O médico cardiologista Marcelo Queiroga só poderá assumir o Ministério da Saúde daqui a cerca de 10 dias. Ele foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a pasta após a saída do atual ministro Eduardo Pazuello.

É a terceira mudança no Ministério desde que Bolsonaro assumiu a Presidência da República, o quarto nome a ficar à frente da pasta durante a pandemia, após Henrique Mandetta, Nelson Teich e o atual general Pazuello.

Em discurso nesta semana, Queiroga disse estar disposto a reverter a “situação complexa da saúde aqui no Brasil”, que ampliará o diálogo com secretários estaduais e municipais e com a sociedade civil, e sugeriu “distanciamento social inteligente” e melhoraria da qualidade de assistência nas unidades de terapia intensiva (UTIs) para combater a pandemia.

Ao ser questionado por jornalistas sobre o que faria de diferente em relação ao antecessor, Queiroga afirmou que “o diferente é seguir a ciência”. A imunologista e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ana Paula Kipnis Junqueira, questionou uma fala do futuro ministro, na qual diz que pretende fazer uma “blitz” nos hospitais para conferir a ocupação de leitos e saber se há mesmo tantos mortos por Covid-19.

“Quem respeita a ciência, respeita os dados. Os médicos, que são colegas de trabalho dele, não estariam mentindo, emitindo atestado de óbito que não seria de Covid-19. Falta respeito pela profissão, pelo SUS, pela atividade que o outro está desempenhando. Respeitar a ciência significa, primeiro, ser ético”, critica.

Para o cientista político Franck Tavares, outro discurso que pesou contra Queiroga, antes mesmo de assumir o posto, é dizer que irá dar continuidade ao trabalho do general Pazuello no Ministério da Saúde.

“A pergunta que se faz é: Por que Pazuello foi destituído e o que vai ser feito a partir de agora? E o preocupante é que Queiroga já assume dizendo ‘eu vim para dar continuidade ao trabalho’. Continuidade ao trabalho que coloca o Brasil, do ponto de vista de quase todos os indicadores contra a Covid-19, economia, número de mortos, assenção do número de casos, como um dos piores em escala global”, avalia.

O presidente do Conselho Estadual de Saúde de Goiás, Venerando Lemes de Jesus, relembra a posse de Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde, e critica declarações feitas à época pelo general, que assumiu no lugar do médico oncologista Nelson Teich.

“O que a gente entende é que não adianta trocar o ministro quando a política é a mesma. Não mudou nada, não vai mudar nada. Inclusive a gente percebe que não tem ações contundentes e os próprios princípios do SUS vêm sendo aviltados. Já é uma coisa estranha colocar o ministro da Saúde que declara em sua primeira entrevista que ele não conhecia o SUS, não sabia o que era o SUS, ou seja, ele ouvia falar. Isso para nós é muito triste, nós que já tivemos nesse país grandes ministros, grandes sanitaristas, pessoas que realmente entendiam do Sistema Único de Saúde”, aponta.

O ministro da saúde, general Eduardo Pazuello, disse na última semana não acreditar que sua saída irá resultar em grandes mudanças no comando do Ministério, e que não se trata de uma transição, mas sim de um só governo, o que preocupa o advogado especialista em Processo Constitucional, Tomaz Aquino.

“O inusitado dessa questão é que essa mudança que poderia representar uma descontinuidade de políticas públicas de saúde, especialmente agora nessa situação de pandemia, é que para nós, na situação que a gente está enfrentando, qualquer mudança seria, pelo menos em tese, uma possibilidade de nutrir esperança, porque a gente está passando por uma desorganização na saúde que está trazendo consequências muito graves para nosso país como membro de uma comunidade internacional, para nossa população que está morrendo”, pontua.

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