Presidente Marcelo Almeida conta sua história, relembra passado, admite pressão e traça objetivo para a temporada (Foto: Rosiron Rodrigues)

Os três anos de lamúria na Série B, inclusive com flertes com um rebaixamento para a terceira divisão nacional, chegaram ao fim na gestão Marcelo Almeida. Empossado após renúncia de Sérgio Rassi e na sequência eleito para o cargo, o dirigente está no clube desde 1996, após convite de Mauro Machado, atual vice-presidente.

Em entrevista à Sagres 730, Marcelo Almeida relembra um pouco da sua história, dificuldades no cargo, episódio marcante após derrota para o Boa na Série B, relata a forte pressão que sofre no cargo e traça objetivos para a temporada. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

Início no Goiás

– São 23 anos de história, cheguei ao Goiás em janeiro de 1996, quando fui convidado pelo Mauro Machado, a quem agradeço muito por ter me proporcionado esse convite. Eu tinha como presidente o Paulo Lopes, que está conosco (hoje como gestor financeiro). São 23 anos de muita história, muitos títulos, alegrias, tristezas. Depois desse longo caminho, fui coroado com o cargo mais alto do clube que é o de presidente. A gente pode observar que as atribuições são bem diferentes, as responsabilidades são outras. Como médico, tinha minhas responsabilidades, mas dirigir um clube a responsabilidade é muito grande. São muitas atribuições, o movimento financeiro do clube é muito grande e você tem de agir com cautela, sensatez. O futebol mudou muito. Presenciei muitas mudanças no futebol, comportamentais. O mundo mudou e vai mudar mais.

Tinha pretensão de ser presidente?

– Confesso que eu não tinha essa pretensão. Entrei como médico e atuei como médico, mas muitas coisas aconteceram. O mundo do futebol é 100% político. Aqui você faz política e eu gosto de fazer política. Como médico, eu tive bons relacionamentos, mostrei a todos que eu tinha competência. Obviamente aprendi muito. O Goiás é uma universidade em que você aprende várias coisas, aprende a lidar com dificuldades, como sair das dificuldades, com quantias maior de dinheiro, com um dinheiro que não é seu. Quando o dinheiro não é seu, você age com mais responsabilidade. Eu sou assim.

Como foi a transição torcedor e médico para dirigente?

– Quem está no futebol tem de entender que essa cornetagens são comuns. Quem não sabe lidar com situações de dificuldades, de críticas, o futebol não é ambiente para essa pessoa. Aqui dentro somos muito criticados, muitas vezes de forma injusta. Como médico já recebia críticas e elogios também. Críticas e elogios, alegrias e tristezas, decepções e conquistas fazem parte desse meio. Quem dá conta de lidar com isso, se dá bem. Quem não dá, tem vida curta.

Pior dia que viveu no clube?

– Difícil dizer. Pior dia parece que foi quando eu assumi como presidente. Meu antecessor pediu renúncia do cargo. Foi um dia ruim pelo fato que a situação não estava nada boa. Eu fui pego de surpresa e vi que era um desafio muito grande na minha vida. Eu era vice e nem sabia se seria presidente um dia. Sabia que aquilo ia mudar muito na minha vida pessoal, minha vida particular, como de fato mexeu. O clube de futebol, as pessoas mexem com paixão. Paixão não tem domínio. O torcedor, diretores, sócios e conselheiros, todos lidando com essa paixão não sabem diferenciar o cargo de presidente de uma instituição e a vida pessoal dessa pessoa. Já vi presidentes anteriores, vários deles, eu via do lado de fora, como eles sofreram. Só quem senta nessa cadeira sabe o que é sofrimento em cima de situações que o time não está bem, quando você é criticado. O pior nessa vivência é não saber diferenciar o presidente da pessoa presidente. As pessoas confundem e isso afeta família, afeta como pessoa. Quem não estiver preparado para este tipo de situação vai ter muito problema.

Como conciliar a vida pessoal e a de presidente?

