As meninas têm mais dificuldades para completar os estudos. Para a pesquisadora de gênero e educação, Suellen Peixoto, existe uma estrutura desigual histórica que não permite que as mulheres tenham acesso equitativo à educação.

“Essa estrutura desigual faz parte de um contexto histórico arraigado porque historicamente quem poderia ter acesso a esses estudos, a essa carreira, a academia eram os homens. Isso historicamente foi construído. E tem muito pouco tempo que essas lutas têm sido efetivadas de fato para nós mulheres”, diz.

Ouça a entrevista do Jornalista Lucas Xavier com a pesquisadora Suellen Peixoto na íntegra:

Mulheres hoje na educação

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizada em 2019 mostra que as mulheres são maioria com ensino superior no Brasil. Os dados indicam que 19,4% das mulheres com 25 anos ou mais completaram o ensino superior naquele ano. A estatística entre os homens com a mesma faixa de idade ficou em 15,1%.

Segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes), as mulheres também são maioria nos programas de pós-graduação do Brasil. A Capes informou no ano passado que elas são 54,2% dos matriculados no stricto sensu no país. Mas essa ocupação fica apenas na formação e não alcança o mesmo nível na docência.

O Laboratório de Estudos sobre Educação Superior (LEES) da Unicamp observou que 51% dos títulos de doutorado entre 1996 e 2014 são de mulheres. Entretanto, a presença delas na docência em universidades saltou de 44,5% para 45,5%.  Ou seja, cresceu apenas 1% em 18 anos.

Motivos

Entre os principais motivos para a desigualdade, Suellen Peixoto aponta que o papel social “imposto” historicamente sobre as meninas. 

“A nós mulheres foram impostos papéis sociais que não foram divididos de maneira equitativa com os homens, então, tudo isso acarreta em sobrecarga. E, claro, essas meninas são colocadas muito cedo para cuidarem de irmãos, para cuidar dos afazeres da casa e isso não é destinado da mesma forma aos meninos, a essa cultura de criação dos meninos”, argumenta.

Os dados mostram que mesmo alcançando mais formação, as mulheres continuam ocupando menos espaço em cargos de docência e liderança. Suellen Peixoto, então, exemplifica uma das causas com a própria história. “No meu caso, que sou uma recém-mãe, a maternidade pesou de uma maneira absurda dentro da minha pesquisa”, conta. 

“Enquanto pesquisadora, mãe e cientista, eu tenho uma dificuldade muito maior do que todos os outros homens, por exemplo, que estão fazendo a mesma coisa que eu. Eu preciso conciliar o tempo com a maternidade, com o trabalho fora de casa e o tempo da pesquisa e o tempo de fato que demanda para essa carreira que eu quero seguir, porque tudo isso é historicamente construído como papéis sociais definidos”, afirma.

Mudança para o futuro

A pesquisadora destaca que os aspectos históricos dos papéis sociais definidos “deixam um peso muito grande nas mulheres”. Portanto, Suellen Peixoto que dedica-se ao estudo de gênero e educação, argumenta que a mudança para o futuro das meninas encontra-se, primeiro, nas políticas públicas. 

“O primeiro ponto é tensionar as políticas públicas. As pesquisas, a ciência e a academia de uma forma geral tem a função política de fazer esse papel”, aponta. A partir dos problemas expostos, ela diz: “Agora nós vamos pensar em estratégias e possibilidades para que esse cenário mude”, finaliza.   

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 4 – Educação de Qualidade e o ODS 05 – Igualdade de gênero.

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