A população mundial chegou recentemente a 8 bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Houve acréscimo de 1 bilhão de pessoas no planeta em 11 anos. China e Índia seguem como os países mais populosos do globo. Mas já pensou o quanto esse crescimento representa risco ao meio ambiente?

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O ambientalista e geógrafo, professor Márcio Manuel Ferreira, explica como esse impacto acontece. “Quanto mais habitantes temos, maiores as demandas de alimento, de solo, de água, de cobertura vegetal, mais vamos impactar a fauna e a flora porque quando você desmata, você compromete também os animais”, afirma.

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Conforme estimativa da ONU, 5 bilhões de pessoas ficarão sem água até 2050 pelo menos durante um mês ao longo do ano. É essa falta de água que mais preocupa, segundo Márcio Manuel Ferreira.

“Todos os rios existentes no planeta, tanto os superficiais quanto os subterrâneos, lençóis freáticos e aquíferos já são conhecidos pelo ser humano. Para piorar, nós temos 97% da água do planeta salgada, que ninguém usa para beber, a não ser que você faça a dessalinização, e 3% de água doce. Só que esses 3% de água doce, 2,13% está em formato de gelo, é água sólida. Então, sobra um percentual muito pequeno de água que não é formato de gelo. O pouco que sobra em líquido nem toda ela é superficial, boa parte é subterrânea. Outro problema, mesmo a água superficial e subterrânea que sobra, grande parte está poluída”, analisa.

Uma das soluções para frear a falta d’água pode vir do campo, especialmente da irrigação. “Temos um problema muito sério de água, principalmente os países que estão em áreas áridas. Imagine os países do Oriente Médio? Arábia Saudita, Iêmen, Irã, Iraque, Turquia, países do norte da África, onde está o deserto do Saara, a Líbia, o Egito, Marrocos. Então, são países que já sofrem muito com isso. O que eu sugiro, para minimizar isso: parar de usar pivô central para irrigar. O que mais gasta água no planeta? Uso do pivô central. Substitui por sistema de gotejamento. Estaremos criando uma solução para o problema da água”, argumenta.

Ranking mundial 

Com cerca de 215 milhões de habitantes, o Brasil, no entanto, tende a perder posições no ranking dos países mais populosos do mundo até 2030. De acordo com a ONU, o país deve cair para sétimo lugar, atrás de Nigéria, Paquistão, Indonésia, Estados Unidos, Índia e China. É o que avalia o ambientalista e especialista em Planejamento Urbano e Ambiental, Gérson Neto.

“No Brasil, a gente já tem menos de 2 filhos por mulher, em média, isso quer dizer que nossa população já está em vias de começar a decrescer. Nos Estados Unidos a mesma coisa. Na Europa, a natalidade é tão baixa que existem países querendo dar incentivos para as pessoas terem filhos, porque quando você não tem novas crianças nascendo, você gera um problema de economia”, e completa: “A população economicamente ativa cai e a população que já se aposentou, que precisa da produção dessa população economicamente ativa, começa a pesar dentro da balança econômica dos países”.

Alimentação sustentável

Para Gérson Neto, entretanto, para que o meio ambiente sofra menos com o crescimento populacional, é preciso mudar a forma como as pessoas se alimentam. Para que isso ocorra, é necessário investimento em políticas públicas em novos modelos de cultivo, como na agricultura.

“Existe a possibilidade de fazer fazendas verticais, por exemplo, no cultivo de hortaliças isso já é muito tranquilo, com hidroponia você pode fazer uma fazenda vertical, que é uma parede ou uma coluna, um em cima do outro, e você cria um processo, ocupa pouco espaço a produção desse tipo de alimento”, avalia o especialista.

Fazenda hidropônica vertical (Foto: Pexels/Jatuphon Buraphon)

Gérson Neto aponta ainda que a agricultura precisa ser repensada, especialmente nos espaços urbanos, ainda que essa forma não venha a superar as atividades realizada nas zonas rurais. Ouça a entrevista a seguir

“A gente come poucos fungos, cogumelos, uma série de alimentos que poderiam diversificar nossa base alimentar e ser produzidos nas cidades. A gente tem muito o que evoluir e avançar, inclusive com esse cuidado maior de diversificar a produção de alimentos. Essa simplificação do cardápio alimentar mundial, não é só do Brasil, coloca todo mundo na mão dessas commodities internacionais, arroz, trigo, milho, que precisam de grandes extensões de áreas a serem produzidas”.

De acordo com o ambientalista, o maior desafio para simplificar o cardápio da população mundial é a democratização da produção. Um primeiro passo seria o maior incentivo aos pequenos produtos e à agricultura familiar.

“Hoje a produção de alimentos está concentrada na mão de pouquíssimas empresas multinacionais. Você vai ao supermercado, faz uma compra, enche seu carrinho, e 50%, 60% de tudo que você compra vem de 10, 12 empresas”, afirma Gérson Neto. “São as mesmas empresas que dominam esse carrinho de supermercado no mundo inteiro. A pequena produção, essa que vem das feiras, dos mercados locais não consegue chegar até a casa das pessoas”, complementa.

Recursos naturais

Sustentabilidade e preservação dos recursos naturais devem caminhar juntos. Um exemplo dessa prática pode ser encontrado aqui mesmo, no Cerrado goiano. A bióloga Maiara Francielle coordena o programa Juntos Pelo Araguaia, executado pelo Instituto Espinhaço na região da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Araguaia, no qual é feita a recuperação de nascentes, Áreas de Preservação Permanente (APPs) e áreas de recargas hídricas, por meio da recomposição florestal com o plantio de mudas nativas do cerrado, além de ações de conservação do solo.

“Nosso objetivo é incentivar o desenvolvimento socioambiental, com base em iniciativas educacionais, e engajar os produtores rurais para que eles entendam que é possível produzir e preservar o meio ambiente ao mesmo tempo”, conta.

A bióloga Maiara Francielle (Foto: Arquivo Pessoal/Instagram/@maiarafran)

Para a bióloga, a população não pode ficar alheia às medidas de conservação dos recursos naturais. “A conscientização da população sobre os cuidados com esses recursos é fundamental para garantir a sustentabilidade”, pontua. “Os recursos naturais são esgotáveis e, por isso, precisamos repensar, reduzir, reutilizar e reciclar sempre mais. É fundamental reavaliar nossas atitudes e a necessidade de consumirmos produtos em excesso, prezando pela reutilização de forma consciente”, reforça Maiara Francielle.

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