– Eu procuro fazer isso. Todos devem saber que o presidente do Goiás, uma coisa que não concordo, tem um cargo não remunerado. Eu abri mão da minha vida particular para tomar conta do clube. Eu gostaria de poder vivencia o Goiás 100% na minha vida, gostaria de respirar o Goiás 24 horas por dia. Mas tenho a minha vida, preciso produzir. Metade da minha vida é médico, metade como dirigente esportivo. É difícil, mas tudo que eu pego, eu gosto de fazer bem feito. Não que eu faça tudo bem feito, mas procuro fazer. Isso me consome muito. Futebol não tem regra perfeita, isso não é empresa convencional. Os gastos são muito maiores que o habitual no mercado convencional. Só quem está aqui sabe como funciona.

Como não deixar a paixão falar mais alto?

– Essa maturidade a gente vai adquirindo com o tempo. Aprendi muitas coisas desde que assumi. Eu tenho um lado explosivo, uma característica que eu tento controlar, mas futebol é paixão. E paixão é difícil de ser dominada. Às vezes, as coisas acontecem de uma maneira que você não gostaria que acontecesse. Agora, enquanto o Brasileiro não começa, eu diria que a situação está mais ou menos sob controle. Vamos ver quando começar o campeonato.

Como foi a derrota para o Boa? Você queria demitir meio time?

– Não é que eu queria demitir meio time. Aquilo faz parte do momento ruim que vivenciei logo que assumi. O Goiás vivia um momento ruim e meio sem explicação. O Goiás tem como história cumprir seus deveres de forma rigorosa com os atletas. Se olhar para o tempo, o Goiás nunca atrasou salário porque o time teve mau desempenho. Muitos times não pagam os atletas quando o time não tem um bom desempenho. Eu não concordo com isso. O Goiás nunca teve essa prática. Isso me deixava chateado. Fazíamos o melhor para os atletas. Salários em dia, impostos em dia, ambiente de trabalho agradável, nossa estrutura é de extrema qualidade. Nossos profissionais são do mais alto nível. O staff tem muita qualidade. Nossos atletas não precisam se preocupar com nada. Isso é obrigação de um clube grande. Goiás é grande e temos essa obrigação. Isso me passou pela cabeça (demitir meio time). Era tanto resultado ruim quando a gente fazia tudo certo. Eu explodi, teve um momento de tensão no vestiário, depois pedi desculpa. Futebol tem muito sangue quente, dirigente perde a cabeça. Isso é normal. Não faço críticas a ninguém porque o futebol faz a gente perder a razão, mexe com o lado emocional. As pessoas mais fervorosas vão de 0 a 100 em um espaço de tempo mais curto que o convencional

Dia mais feliz no Goiás?

– Foram vários porque o Goiás teve várias conquistas. Eu fui médico e conquistei títulos como médico. Tive minha participação porque você proporciona o bem-estar dos atletas. Mas como dirigente é diferente. O acesso para a Série A foi muito importante e de muita felicidade. Era algo que o clube buscava há alguns anos e não conseguia. Aquilo foi especial.

Muda muito quando se é presidente?

– Muda de forma radical. São atribuições bem diferentes. A responsabilidade é bem diferente. O dirigente do clube tem uma responsabilidade maior, abaixo de você tem um número inimaginável de pessoas, que vivem e sobrevivem. Se for um bom administrador, sobrevive, se for ruim, você sucumbe.

Qual o fato mais curioso que viveu no clube?

Eu lembro uma vez que estávamos em uma pré-temporada em Corumbá. O Marabá tirou a lente de contato, colocou em um copo de água e deixou de lado do bebedouro. Depois veio o Josué, completou o copo com água e bebeu a lente do Marabá. A gente tinha jogo e o Marabá teve de jogar sem a lente (risos).

Qual é o objetivo no Brasileiro?

Quem trabalha com futebol é insaciável. Eu sou insaciável. Quando conquistei este acesso, pensei que aquela alegria fosse o máximo que eu queria. Mas não tem como não querer mais. Meu algo a mais não é Libertadores. É ter uma posição de destaque na Série A. Pode ser a Libertadores, mas não vou ser tão pretensioso. Para mim, ficar entre os 10, 12 já seria de grande valia porque o Goiás é merecedor pela nossa estrutura, torcida. Nosso torcedor está carente de títulos, ele nos cobra algo maior, cobra título de expressão. Confesso que estamos devendo isso para eles.

 

Ouça na íntegra a entrevista com o presidente do Goiás, Marcelo Almeida:

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