Para quem não tem visão e só ouve o uivo. Para quem não ouve e só enxerga o ranger dos dentes. Para quem tem todos os sentidos em ordem. Todos os três indivíduos reagem da mesma forma, com o mesmo batimento cardíaco. Independente da forma como você concebe a figura de um lobo, ele é o mesmo para todos.

Um estudo feito por psiquiatras italianos, publicado na revista científica Nature em 16 de janeiro, mostrou a capacidade do cérebro se adaptar à ausência de algum sentido. O experimento, realizado ao longo de duas décadas, tem sido destacado pelo seu potencial de ajudar na inclusão de pessoas com deficiências.

Realizada por cientistas da Escola IMT de Altos Estudos de Luca em parceria com a Universidade de Turim, a pesquisa identificou atividade no lobo temporal superior – parte do cérebro responsável pelos aspectos sensoriais de audição, fala e memória – mesmo em indivíduos com privação sensorial e sem qualquer experiência audiovisual.

O estudo comprovou que o cérebro humano tem a capacidade de visualizar o mundo mesmo sem informações sobre imagens e sons, demonstrando uma capacidade inata de representar a realidade. Deficiente de algum sentido ou não, a realidade é a mesma para todos por conta da adaptação na interpretação do órgão.

Em entrevista à ANSA, o diretor do laboratório responsável por conduzir a pesquisa, Pietro Pietrini, ressaltou que “esse é um resultado importante, porque é mais um argumento para favorecer políticas de inclusão de deficientes. Quanto mais conhecemos o cérebro, mais percebemos que não existem motivos para discriminar as pessoas com deficiência”.

A pesquisadora Francesca Setti afirmou que “notamos uma alta similaridade na atividade sensorial em quem só vê ou só ouve”. O estudo teve a participação de pessoas cegas e surdas desde o nascimento e também contou com indivíduos sem deficiências. As reações foram registradas através de ressonância magnética funcional (RMF).

Emiliano Ricciardi, coordenador da pesquisa, apontou para a reportagem da agência italiana que “qualquer resposta cerebral em comum entre esses indivíduos é a indicação de uma função inata do cérebro, presente independentemente das experiências sensoriais ocorridas após o nascimento”.

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