Um estudo recente publicado na revista Communications Earth & Environment em março revelou que o aumento da temperatura global e ondas de calor podem desencadear um aumento na inflação de alimentos em até 3,2% ao ano até 2035. Especialistas alertam que esse aumento na inflação geral pode chegar a 1,18% anualmente, considerando outros produtos.

Essas projeções econômicas foram discutidas durante o Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, ocorrido em 1º de abril e transmitido ao vivo no YouTube.

“A relação entre economia e clima é muito complexa, talvez um dos problemas mais complexos que experimentamos até hoje. Os processos naturais têm relação com diversas áreas da economia: agronegócio, indústria, serviços, governo, instituições e políticas públicas que desenhamos. E é uma via de mão dupla: afetam e são afetados pela mudança do clima”, resumiu Ariaster Chimeli, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), durante o evento.

Desafios

Jean Ometto, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), ressaltou os desafios significativos que as mudanças climáticas impõem à economia.

“Esses desafios passam pela mitigação da mudança do clima em particular, mas também pela adaptação aos eventos que advêm da dinâmica climática que vem mudando o planeta. Isso, obviamente, requer medidas, seja de mitigação, seja de adaptação, transversais à questão econômica, de financiamento, e à questão legal”, disse na abertura do seminário.

Annelise Vendramini, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (Eaesp-FGV), destacou que o clima apresenta dois grupos de risco econômico. Um deles é representado pelos riscos físicos, como chuvas intensas e secas, que podem afetar empresas, setores e regiões específicas.

“Um exemplo é o Canal do Panamá, por onde passa 5% da economia global e 40% das exportações dos Estados Unidos. As secas causadas pelas mudanças climáticas estão impossibilitando parte do seu funcionamento”, exemplificou.

Baixo carbono

Além disso, Vendramini apontou o risco econômico associado à transição para uma economia de baixo carbono. Ela enfatizou o papel crucial das políticas públicas em estabelecer regras claras que sinalizem essa transição, proporcionando segurança para investidores e instituições financeiras.

Essas medidas são essenciais para atrair capital e impulsionar uma mudança para uma economia mais sustentável.

“Outro elemento importante é retirar alguns entraves já existentes que estão impedindo a chegada de recursos para essa agenda no Brasil, como, por exemplo, instabilidade jurídica, monetária e política, elementos muito importantes não só para a obtenção de recursos futuros, dos projetos que ainda não temos e queremos executar, mas principalmente para aqueles que temos hoje, que já teriam condições de estarem recebendo esses montantes”, afirmou.

Legislação

Para Ana Maria Nusdeo, professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FD-USP), existem algumas abordagens que a legislação poderia tratar. Uma delas é o estabelecimento de uma política abrangente sobre o tema, uma vez que há grandes necessidades de transição para processos de baixo carbono, mitigação e adaptação às mudanças climáticas. “Também ficou claro que o tema tem diversas camadas e essa capilaridade vai demandar normas específicas para setores específicos e, eventualmente, localidades específicas.”

A pesquisadora lembra que o Brasil tem uma Política Nacional sobre Mudança do Clima, e o Estado de São Paulo, uma política estadual, ambas de 2009 (a estadual foi regulamentada em janeiro de 2024 por decreto). De lá para cá, argumenta, muito mudou, tanto as transformações no clima se acentuaram como mudaram os compromissos assumidos pelos países, como o Acordo de Paris, de 2015.

“Essas leis estão desatualizadas e existem comissões em torno de sua atualização. O que é importante sobre elas é que uma lei abrangente teria a função de estabelecer princípios, diretrizes, objetivos, mas também instrumentos, inclusive financeiros.”

Como exemplos, a pesquisadora citou Chile e Portugal, que criaram leis em matéria climática que preveem instrumentos financeiros, estabelecendo regras, determinando as atividades consideradas positivas nas mudanças climáticas e que, portanto, têm prioridade no financiamento público.

*Com informações de André Julião da Agência Fapesp

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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