A crise climática em países ricos pode resultar em escassez de alimentos e aumento da violência, conforme alerta um estudo. Diante do agravamento deste cenário, é fundamental que os governos atuem na criação de sistemas alimentares mais resilientes, capazes de se recuperar de diversas formas de choque e, ao mesmo tempo, garantir o fornecimento de alimentos, minimizando os riscos à segurança pública.

Essa é uma das principais conclusões de uma pesquisa realizada no Reino Unido, envolvendo 58 especialistas representando diversos setores, incluindo a indústria alimentícia, academia, governo e organizações não governamentais.

Os entrevistados expressam preocupação de que períodos de escassez alimentar possam desencadear distúrbios, insegurança e violência. A pesquisa identificou que, em um horizonte de até 10 anos, mais de 40% dos especialistas consideram esse cenário como “possível” ou “mais provável”. Em um prazo mais estendido, de até 50 anos, cerca de 80% dos especialistas compartilham dessa visão, apontando eventos climáticos extremos como a causa mais provável.

Embora a pesquisa tenha focado no Reino Unido, as condições identificadas nesse país são semelhantes em outras nações. Países que dependem fortemente da importação de alimentos e cujas cadeias de abastecimento estão orientadas para a eficiência, com foco na conveniência e rapidez, em detrimento da resiliência, enfrentam riscos semelhantes. No Reino Unido, por exemplo, quase metade dos alimentos consumidos são importados, incluindo 50% dos vegetais e 80% das frutas.

Passado

Os pesquisadores, liderados por Aled Jones, do Global Sustainability Institute da Universidade Anglia Ruskin, e Sarah Bridle, do Departamento de Meio Ambiente e Geografia da Universidade de York, lembram um episódio ocorrido em 2007.

Naquele ano, uma combinação de secas, enchentes e ondas de calor na Austrália, Índia e Estados Unidos reduziu a produção global de cereais em 8%. Isso, juntamente com baixos estoques, especulação e o aumento dos custos de fertilizantes, resultou em um aumento de mais de 100% nos preços dos cereais e levou a distúrbios alimentares em mais de 30 países.

Para fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares em todo o mundo, os pesquisadores propõem várias frentes de atuação. Isso inclui a necessidade de governos e empresas investirem na melhoria da resistência do sistema, na recuperação de solos degradados, na proteção de polinizadores, na promoção de condições de trabalho mais seguras na cadeia de abastecimento, na adoção de práticas de cultivo sustentáveis, no estímulo ao cultivo de uma variedade de culturas resistentes e diversificadas, na utilização mais eficiente dos recursos e na criação de sistemas de reserva para o armazenamento e distribuição de alimentos em situações de emergência.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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