CLAYTON CASTELANI / SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou nesta quarta-feira (2) a sua taxa de juros pela sexta vez em 2022, sendo que este é o quarto aumento seguido de 0,75 ponto percentual. Agora, a taxa de referência dos Estados Unidos avança para um patamar entre 3,75% e 4% ao ano.

O ritmo de aceleração dos juros é o mais rápido no país em mais de quatro décadas e, além disso, antes de junho deste ano, a última vez que a taxa tinha subido em 0,75 ponto foi em 1994.

Essa sequência de aumentos, considerada muito agressiva para o padrão americano, acontece devido à necessidade de frear a maior inflação no país em mais de 40 anos.

O índice de preços ao consumidor americano acumula alta de 8,2% em 12 meses até setembro, depois de ter subido 8,3% em agosto e ter atingido um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço do custo de vida desde novembro de 1981. São patamares muito superiores à meta de 2% para a inflação anual do país para 2022.

Tornar o crédito mais caro é a maneira mais impactante adotada pela autoridade monetária para retirar dinheiro de circulação.

Essa é normalmente a principal medida adotada por bancos centrais na tentativa de frear a inflação que avança em diversas partes do mundo.

A aceleração dos preços em escala global teve início neste ano ainda como reflexo das falhas no abastecimento provocadas pela pandemia, problema que se tornou ainda mais grave com a Guerra da Ucrânia, que tornou ainda mais caros os preços do petróleo e derivados para a produção de energia e dos alimentos.

Nos Estados Unidos, o comitê responsável pela política monetária do Fed, mais conhecido pela sigla Fomc, vem aprovando elevações da taxa do banco central do pais desde março, quando o indicador estava praticamente zerado.

Existem receios, porém, de que o custo desse aperto monetário será uma grave desaceleração da atividade econômica em escala mundial.

Entre os efeitos de uma recessão estão a ausência de crescimento das empresas, aumento consistente do desemprego e queda exagerada do consumo.

Sem perspectiva de crescimento das empresas, investidores tendem a abandonar os mercados de ações para buscar ganhos na renda fixa. A mais segura delas é a americana, onde os títulos do Tesouro tendem a ficar mais atraentes com os juros mais altos.

O movimento de dólares em direção à renda fixa americana também torna a moeda escassa em outros países. O dólar ficou mais caro neste ano, na comparação média com as principais moedas.

Entre os indicadores que demonstram a expectativa de elevação dos juros do Fed estão os rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Para entender isso, porém, quem não está familiarizado com mercado de juros precisa compreender antes a matemática por trás da frase: os rendimentos sobem quando os preços dos títulos caem.

Quando investidores esperam que a taxa do banco central irá subir, eles vendem títulos derivativos dos juros de referência do país. Eles o fazem porque o valor desses papéis, que é previamente fixado até a data do vencimento, tende a ficar menos vantajoso em comparação à futura taxa do Fed.

Quem compra paga um preço menor do que o valor inicial do título. Mas esse papel continuará a oferecer o mesmo rendimento inicialmente contratado. O rendimento proporcional, portanto, fica mais alto.

Ou seja, se um título no valor de US$ 1.000 paga US$ 40 de retorno ao ano para o investidor, o rendimento anual dele é de 4%. Mas se ele é negociado no mercado por US$ 900, o novo dono desse título continuará recebendo US$ 40 ao ano até o vencimento. Nesse caso, porém, esses US$ 40 representam um rendimento de quase 4,5% sobre o preço de US$ 900. O rendimento subiu porque o preço caiu.

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