíveis, que tenho muito orgulho”.

Entrevistado por Charlie Pereira pela Sagres nessa semana, o jogador recordou sua chegada no Goiás, quando “estava fazendo uma boa campanha na Série C pelo Campinense e, através de um empresário, ele me ofereceu duas propostas, uma para o São Paulo e a outra para o Goiás. Então decidi ir para o Goiás, porque sabia que era uma equipe grande e que revelava muitos jogadores. Deus me abençoou e foi a escolha correta”.

Revelado pelo Paulista, de Jundiaí-SP, em 1999, Rodrigo Tabata rodou no início da sua carreira pelo interior do seu estado de origem e depois pelo nordeste brasileiro, onde ganhou projeção para chegar na elite do futebol brasileiro. Depois de dois anos no Goiás, se transferiu para o Santos, pelo qual foi bicampeão paulista antes de sair do país. Primeiro para a Turquia, por Gaziantepspor e Besiktas, depois para o Catar, em 2010, onde defende o Al Rayyan.

Apesar de estar 12 anos trabalhando fora do Brasil, e questionado sobre sentir saudade de Goiás, o meia-atacante ressaltou que “na verdade, eu moro em Goiânia. A família da minha esposa é toda do estado de Goiás, de Ceres, então moramos em Goiânia, onde temos a nossa casa. Em todos os anos, quando termina a temporada, regressamos ao Brasil para passar as férias. Divido o meu tempo entre Goiânia e passo alguns dias no interior de São Paulo, na casa dos meus pais”.

Natural de Araçatuba, no interior de São Paulo, foi criado na pequena cidade de Nova Luzitânia, onde seus pais ainda residem. Mas, como sua esposa, é um legítimo ‘comedor de pequi’ e, inclusive, “já me considero goiano (risos). Um ‘pequizinho’ e uma pamonha não podem faltar, um franguinho caipira também”, brincou. Na sua família também estão duas crianças, “o Francisco, que tem nove anos e nasceu na Turquia, e a Valentina, que fará seis anos no final do mês, nasceu aqui em Doha”.

Vida no Catar

Dos 12 anos fora do Brasil, 10 deles são morando no Oriente Médio, onde está “muito adaptado e feliz, eu e toda a minha família amamos esse país”. Um lugar onde também é “bem valorizado. No futebol e em todas as outras profissões, porque como aqui a população é pequena necessita-se de mão de obra de fora e todas as profissões são bem valorizadas”. Segundo Tabata, faria tudo de novo e “se soubesse teria vindo antes (risos). Do Goiás teria vindo direto para cá”.

O momento, porém, não tem sido simples, afinal de contas o Catar está praticamente trancado em decorrência da pandemia do coronavírus. Contudo, o jogador destacou que “agora começou a reabrir, os maiores shoppings já estão abertos. Mas acredito que o país lidou muito bem, tiveram poucas mortes e bastantes pessoas que foram recuperadas. Ainda existem novos casos todos os dias, mas está bem controlado e tranquilo”.

Já o futebol “parou no final da temporada e tivemos três semanas de férias”. As atividades retornaram nessa semana e “todos os clubes fizeram os testes e agora estamos no hotel em quarentena. Só saímos para o treino, com cada um em um quarto e com todas precauções para que possa voltar no próximo mês para disputar os cinco jogos finais que ficou faltando para terminar a liga da última temporada”.

A Qatar Stars League, primeira divisão do futebol do Catar, conta com 12 clubes, que brigam por uma vaga na Liga dos Campeões asiática, além da Copa do Emir, a Copa do Catar, que reúne os quatro melhores da liga, e a Supercopa do Catar. Sua equipe, o Al Rayyan, atualmente é o segundo colocado na liga, com 38 pontos em 17 jogos – o campeonato tem 22 rodadas -, quatro a menos que o líder Al Duhail.

Desde 2010 no Al Rayyan, com um parêntese entre 2014 e 2015, quando esteve emprestado ao Al Sadd, Rodrigo Tabata é considerado um dos principais jogadores do país. Eleito o melhor jogador das temporadas de 2011-12 e 2015-16, artilheiro na última com 21 gols em 24 jogos, já foi campeão da liga, em 2016, da Copa do Emir, em 2013 e tricampeão da Supercopa, em 2012, 2013 e 2018.

Sobre a preparação do Catar para o Mundial, o meia-atacante afirmou que “o país já está vivendo a Copa do Mundo, praticamente foi construído para receber essa Copa. Sou muito suspeito para falar e sempre digo que quem tiver o privilégio de vir aqui será uma experiência incrível, e com certeza ficará marcada na história essa Copa. Agora já são seis estádios que estão prontos, tem dois que só faltam inaugurar, o do meu time e o do Al Khor, e todos são espetaculares”.

