Um estudo aponta que a Amazônia é a floresta que apresenta maior média de temperatura do planeta, inclusive se comparada às da Ásia e África. Uma das preocupações é com a perda do carbono concentrado nessas áreas, como explica o pesquisador e Chefe da Divisão de Sensoriamento Remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luiz Aragão.

“A florestas são um reservatório de carbono, e o carbono é o principal gás de efeito estufa, que faz aumentar a temperatura terrestre e com consequências múltiplas para o funcionamento da sociedade como um todo. Outra coisa é que a floresta regular o ciclo hidrológico, e assim permite com que a chuva chegue em áreas produtivas do país”, argumenta.

De acordo com Luiz Aragão, a temperatura média da floresta amazônica está perto do limite. “Se a temperatura média máxima do planeta Terra ultrapassar 32 graus, existe uma grande chance de áreas dessas florestas começarem a perder esse carbono. Essa perda de carbono amplifica esse efeito da mudança climática. Para se ter uma ideia, a temperatura média da Amazônia é 26 graus”, afirma.

A conclusão foi obtida por meio de um megaestudo, envolvendo dezenas de pesquisadores de vários países, integrou dados de 590 áreas florestais permanentes, distribuídas pela faixa tropical do planeta. As conclusões foram publicadas na revista Science, no artigo Long-term thermal sensitivity of Earth’s tropical forests.

Para que as florestas tropicais possam se adaptar às mudanças climáticas é preciso que a temperatura global não exceda o limite de dois graus acima da temperatura da época pré-industrial, conforme a meta fixada no Acordo de Paris. E que, localmente, a temperatura da área florestal não ultrapasse 32,2 graus.

“A floresta tem uma resistência até certo ponto, mas a partir do momento em que o ecossistema atinge esse limite, o processo de degradação acontece em uma taxa muito rápida”, alerta.

Segundo Luiz Aragão, o planeta já passou antes por temperaturas elevadas, mas essas mudanças naturais foram processos de longo prazo, que possibilitaram que as espécies se adaptassem. As mudanças atuais, de origem antrópica, são tão rápidas que muitas vezes não permitem adaptação.

Confira a entrevista a seguir com Luiz Aragão, a partir de 01:30:00