Um estudo inovador da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) está trazendo novas perspectivas para a amamentação de mulheres vivendo com HIV. Atualmente, essas mães são orientadas a evitar amamentar para não arriscar a transmissão do vírus para seus bebês. No entanto, o avanço da terapia antirretroviral (Tarv) pode mudar essa realidade.

A pesquisa, conduzida por especialistas da Unirio, como Rafael Braga e Regina Rocco, revelou que, em 13 amostras de colostro de mulheres em uso da Tarv, o vírus HIV foi indetectável. O estudo, publicado na plataforma MedRxiv, pode levar à revisão das recomendações de amamentação para mulheres com HIV no Brasil.

Com a autorização do Ministério da Saúde, o estudo foi realizado no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (Hugg), que conta com alta tecnologia para exames de biologia molecular. Entre as 16 amostras analisadas, apenas uma apresentou carga viral detectável, proveniente de uma paciente que havia interrompido o tratamento.

“Pedimos para colocarem, na rotina deles, a análise do colostro, mas não existia protocolo no mundo para colostro. Então, tivemos que desenvolver a metodologia para poder fazer o colostro ficar suscetível à análise automatizada”, explicou Rafael Braga.

Políticas públicas

O impacto desse estudo pode ser significativo para as políticas públicas de saúde, especialmente no que se refere à contraindicação da amamentação por mães soropositivas. Com a demanda de leite materno excedendo a oferta, o estudo sugere a inclusão de mães com HIV que tenham carga viral indetectável entre as que podem amamentar, ajudando a suprir essa lacuna.

“Isso que elas vivem é um drama enorme, um problema social gigante. Custa cerca de R$ 1.600 para amamentar uma criança com substitutivo de leite durante seis meses”, afirmou Braga, destacando que a maioria dessas mães são mulheres de baixa renda.

Internacionalmente, diretrizes já mudaram. A Academia Americana de Pediatria, por exemplo, passou a permitir a amamentação de mulheres com HIV, desde que a carga viral seja mantida indetectável. Estudos na Alemanha e Bélgica corroboram essa decisão, demonstrando que mulheres sob Tarv não transmitiram o vírus para seus filhos após 18 meses de acompanhamento.

Expectativa

O Ministério da Saúde está em contato com a equipe de pesquisadores para expandir o estudo para um formato multicêntrico, envolvendo outras instituições públicas. A expectativa é que o estudo seja finalizado até o próximo ano, potencialmente revolucionando as diretrizes de saúde e ampliando os direitos das mães vivendo com HIV no Brasil.

“Estudos clínicos já indicam que a proibição total do aleitamento por mães que vivem com HIV é ineficaz na prevenção da transmissão e, ao contrário, reforça o estigma e a discriminação contra pessoas vivendo com o vírus.Para as mulheres, que já enfrentam múltiplas camadas de opressão, essa criminalização pode ter consequências ainda mais devastadoras, tanto para a sua saúde quanto para os seus direitos reprodutivos”, explicou a pesquisadora.

“A maioria dos estudos que a gente tinha até hoje sobre esse tema só incluíam países de baixa renda, como a Índia e nações africanas. A partir do momento que houve a discussão dos direitos das mulheres em países europeus, começou a ser questionado até que ponto a gente não está falando de segurança e, sim, de um preconceito em relação a essa transmissão vertical”, explicou Barbosa. “Calculamos que, para o resultado ter uma confiabilidade de 95%, a gente precisa de 29 participantes nesse projeto”, explicou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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