Se a próxima Copa do Mundo será disputada no final de 2022, “geralmente os treinos são mais à noite, até por conta do calor. São sessões normais, com treinos fortes, até porque a maioria dos profissionais vêm de fora, sempre de nome e muita qualidade”. Sobre a diferença com o Brasil, “os jogos aqui são só uma vez por semana, a não ser quando chega no final da temporada”, quando acumulam as copas e ocasiona dois jogos por semana.

Com 39 anos, será que Rodrigo Tabata ainda tem ‘lenha para queimar’? Para o jogador, “me cuido bem, graças a Deus nunca tive nenhuma lesão grave e tenho ainda essa vontade de treinar e fazer a cada dia melhor. Então acredito que ainda possa jogar mais alguns anos”. Seu objetivo é bater o recorde de Zé Roberto, meio-campista ex-seleção brasileira, Palmeiras, Bayern de Munique e entre outros, que jogou até os 42 anos.

Com a ideia de “continuar jogando mais uns três anos”, e sobre sua situação contratual com o Al Rayyan, o meia destacou que “meu contrato acaba agora no final no mês, no dia 30, mas já estamos bem avançados nas conversas. Na verdade, só falta assinar por mais uma temporada, e também tem algumas outras coisas aqui mesmo no Catar. Pela minha história, sempre surgem novas oportunidades, mas prefiro continuar no time que estou”.

Lembranças do Goiás

Perguntado sobre ainda ter interesse de voltar ao futebol brasileiro e jogar no Goiás, ratificou que “na verdade, não é um interesse de voltar ao futebol brasileiro. Mas quando saí do Goiás, o meu sonho era encerrar a carreira no Goiás, por todo o carinho que tenho pelo clube, e sou torcedor do Goiás, então era um sonho. Mas o tempo vai passando, então vai ficando mais difícil e esse sonho mais distante”.

Para Tabata, o retorno para jogar em Goiânia mais uma vez “é praticamente impossível, porque a cada ano vou renovando o contrato aqui. Não podemos abrir mão dessas coisas e a minha família está feliz aqui. Era um sonho só de quando saí do Goiás, mas vejo que agora está meio distante”. De qualquer forma, como um esmeraldino que afirmou ser, “continuo torcendo e acompanho todos os dias”.

Inclusive, o jogador conhece a campanha ‘Eternamente Serei Goiás’, que busca ajuda de torcedores com a doação de cadeiras para a nova arquibancada leste do estádio Hailé Pinheiro. O meia conhece o projeto e destacou que “é lindo, e coloca o Goiás em um patamar ainda mais elevado. Já adquirimos a cadeira, mas é uma homenagem póstuma a uma prima nossa (Indira), que faleceu no mês passado e era torcedora fanática do Goiás. Com certeza, estaremos representados lá, terá a ‘fotinha’ e o nome dela na cadeira”.

Sobre ainda ter contato com o clube e a diretoria, Tabata contou que pelo “seu Hailé (Pinheiro), e até brinco com ele, o chamo de ‘vovô’ Hailé, tenho um grande carinho e respeito, uma pessoa que sempre me ajudou. Ele, o Hailezinho, o Edminho, que sempre me trataram muito bem, como se fizesse parte da família deles. Sempre me ajudaram me colocando na direção correta e sou muito grato a eles. Sempre que posso e estou em Goiânia, vou visitá-los, o Goiás e vou assistir os jogos”.

Na conversa com Charlie Pereira, o meia falou sobre uma passagem com Edson Gaúcho, treinador que passou pelo Goiás em 2005, que quando após ter sido campeão goiano pelo Vila Nova, inclusive sobre o time esmeraldino, foi contratado pelo clube da Serrinha. Famoso pelos cabelos longos, Tabata agora está com um corte diferente, mais curto, e brincou que se o técnico estivesse no Al Rayyan “a galera estaria com o cabelo ‘cortadinho’, ninguém poderia usar brinco ou falar ao celular nas concentrações”.

A passagem de Edson Gaúcho no Goiás durou poucos meses, muito por conta de atritos com os jogadores, algo que lembrou em entrevista recente à Sagres. Tabata foi um dos pressionados para deixar o cabelo curto, “mas falei que não iria cortar e bati o pé”. Apesar disso, uma vez pediu a ajuda do cabeleireiro, que usou um produto para ‘esconder’ o penteado, o que a princípio enganou o professor. Contudo, com o suor dos treinos, “acho que o spray começou a sair e o cabelo espichou”. A reação do treinador não poderia ter sido diferente: “ficou bravo comigo”.