A pouco mais de 1 ano das próximas eleições estaduais e federais, um estudo publicado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, mostra que o desmatamento na Mata Atlântica tende a aumentar em anos eleitorais.
Os cientistas analisaram os dados de supressão do bioma entre 1991 e 2014 e, após excluir a influência de outros fatores, concluíram que cerca de 4 mil hectares foram desmatados a mais, em média, nos anos em que foram realizadas eleições, em comparação com os não eleitorais.
De acordo com a pesquisa, o tamanho do efeito varia de acordo com o tipo de eleição. Em anos de pleitos federais e estaduais, houve um acréscimo de 3.652 hectares na área desmatada do bioma, em média, e de 4.409 hectares, em anos de eleições municipais. O impacto se agrava nos anos em que o partido governante é candidato a reeleição ou quando há uma coligação dos partidos governantes nas diferentes esferas de governo — municipal, estadual ou federal.
“O que a gente observou é que ambas as eleições têm efeito sobre o desmatamento. Quando a gente tem uma situação em que a dinâmica de desmatamento no município é bem intensa, então as eleições estaduais e federais tiveram mais influência. Quando ainda não é tão intenso, as eleições municipais tiveram mais influência” afirma a pesquisadora Patrícia Ruggiero, em entrevista ao Sagres Em Tom Maior #303 desta terça-feira (6).
Confira a entrevista a seguir
O estudo estabelece uma correlação estatística de causalidade entre ciclos eleitorais e oscilações nas taxas anuais de desmatamento, sem necessariamente desvendar os mecanismos por trás desse fenômeno — que são objeto de uma próxima etapa da pesquisa. Mas os pesquisadores têm uma boa ideia do que pode estar por trás disso.
Uma das principais hipóteses é que haja um aumento na concessão de créditos e licenças para a prática de atividades que envolvam desmatamento, como agropecuária, obras de infraestrutura e empreendimentos imobiliários, com o intuito de agradar setores que sejam importantes do ponto de vista eleitoral.

Segundo Patrícia Ruggiero, também é possível que alguns desses setores se aproveitem desses períodos eleitorais para desmatar com maior chance de impunidade.
“A gente não descarta uma terceira hipótese que é a de quem desmata tenha uma percepção de que talvez seja “um bom momento” já que as instituições e os gestores estão ocupados com o ano eleitoral. Esta é uma segunda etapa deste estudo, estamos entrando nessas investigações”, afirma.
A boa notícia, segundo os pesquisadores, é que esse efeito das eleições foi diminuindo ao longo do tempo, praticamente desaparecendo nos últimos anos do período analisado (de 2007 a 2014); um fenômeno que os pesquisadores atribuem ao “amadurecimento democrático” e à consolidação das leis de proteção ambiental no País, com destaque especial (neste caso) para a Lei da Mata Atlântica, de 2006.
A má notícia é que não há nenhuma garantia de que ele permanecerá assim, especialmente no contexto atual de instabilidade política e desmanche das leis federais de proteção ambiental no Brasil — entre elas, a Lei de Licenciamento Ambiental, cuja flexibilização poderá ter um impacto expressivo nas taxas de desmatamento de todos os biomas nacionais.
“A ideia agora é investigar outros biomas e explorar mais as evidências desses mecanismos”, argumenta Ruggiero sobre os próximos passos da pesquisa.

Com informações do Jornal da USP